domingo, 30 de janeiro de 2011

Feliz Dia dos Quadrinhos!

Por Gabriel Guimarães
Sei que estou um pouco atrasado, e espero terminar a matéria antes da meia-noite, porém, venho aqui dar sinceros parabéns e desejar tudo do melhor aos admiradores da nona arte neste dia 30 de janeiro, dia das histórias em quadrinhos.

Seja você um leitor de mangá, de quadrinhos de heróis, de graphic novels européias, de tirinhas e histórinhas em estilo cartum, este dia visa homenageá-lo, e a tudo que esse meio de comunicação representa: uma união de credos, raças, classes sociais, culturas, pessoas. Tendo sua origem encontrada em formas de abordar o convívio entre as diferentes culturas que formavam os bairros no começo do surgimento das grandes metrópoles, os quadrinhos sempre foram ferramenta de integração, e assim permanecerão por toda a sua existência.

Fosse levando o leitor para fora do mundo, mostrando-lhe universos com os quais ele nunca tinha tido contato antes; ou para dentro de si mesmo, numa jornada de auto-conhecimento e análise de forma profunda e sensível, a arte sequencial ficou marcada na vida de muitas pessoas. Para uns, mais, para outros, nem tanto. Mas ficou marcada de alguma forma, isso é uma certeza.

Com os anos, o reconhecimento e a admiração a essa bela forma de arte vêm crescendo, graças a muito trabalho duro e dedicação de todos os envolvidos no processo de uma história em quadrinhos (que vai desde o roteirista que tem a ideia até o leitor quando lê o trabalho já finalizado - como destacou o quadrinista Daniel Esteves em sua palestra na Rio Comicon de 2010). Fosse traçando linhas e mais linhas até criar um universo onde antes só existia uma folha em branco, ou gastando seu suado dinheiro depois de muitas horas de trabalho na compra de um gibi, você contribuiu para isso tudo. E por essas razões, parabenizo a todos, leitores, roteiristas, desenhistas, editores, arte-finalistas, coloristas, letristas, admiradores, etc.

As comemorações alcançaram a capital mineira, por exemplo, que organizou um evento no Bistrô Folha Gourmet, que acredito ter atraído muitas pessoas. Infelizmente, não pude estar presente, mas quem sabe ano que vem, não nos esbarremos por lá? Com certeza não deixarei de narrar todos os passos do evento aqui no blog caso isso se confirme, tal qual fiz para a cobertura da Rio Comicon do ano passado.

Meu prazo está estourando, então, encerro aqui essa matéria comemorativa mais uma vez parabenizando a todos, e agradeçendo, porque nada do que tem se conquistado para os quadrinhos seria possível sem você, fiel admirador da nona arte.

Tudo de bom e muitos quadrinhos para todos vocês!

domingo, 23 de janeiro de 2011

1º Colocado: Quadrinhos.com

Por Gabriel Guimarães

Hoje, chegamos à última parte da série de reportagens especiais produzidas pelo blog sobre os acontecimentos que mais marcaram a nona arte na primeira década do século XXI, e muitos me perguntaram ansiosos qual ítem teria tamanha importância a ponto de deixar em posições mais baixas na lista o excelente relacionamento dos quadrinhos com o cinema (abordado há poucos dias aqui no blog), ou a criação da turma da Mônica Jovem (analisada aqui no blog um pouco antes), ou mesmo a compra da Marvel pela Disney (acontecimento que já foi discutido aqui no blog também). Entretanto, acima desses eventos que, sim, foram muito importantes para os quadrinhos, esteve a forma como os quadrinhos reagiram ao que só pode ser chamado de revolução digital pela qual o mundo e a sociedade passaram nessa década. Que essa década foi absurdamente marcada pelo desenvolvimento desenfreado dos recursos tecnológicos, ninguém pode negar. Mas, de que forma esse fator que predominou na década afetou as histórias em quadrinhos, exatamente?

Todo meio de comunicação depende essencialmente de um elemento, que o próprio nome já diz: comunicação. O que supõe, claro, que deve haver um produtor de informação e um receptor de informação. Uma comunicação é bem sucedida quando a mensagem criada pelo produtor chega e é compreendida de forma correta pelo receptor, o que pode parecer óbvio. Nesse percurso da mensagem, há o que muitos comunicólogos chamam de ruídos, que são interferências externas que alteram a interpretação e decodificação das linguagens através da qual a mensagem é contruída e recebida. Isso pode parecer redundante, irrelevante até para os leitores de quadrinhos em geral, porém, sem a compreensão desse processo, como seria possível realizar qualquer ato comunicativo, como pretendem as histórias em quadrinhos?

A sociedade foi constituída em cima desses pilares, e é através deles que a cultura dos quadrinhos se disseminou. No começo da produção dos quadrinhos nos grandes centros urbanos, a divulgação e comércio de histórias era feita quase que única e exclusivamente através da comunicação boca a boca, onde, por exemplo, um garoto que recebesse do pai um gibi do Batman, o lesse, e gostasse, passava a ele próprio propagandear o material aos seus amigos, garantindo dessa forma tão despretensiosa o crescimento na venda das revistas em quadrinhos. Não se trata de um exagero essa minha afirmação, pois não proponho que um só garoto foi o responsável pela construção de um meio de comunicação, proponho que essa sequência de ações ocorriam em larga escala, de uma forma tão exponencialmente representante, que foi a partir muitas vezes desse processo que os quadrinhos começaram a serem conhecidos e comprados.


Com o tempo, a televisão, o cinema e o rádio se desenvolveram e passaram a ser os principais meios através dos quais qualquer forma de comunicação era divulgada, como revistas e livros, seguindo simplesmente a ordem natural dos eventos. Chegamos à última década seguindo nesse panorama.

McLuhan, reconhecido estudioso dos meios de comunicação acreditava que estes seriam formas de extensão do homem, onde uma câmera filmando uma reportagem do outro lado do mundo em que se encontrava o espectador nada mais era que uma expansão do sentido da visão inerente ao homem, o rádio, seria a expansão da audição, e assim por diante. Nessa última década, um meio pelo qual a informação se dava se destacou de forma mais exacerbada que os demais: a internet. Ela reduziu distâncias, representou mudanças político-sócio-temporais em todas as sociedades ao redor do mundo. E os quadrinhos não poderiam, jamais, deixar de serem afetados por ela.

O grande acontecimento que afetou as histórias em quadrinhos na década, afirmo, foi a resposta dos quadrinhos à adesão global da internet e dos meios tecnológicos. A internet levou a uma inclusão global que poucos sonhavam nas décadas antes de seu surgimento e afirmação, permitiu uma divulgação de conteúdos em uma proporção muito além do que a va imaginação humana é capaz de pensar.Uma palavra jogada errada num twitter, hoje, em um ponto do globo pode levcar a represálias e conflitos físicos em pontos geograficamente distantes, só para supor um exemplo. Quando se pensa nas novas dimensões em que uma produção artística exposta online pode ter hoje, começa-se a perceber a razão de eu ter posto esse evento no topo da lista da década.

Com a internet, ocorreu um aumento estrondoso no número de artistas que publicavam seu material de quadrinhos. Reduzindo consideravelmente uma das grandes dificuldades que os artistas encontravam, que era procurar uma editora que estivesse disposta a publicar uma tiragem em papel de suas obras (o que não era nada fácil, especialmente para quem fazia quadrinhos, já que as editoras, em geral, só arriscam uma publicação assim quando sabem que haverá uma resposta economicamente viável do público, o qual na realidade, não era garantido), a internet se mostrou uma ótima solução para eles, que começaram a correr em direção ao mercado digital com suas tramas e enredos que eram guardados na gaveta. Com isso, o número de produtores de quadrinhos explodiu, e acabou levando junto o número de leitores.

A propaganda passou a ser feita também sem um custo fixado, como em jornais, revistas ou outdoors, o que facilitou aos novos autores anunciar suas histórias em blogs, sites de relacionamento, chats ou em fóruns. Um dos primeiros a entrar no mercado digital no Brasil foi Fábio Yabu, com sua história "Combo Rangers", que fazia uma série de referências ao universo cultural em que os leitores habituais de quadrinhos já estavam inseridos, e, através disso, levou a uma ótima resposta quanto ao número de leitores e reconhecimento na área. Para auxiliar na divulgação desse material e manter a comunidade leitora da nona arte em contato com todas as notícias e novidades das editoras mais conhecidas e dos personagens mais admirados, surgiram os sites de informação de quadrinhos, como o Omelete, o Universo HQ (que completou onze anos esse mês, mas que se estabilizou apropriadamente na década e que foi parabenizado quando completou dez anos de existência já aqui no blog), além dos estrangeiros Comics Should Be Good, Bleeding Cool, entre centenas de outros.


A forma como a informação era transmitida aos leitores de revistas mudou, e o próprio leitor mudou. Passou a dividir sua atenção entre o material impresso e o material digital, o qual oferecia toda uma diversidade de universos jamais vislumbrados antes por quem lia apenas as obras de tinta e papel. "O Homem-Grilo", do quadrinista Cadu Simões, as tiras hilárias do cartunista Will Leite, "Sin Titulo", do estreante Cameron Stewart, e o blog dos gêmeos Fábio Moon e Gabriel Bá são alguns dos projetos interessantes que ganharam mais voz e destaque com a adoção do meio digital.

A internet também mudou os quadrinhos de uma forma que ainda é muito discutida: os limites do direito autoral. Não vou adentrar muito nessa discussão agora pois ela é extensa e não tenho enbasamento suficiente no momento para ter uma opinião definitiva sobre o assunto, que vai desde os creative commons até o download de HQs scaneadas. Entretanto, quero destacar apenas com isso que as grandes editoras perceberam que se não disponibilizassem, e logo, seu próprio material no meio online, iriam perder uma fatia enorme do mercado, além do risco que se concretizou em vários sites de terem seu material digitalizado por terceiros, que causava redução do público que consumia as revistas nas bancas de jornal. A partir dessa procura das grandes editoras, surgiram marcas como a Comixology, responsável pelo modelo em que foram e estão sendo expostas os quadrinhos da Marvel para aplicativos de Ipod, Ipad e celulares. Baseado num esquema semelhante, a DC também lançou no ano passado seu aplicativo de leitura digital (a digitalização dos quadrinhos das duas gigantes já foi discutida aqui no blog antes). Isso tudo tem revolucionado o mercado, que vê uma nova forma de distribuição de quadrinhos expandindo à sua frente de uma forma que não é possível controlar todas as suas ramificações.

Foram muitas mudanças, muito rápido, e, portanto, foi uma década MUITO agitada para os quadrinhos. Decorrendo de formas que nem grandes teóricos da área, como Scott McCloud, poderiam antever com detalhes, os quadrinhos vêem surgir um novo horizonte no futuro. Um futuro que se mostra um campo aberto, uma página em branco, para se criar e desenvolver toda sorte de mudanças nesse meio de comunicação, que surgiu de forma despretensiosa há mais de um século, e que cada ano cresce mais e mais, amadurescendo e expandindo todo o seu potencial, que ainda é grande demais para se compreender na atualidade. Não duvido que nos próximos anos, tudo sofrerá ainda mais mudanças do que as que ocorreram nessa década que terminou, e estaremos aqui para poder discutir todo desenrolar e avanço nesse meio artístico e único, como afirmou Ziraldo, que "tem a dinâmica que a leitura visual do século XXI exige".

Uma década terminou, outra se inicia, e a luta continua. Para o alto e avante, homens do amanhã, porque o amanhã se contrói hoje, e este é o tempo de vocês!

sábado, 22 de janeiro de 2011

2º Colocado: Quadrinhos nas Livrarias

Por Gabriel Guimarães

Por muitos e muitos anos, vários quadrinistas como Will Eisner lutaram para o reconhecimento das histórias em quadrinhos como forma de arte e como um meio de comunicação digno e honrado, porém sempre encontraram obstáculos nessa jornada, como o psicólogo Frederic Wertham, autor do livro "Seduction of the Innocent" em 1954 (obra jamais traduzida para o português, (in)felizmente), em que acusava as revistas em quadrinhos da época de serem a ferramenta através da qual a delinquência juvenil se propagava, alegando que jovens que se encontravam em internatos faziam os atos de vandalismo influenciados pelos personagens de quadrinhos que liam.

Essa crítica ganhou um alto coro das comunidades de defesa dos bons modos que existiam à época, compostas por donas de casas, educadores e psicólogos, que se preocupavam  com o bem estar moral das crianças. No Brasil, os artigos que eram escritos alertando para os riscos de expôr a classe juvenil aos modelos de comportamento dos gibis eram publicados de forma suntuosa em dezenas de periódicos como forma de atacar indiretamente o magnata da comunicação Roberto Marinho (como explicado aqui no blog alguns dias atrás).

Foi difícil fazer quadrinhos em grande parte do século XX, mas os autores persistiam em fazê-lo, trazendo a todos os leitores de seu material experiências memoráveis e que instruíam em boas virtudes, apesar do que muitos achavam. Alguns editores, como o russo-brasileiro Adolfo Aizen, tentavam mostrar o potencial educativo na arte sequencial através de edições luxuosas onde contava a vida de personagens ilustres da história brasileira e mundial, além de diversas edições e coleções especiais que lançava sobre os homens da Bíblia e modelos da fé cristã. Alguns de seus volumes tinham um acabamento tão bom e eram tão bem editadas e administradas, que uma grande parte do público considerava aquelas histórias como obra de arte e guardavam nas suas estantes ao lado dos livros que compravam nas livrarias.

Para entrar no tema que ocupa a segunda colocação na lista dos 10 maiores acontecimentos nas histórias em quadrinhos na década, é necessário revisitar o já mencionado Will Eisner. Uma vez, há muito tempo atrás, conforme ele dizia, as pessoas vinham lhe perguntar nas festas que ia qual era sua ocupação profissional, o que ele prontamente respondia como sendo desenhista de quadrinhos. Porém, percebendo a expressão de desgosto que os outros faziam quando dava essa resposta e como o seu meio era desconsiderado como meio de comunicação, Eisner cunhou um termo que hoje nos é parte do vocabulário básico dos leitores da nona arte: ele, para não causar choque ou desconforto nos outros e em si mesmo, passou a afirmar que era produtor de graphic novels (novelas gráficas). O seu reconhecimento cresceu assustadoramente, uma vez que ninguém sabia o que aquilo queria dizer de fato, mas soava muito bom. E, vale uma nota, foi Eisner a publicar a primeira graphic novel da história, "Um Contrato com Deus", em 1978.

Parece cômico, entretanto, passou-se a usar o termo eisneriano para qualificar toda obra que visasse ser reconhecida como material mais sério e não tanto infantil. Ele auxiliou na separação entre os quadrinhos adultos (que são mais associados a noções de pornografia e erotismo) das tirinhas infantis. Por muitos anos, contudo, não houve muitos exemplos de graphic novels para marcarem o gênero como elemento de referência no mundo, uma vez que a forma de conexão entre os espaços no mundo ainda não era tão desenvolvido como nos dias atuais. Na Bélgica, surgia Tintin, do quadrinista Hergé, e na França, começavam a serem publicados os belos trabalhos do desenhista Moebius, no entanto, não eram de fácil acesso ainda. No Brasil, as editoras ou não tinham recursos para trazer o material para cá e publicá-los na qualidade que eles careciam, ou não preferiam arriscar entrar no mercado que era sempre questionado de histórias em quadrinhos. A editora Abril, do italiano Victor Civita, procurou reverter um pouco isso com uma coleção que foi editada de janeiro de 1988 a junho de 1992, o que atraiu um público considerável. O Brasil começava a demonstrar interesse no gênero.

Então, chegamos à década que terminou há pouco. Já vindo sendo publicados há tempos no formato de livro, os quadrinhos europeus, desde a década de 1980, quando a cultura inglesa mudou o rumo dos quadrinhos no mundo, começavam a chamar a atenção do público, mas este acabava sendo frustrado pelo fato de não se publicarem os materiais de forma apropriada ou até de forma alguma aqui. Isso começou a mudar nos anos 2000. A publicação de "Persépolis", da autora iraniana Marjane Satrapi, originalmente publicada na França, que chegou ao Brasil pela editora Companhia das Letras, em 2004, é um bom exemplo disso. A série de mangás com a biografia do padrinho dos quadrinhos japoneses, Osamu Tezuka, também é uma publicação que chamou atenção, pela editora Conrad, ainda em 2003. E não parou por aí.

A editora Panini não pode ser esquecida aqui porque ela foi, talvez, um dos maiores gatilhos para que a publicação de graphic novels no Brasil começasse a ocorrer de forma tão acentuada como foi e ainda tem sido. Antes parte do repertório da editora Abril, os personagens da Marvel e da DC viveram décadas de muitas aventuras majestosas no modelo formatinho em que eram publicados. Porém, uma vez vendidas as tiragens das revistinhas na sua época de publicação, raramente era possível aos leitores que surgissem posteriormente encontrar o material para ler, sem ter que caçar em sebos ou lojas especializadas por ele, ou encontrar alguém em meio aos seus círculos de amizade particulares que possuísse as edições com a história que procurassem. Era desconfortável, desanimador. A Panini, compreendendo o modelo de publicação dessas histórias onde foram originalmente publicadas, ou seja, nos Estados Unidos, começou a inovar, lançando reedições de histórias clássicas dos personagens que eram feitas no exterior, aumentando assim a chance e o vigor dos novos leitores na sua atividade de ler quadrinhos.

"Lendas", arco de histórias publicado em 1986 com a Liga Justiça, "A Guerra das Armaduras", história publicada em 1987 nas revistas do Homem de Ferro, a clássica e essencial história da "Fênix Negra" protagonizada pelos X-men em 1979; são apenas alguns exemplos das histórias que foram republicadas e que deram fôlego aos novos leitores para compreender todo o percurso de seus personagens favoritos até o ponto em que estão hoje, e que foi possibilitado de chegar às mãos deles por edições especiais desenvolvidas pela editora Panini. A editora Mythos, com autorização da Panini, ainda foi responsável por trazer aos novos fãs dos heróis a brilhante reformulação do Superman pelas mãos de John Byrne e Dick Giordano, que ocorreu em 1986/1987 numa nova publicação em 2006.


E, seguindo no modelo criado após a publicação da minissérie original de "Watchmen" feito nos Estados Unidos, onde as editoras reuniam as edições que formavam um arco fechado e as republicavam num papel melhor com um acabamento mais fino para continuar lucrando com o material mesmo após ele deixar de ser inédito (como já foi mostrado aqui no blog), a Panini começou a fazer igual, republicando, por exemplo, "Homem-Aranha: Caído entre os Mortos" em 2007 (arco originalmente feito por Mark Millar com desenhos de Terry Dodson em 2004), sendo que este havia sido publicado nas edições 41 a 50 da série normal do Homem-Aranha pela mesma Panini poucos anos antes.
Observando a quantidade de graphic novels vendidas, a Panini começou a investir em acabamentos cada vez melhores, o que permitiu a republicação de histórias maravilhosas como "Terra X", "Marvels" e "Camelot 3000" com um acabamento de luxo dado a poucos livros no mercado, mas que, ainda assim, geravam um bom retorno financeiro à editora. Obviamente, ela não seria a única a ver essa oportunidade de ouro com a venda de quadrinhos em forma de livro.


As revistas se tornaram, então, quase uma linha secundária de se encontrar quadrinhos, uma vez que novas editoras como a Balão Editorial, a Gal Editora e a Barba Negra começavam a investir em material inédito da nona arte para publicação direto em livro. Editoras tradicionais já, como a Companhia das Letras, ainda foram além. A Cia. das Letras criou um selo individual de si mesma apenas para a fatia de mercado de quadrinhos com a qual lidava, e, a meu ver, foi talvez um dos maiores destaques da década, pelo repertório de histórias publicadas, pela qualidade do material em termos artísticos e físicos, pela diversidade que deu à abordagem de suas publicações (que iam desde o avassalador sucesso da juventude moderna "Scott Pilgrim" até republicações das obras do mestre Will Eisner, como "Nova York - A Vida na Grande Cidade" e "Ao Coração da Tempestade"; e Joe Sacco, com seu estilo único de jornalismo em quadrinhos visto em "Notas sobre Gaza").

Falei muito sobre obras estrangeiras lançadas aqui no Brasil, mas nessa revolução toda que temos visto (que tornou possível, pela primeira vez, realmente encontrar histórias em quadrinhos colocadas em pé de igualdade, em termos de importância, nas prateleiras de livrarias com grandes clássicos da humanidade), os autores brasileiros também foram muito beneficiados. Muitos começaram a ser, inclusive, procurados por editoras para lançarem seus trabalhos, uma vez que já demonstravam ter um público constante razoável em número para possibilitar uma tiragem nas gráficas, como foi o caso dos gêmeos Fábio Moon e Gabriel Bá, que fizeram a adaptação para a arte sequencial do clássico "O Alienista", de Machado de Assis, pela editora Agir em 2007, que é considerado por muitos como a melhor adaptação do gênero já produzida até agora. Danilo Beyruth, Celso Menezes, Felipe Massafera (estes três como já mencionei aqui antes quando falei do aumento da qualidade e quantidade dos quadrinhos nacionais), João Montanaro, entre outros, também são alguns dos autores que passaram a ter o trabalho publicado no formato livro e trazendo boas respostas às editoras que os lançaram.

Hoje, os quadrinhos ocupam, em média, uma estante nas maiores livrarias, mas o número de quadrinhos publicados como graphic novel só tem feito crescer, e não duvido de que o espaço que hoje é ocupado por livros específicos demais para encontrar mercado em alguns pontos do Brasil seja, muito em breve, "quadrinizado". Acho que Will Eisner, que faleceu em 2005, estaria orgulhoso do rumo que o setor está tomando, então, não querendo ser pretensioso ou nada do gênero, agradeço e presto minha homenagem a ele (que já havia feito uma vez antes aqui no blog), que deu início a todo esse processo pelo reconhecimento dos quadrinhos, e dedico tudo que tem se desenrolado desde então às suas batalhas iniciais no começo de tudo.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

3º Colocado: Pequenos Quadrinhos, Grandes Telas

Por Gabriel Guimarães

Hoje, começamos a contagem regressiva com os três grandes acontecimentos que marcaram os quadrinhos na década, e os ânimos começam a se exaltar. Na terceira colocação, um ítem que praticamente todos os quadrinistas e fãs de quadrinhos sabiam que, jamais, em hipótese alguma, poderia deixar de estar presente numa avaliação como a que estou fazendo aqui no blog: os quadrinhos no cinema.

Surgidos mais ou menos na mesma época, o cinema e os quadrinhos dispõem de muito mais elementos comuns do que normalmente se pensa. Na França e nos Estados Unidos do ano de 1895, grandes revoluções eram realizadas, criando "novos" meios de comunicação (o que de fato se reconhece como história em quadrinhos na história da humanidade merece uma nota aqui numa matéria posterior - fiquem atentos!) que causariam furor nas massas que se formavam nos grandes centros urbanos. Os irmãos Lumière são os responsáveis pela primeira exibição de uma película em movimento num café francês que chamou a atenção para todo um universo que se abria da imagem gravada, enquanto, do outro lado do oceano Atlântico, o desenhista Richard Outcault lançava nas páginas do jornal New York World sua mais nova ideia, sobre histórias contadas através de uma sequência de imagens desenhadas sobre personagens recorrentes num bairro multi-étnico da baixa Nova York chamada "Down Hogan's Alley". Fosse saindo de uma fábrica ou se relacionando com as outras culturas que eram os pilares da sociedade, ambos os meios de comunicação surgiram para mostrar a visão do novo operário, da nova mão com que se construía a sociedade.

O cinema foi crescendo de forma assustadora e, consigo, levou a fotografia como uma invenção científica que surgia à época a um patamar muito mais reconhecido. Ambas essas formas de se observar o mundo causaram toda uma quebra no paradigma das obras de arte. Não mais eram necessárias pinturas à óleo ou ter um espelho em casa (que era um dos maiores status de riqueza naqueles tempos) para que se tivesse condições de criar uma imagem de si mesmo para o mundo. Esses dois meios artísticos e comunicativos trouxeram esse direito para um número muito maior de pessoas do que os que o tinham antes.

Ainda assim, os desenhos que passavam a ser publicados cada vez com mais regularidade nos jornais americanos continuaram a crescer em termos de popularidade e procura. Os desenhos, com seu tom crítico e cômico, atraíam pessoas das mais distintas classes, gêneros e credos.

Ambos cresceram, atingiram novos estilos, criaram novas categorias, onde abordavam seus próprios recursos inerentes com suas propriedades únicas. O cinema começava a mostrar seus dramas, aventuras e romances ao mundo todo, enquanto os quadrinhos traziam à imaginação dos leitores heróis que combatiam o mal vindos dos mais longínquos pontos do universo, como o Fantasma, o Tarzã ou o Superman. E, por mais que fossem duas vertentes diferentes, ambos sempre tiravam algo de importante do contato de seus autores com o outro meio artístico em si. Will Eisner, por exemplo, sempre reforçava a importância da narrativa cinematográfica como elemento influenciador em suas histórias, como a que observou no filme "Cidadão Kane", de 1941.

Nessa década em questão, inclusive, é que começaram a surgir as primeiras fusões dos conceitos criados nesses dois meios de forma mais acentuada, com a série para televisão do personagem da DC comics, Batman, em 1943. Antes, em 1936, já havia ocorrido a adaptação do clássico de ficção científica "Flash Gordon", vindo dos quadrinhos. Com o sucesso dos novos super heróis, essa "união de forças" se intensificou, gerando seriados memoráveis, como "As Aventuras do Superman", de 1952, que foi um dos grandes destaques da época.

Com o passar dos anos, entretanto, os contatos entre o cinema propriamente dito e os quadrinhos ficaram um pouco estreitos, sendo muito mais comum encontrar relações da nona arte com a televisão através de desenhos animados e telesseriados, do que através de filmes nas grandes salas de exibição ao redor do mundo. Poucas tentativas eram feitas eventualmente, porém, nenhuma resultava em projetos muito memoráveis, como os filmes que retratavam os heróis da Marvel, Capitão América (que estrelou um filme solo em 1990) e o Quarteto Fantástico (que foi protagonista de uma versão muito lembrada pelos fãs de filmes trash, no ano de 1994). Entretanto, nem todas eram mal vistas, e, num contraste aos já citados, os filmes "Batman - O Homem Morcego" (1990) e "Batman - O Retorno" (1992), ambos do diretor Tim Burton, são constantemente lembrados com bons comentários.
No começo dessa década, em 2000, a Marvel, numa tentativa de se pôr em evidência novamente após uma década que muitos consideram como a perdida dos quadrinhos como um todo (devido à queda de nível nas histórias, a quantidade imensa de editoras pequenas e sem estrutura que entravam no mercado e acabavam afetando a visão geral desse gênero, etc), investiu numa produção para os cinemas de seu grupo de personagens mais populares, os X-men, composto por um elenco ainda não badalado e com um roteiro que buscava manter alguns elementos básicos da mitologia dos quadrinhos e, ainda assim, trazer algo de novo a esse universo de personagens. E o projeto mostrou que era algo que poderia valer muito a pena.




Investiu-se, então, em outros personagens, gerando uma leva de adaptações cinematográficas de histórias publicadas originalmente em papel e tinta nas revistas em quadrinhos, como "Homem-Aranha" (2002), "Hulk" (2003), "Demolidor" (2003), e uma nova tentativa de fazer uma representação do Quarteto Fantástico, em 2005. Além desses, também foram adaptados personagens como Homem de Ferro, Motoqueiro Fantasma, Blade e Wolverine. Alguns foram muito bem recebidos, outros foram altamente criticados pelo público recorrente dos heróis. Mas, num panorama geral, a indústria cinematográfica descobriu nessas adaptações um recurso que poderia suprimir o rombo criatrivo pelo qual Hollywood, central mundial do cinema, passava. E cada vez mais, estúdios passaram a investir junto às editoras em histórias que pudessem ser filmadas em película após serem publicadas impressas. Novas parcerias passaram a ser montadas, e começou uma enxurrada de filmes baseados em quadrinhos nos cinemas, expandindo-se além dos americanos, alcançando vários lugares no mundo. A triologia do personagem gaulês "Asterix", criação de René Goscinny e Albert Uderzo, e o filme "O Pequeno Nicolau", criação do mesmo René Goscinny com Jean-Jacques Sempé, da França,  foram algumas adaptações que repercutiram de forma muito elogiada.


E assim, as produções de quadrinhos em telonas deslanchou, rumo a novos horizontes, alcançando cifras de retorno financeiro astronômicas e atraindo milhões, até bilhões de pessoas às salas de exibição de todo o planeta, e continua levando cada semana que estréia um filme nessa categoria. Não pensem que a DC viu a Marvel decolar com suas adaptações e ficou para trás. Depois dos sucessos com os grandes pesos pesados de seu portfolio, Superman (que possuiu uma trilogia cinematográfica brilhante, a partir de 1978 até 1983, estrelada pelo ótimo ator Christopher Reeve, antes de este ficar paralítico) e Batman (nos filmes mencionados anteriormente e seguido de algumas sequências bem menos badaladas, dentre as quais uma que trouxe polêmica aos filmes de quadrinhos, onde o traje do herói mascarado possuía mamilos, apesar de não ser uma roupa colant ou qualquer coisa do gênero, o que foi visto e severamente criticado no filme dirigido por Joel Schumacher em 1997, "Batman e Robin"), a DC passou a investir em adaptações da sua linha de quadrinhos adultos, nos trazendo algumas obras memoráveis, como "Estrada para a Perdição" (2002), "Sin City" (2005), "V de Vingança" (2006), "Watchmen" (2009), e mais recentemente, "R.E.D. - Aposentador e Perigosos" (2010).


Essa década foi A década dos quadrinhos no cinema, e todos, sem exceção, sabem disso. Como tal, é um ponto que não poderia deixar de estar entre os 3 maiores acontecimentos dos quadrinhos na década. Além das adaptações para as telonas, a própria produção de quadrinhos mudou com essa nova relação inter-mídias, e os roteiros começaram a ser feitos para os quadrinhos já possuindo quase uma linguagem e montagem cinematográfica, o que, inclusive, acontecia às vezes por acordos firmados previamente até mesmo à criação da história original em quadrinhos, com os próprios autores, para a adaptação para o cinema, como foi o caso do roteirista Mark Millar e sua história"Kick-Ass", lançado quase simultaneamente em quadrinhos e filme em 2010.

Para os anos que virão, esse laço que liga a arte sequencial e o cinema mostra ainda ter muitos frutos para dar, com os projetos ainda em produção que estão por vir, como "Capitão América", "Thor", "Vingadores" e o reboot da série de filmes do Homem-Aranha, pela Marvel; e "Lanterna Verde" e a terceira parte da nova e incrível trilogia do Batman "Dark Knight Rises"; além de todas as demais filmagens feitas em cima de quadrinhos de outros gêneros e estilos, como o live-motion dos quadrinhos belgas do personagem Tintin, do quadrinista Hergé, que será produzido pelos experientes diretores Steven Spíelberg e Peter Jackson. Há ainda muito que falar sobre esse tema, e, por mais que eu tenha tentado expô-lo aqui o máximo possível, sempre acaba-se esquecendo de algo, além do fato de que não se pode dar a notoriedade detalhada a cada uma dessas singulares adaptações.











Neste vídeo que encontrei em meio à minha pesquisa, certos pontos muito importantes e interessantes, alguns dos quais que não consegui explorar de forma completa no artigo, mas que são importantes de destacar, são abordados de uma forma bastante instigante. Confira você mesmo:


Concluindo: uma vez, disseram que é preciso ver para crer. O que eu vejo é a expansão que isso tudo vem dando à nona arte, e o quão aparentemente perto que estamos cada vez mais do universo que as histórias em quadrinhos abordam, onde homens voam, adolescentes balançam em teias entre os prédios das grandes cidades, e onde sempre é possível sonhar E realizar sonhos. 

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

4º Colocado: Quadrinhos Brasileiros

Por Gabriel Guimarães


O ítalo-brasileiro Ângelo Agostini

A paixão do brasileiro pelos quadrinhos vem de muito tempo atrás, no começo de tudo. Considerados por muitos estudiosos como a primeira história em quadrinhos de fato (uma discussão na qual talvez um dia eu entre em um artigo futuro), "As Aventuras de Nhô Quim", do artista Ângelo Agostini, narra as histórias vividas por um homem do interior nas cidades do fim do século XIX e começo do século XX.

Desde então, a produção artística brasileira sempre procurou seu espaço e reconhecimento. Ainda antes do surgimento dos super heróis americanos, que influenciaram de forma intensa os profissionais dos quadrinhos brasileiros devido à forma como se deu sua difusão no território tupiniquim, houve uma história que merece um destaque pela sua ampla área de ação, "Garra Cinzenta", HQ de ação policial produzida por Francisco Armond e Renato Silva, em 1937, que fez grande sucesso aqui dentro, atingindo a marca de 100 capítulos, todos publicados pelo suplemento do jornal A Gazeta, a Gazetinha, como era chamado, e que chegou a ser exportado e muito bem recebido em países como Bélgica, México e França.

Com o surgimento dos novos heróis com poderes sobre-humanos em suplementos ao redor do Brasil todo, começou-se a disseminar uma "cultura do maravilhamento". Os leitores, entusiasmados com essa novidade, passaram a criar seus próprios personagens, suas próprias aventuras, muitas vezes adaptando sua realidade de vida para o formato. E não foram poucos os jovens que liam aqueles materiais que passavam a sonhar em desenhar eles mesmos aquelas histórias e trabalhar criando aventuras empolgantes nos jornais e revistas, dentre os quais, eu destaco o mineiro Ziraldo.

Entretanto, nem todos viam nas revistas um material produtor de sonhos, mas sim um elemento que corrompia a visão de realidade das crianças, que não teriam proteção suficiente para resistir à tendências rebeldes que se encontravam em algumas histórias. Além disso, os problemas que a arte sequencial encarava com o público tinham também, na verdade, haver com divergências e concorrência entre os produtores dos meios de comunicação da época (esse debate sobre concorrência e proteção do meio de produção de histórias em quadrinhos já foi debatido aqui no blog antes). Os editores e jornalistas que eram contra o dono da editora RGE e d jornal O Globo, Roberto Marinho, aproveitavam o fato de ele conseguir lucrar tanto com a venda dos suplementos de histórias em quadrinhos como uma brecha para ataca-lo de forma indireta.




Adolfo Aizen, dono da editora EBAL

Como não poderiam atacar Marinho sem envolver outros setores onde a influência do magnata da comunicação pudesse os prejudicar, os demais jornalistas, dentre os quais Carlos Lacerda, Samuel Weiner e Orlando Dantas viram na crítica e ataque à influência dos quadrinhos nos mais jovens uma brecha para atacar o império financeiro do "global". Com isso, muitos ataques contra os quadrinhos foram disferidos, porém, em muito pouco isso de fato reduziu a aceitação das historietas pelos mais jovens. E, da mesma forma que existiam críticos ferrenhos da nona arte, existiam seus defensores, igualmente capazes e empenhados, como o escritor e sociólogo pernambucano Gilberto Freyre, autor da obra clássica "Casa Grande Senzala", o editor que começou sua carreira como líder dos primeiros fãs clubes brasileiros para as histórias em quadrinhos publicadas no Brasil e fundador da editora Record, Alfredo Machado, e o russo-brasileiro que revolucionou o mercado editorial brasileiro com a sua Editora Brasil América (EBAL) e a política de investimento na nona arte que fazia, Adolfo Aizen.

Foram tempos complicados, porém, produtivos, com dezenas, às vezes centenas, de materiais publicados. Mas a produção de histórias nacionais sempre encontrou dificuldades. Foi apenas sob a batuta do quadrinista Waldir Igaiara, na editora Abril na década de 1980, que a produção de artistas de dentro do país teve maior reconhecimento, de fato. A maioria das histórias protagonizadas pelos personagens da Disney era produzida no Brasil, e muitas delas, eram até mesmo exportadas para serem publicadas na terra-natal dos personagens (como mencionei na matéria de ontem e já há algum tempo atrás aqui no blog também).

Entretanto, tamanho potencial não foi explorado, e a produção de quadrinhos brasileiros se esvaiu. Por um tempo depois, aqueles que desejavam ser parte dessa indústria passaram a se voltar para o exterior, enviando seu trabalho para ser publicado nos Estados Unidos em diversas editoras, inclusive nas duas gigantes, Marvel e DC.

Na década que acabou, entretanto, uma nova esperança foi surgindo. Alguns autores começaram a arriscar fazer algo voltado para o público brasileiro mesmo, criando alguns bons sucessos de público e crítica, como são so casos de Combo Rangers, do paulista Fábio Yabu, e da série que recebeu grande atenção em 42 edições e 6 especiais, Holy Avenger, da dupla Marcelo Cássaro e Érika Awano. E foi a partir desses casos na metade inicial da década que se viu uma mudança nesse panorama. Muitos desenhistas e roteiristas começaram a publicar seu material, querendo adquirir representação nessa fatia cada vez mais considerável do consumo no mercado de quadrinhos.

E com os anos passando, foram surgindo projetos cada vez melhores, como Jambocks! da dupla Celso Menezes e Felipe Massafera, Bando de Dois, do artista Danilo Beyruth, e Táxi, do chargista Gustavo Duarte.

Foi uma década muito importante por toda a produção que foi feita, e vejo cada vez mais abertura para isso, com a nova política do Programa Nacional Biblioteca na Escola (PNBE), que compra tiragens excelentes de livros para uso escolar, e que está invetindo mais e mais no setor da arte sequencial como ferramenta de ensino (em 2007 foi talvez o primeiro grande destaque dessa adoção de material em quadrinhos, com 300 obras sendo escolhidas e distribuídas pelos colégios ao redor do país).

E cada vez mais nomes brasileiros ganham uma dimensão maior no contexto global, como os gêmeos Fábio Moon e Gabriel Bá, o quadrinista Rafael Grampá, o desenhista Mike Deodato Jr. (que começou a carreira na década de 1990 mas que teve seu trabalho mais reconhecido nessa última década), o artista Ivan Reis, dentre muitos outros.

Muitas mudanças foram realizadas, e hoje, mais que ontem, e, se Deus quiser, amanhã mais ainda que hoje, os quadrinistas brasileiros têm uma real chance de terem seus trabalhos publicados e de dizer que somos brasileiros, com muito orgulho, com muito amor. E isso não poderia de ser dito aqui.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

5º Colocado: A Compra da Marvel pela Disney

Por Gabriel Guimarães

Eu sei que, na época em que esse acontecimento se deu, em 2009, eu havia dito que discorreria sobre ele melhor, porém não o fiz, devido aos outros projetos que estavam em andamento, até mesmo aqui para o blog. Chegou a hora de cumprir com minha palavra.

Desde 2005, a Disney vinha passando por uma enorme crise no seu setor de histórias em quadrinhos, sendo constantemente avaliada e reavaliada pelos responsáveis pela publicação do material ao redor do mundo, dentre os quais a editora Abril, que volta e meia criava novos títulos e/ou cancela outros mais antigos ou que não haviam dado certo junto ao seu público-alvo. Entretanto, foi a partir de janeiro de 2007 que os cancelamentos começaram a atingir a terra-mãe dos personagens de Walt Disney. Acreditando que poderia se manter apenas com a republicação de clássicos dos quadrinhos de outras eras mais afortunadas de ideias, o grande conglomerado cancelou de cara duas de suas revistas mais antigas, "Mickey Mouse and Friends" e "Donald Duck and Friends".

E os negócios pareciam ir apenas de mal a pior, entrando e saindo ano, e linhas de histórias em quadrinhos continuando a serem canceladas, atingindo até a soberba revista do Tio Patinhas, em 2008, na Itália, um dos países que mais produzia histórias para a Disney no mundo(por curiosidade, o país que mais produziu histórias com os personagens de Walt Disney, além de criar outros tantos originais, que inclusive até exportava para os próprios Estados Unidos publicarem, era o Brasil! - isso já foi mencionado aqui no blog há algum tempo atrás).

Em agosto de 2009, porém, numa reviravolta que ninguém (eu posso afirmar isso com bastante certeza) esperava, o conglomerado Disney adquiriu pela quantia impressionante de 4 bilhões de dólares a posse da gigante de quadrinhos norte-americanos, Marvel comics. Que a Marvel estava cada vez mais badalada e trazendo lucros cada vez maiores, ninguém duvidava, e que esse fato atrairia olhares de grupos de executivos com alto poder aquisitivo, também não era nada inesperado. Então, por que e de que forma essa notícia nos chocou tanto?

A Disney sempre foi uma marca que primou pelos desenhos infantis, que evitavam ao máximo uma exposição de violência, temas inadequados, etc, e, como afirmei ontem, o clíma dos quadrinhos não-infantis, dentre os quais, os da Marvel, na década mostravam uma imagem bem diferente do tradicional padrão Mickey Mouse de abordagem. Porém, acima disso, venho propor algo que acredito que poucos pensaram: a política da gerência para com os quadrinhos da Disney desde a metade da década demonstrava, na verdade, até mesmo um certo descaso. Ou, talvez, fosse algo premeditado para pegar o mercado de sopetão. Afinal, toda propaganda é boa, e a forma como a notícia se deu no meio do entretenimento deixou todo o mundo estarrecido e de olhos focados na direção da nova aliança que prometia mexer com as estruturas da indústria da cultura popular.

Não houve um programa voltado para esse mercado, um site de informações ou um blog que não tenha dito, ao menos, algumas palavras quanto a isso. A Disney se pôs no mapa novamente no ramo de quadrinhos, e logo levou ao alvoroço dos leitores, que já imaginavam complexos crossovers entre o atabalhoado pato Donald e o irritadiço pato Howard, ou entre o clássico favorito Pateta e o gigante esmeralda, Hulk. E segue por aí.

Muitos, no entanto, se preocuparam com essa notícia. Acreditavam que um ou outro (Marvel ou Disney) perderia sua identidade máxima construída há décadas com o público leitor de suas revistas e espectador de seus filmes. Para acalmá-los, a Disney anunciou que não interferiria nos projetos da Marvel para o cinema que eram produzidos pelo estúdio que já pertencia à editora e que produzira obras primas para a telona, como os dois filmes do Homem de Ferro.

Quanto aos quadrinhos, tudo continuou o mesmo, o que mudou apenas foram decisões burocráticas, como nomenclaturas hierárquicas dentro da Marvel Entertainment Inc. O portfolio de personagens de ambas, entretanto, sofreu uma expansão assustadora, uma vez que a Marvel possuía direitos sobre cerca de mais de 5 mil personagens, e a Disney já possuía um repertório igualmente invejável.

No fim, ou pelo menos até o fim dessa década, esse grande acontecimento se limitou ao lado empresarial, porém, podemos esperar novos desdobramentos disso nos anos vindouros, sem a menor sombra de dúvida, como talvez um dia teremos a possibilidade de assistir um vídeo preparatório apresentado pelo Pateta sobre como se usar uma armadura das indústrias Stark, como tantos já devem ter começado a imaginar quando a notícia foi anunciada. Esperemos para ver.

Notas de complemento:

http://www.universohq.com/quadrinhos/2005/n22072005_07.cfm


http://www.universohq.com/quadrinhos/2007/n17012007_10.cfm

http://www.universohq.com/quadrinhos/2008/n27082008_07.cfm



http://entretenimento.uol.com.br/ultnot/2009/08/31/ult4326u1395.jhtm



terça-feira, 18 de janeiro de 2011

6º Colocado: Os Novos "Valores" dos Quadrinhos

Por Gabriel Guimarães

Nessa última década, vivemos momentos conturbados, tanto moralmente (a partir dos ataques de 11 de setembro de 2001) quanto financeiramente (com a crise econômica mundial que assolou o mundo em 2009), e estes tempos tiveram um grande impacto nos quadrinhos ao redor do planeta. Para a sexta colocação na lista dos 10 acontecimentos que mais marcaram os quadrinhos na década, a reação dos quadrinhos, principalmente a esses dois fatores que mencionei, ficaram empatados, ao meu ver.

Comecemos pelo fator econômico, que mostrou um panorama nessa década que poucos poderiam esperar quando esse meio de comunicação de massa tão popular começou a engatinhar no início do século XX. Uma vez que os imóveis, que costumavam ser talvez uma das formas mais seguras de investimento positivo, estavam sendo a causa da grande crise financeira norte-americana em 2009 (mas que afetou o mundo inteiro devido à interdependência monetária, principalmente do dólar), grandes empreendedores começaram a se perguntar sobre uma forma mais segura e sem tantos riscos de gastar o dinheiro pelo qual trabalharam que pudesse ter um retorno considerável mais tarde. E adivinhem qual a solução que encontraram? As revistas em quadrinhos!

Desde a crise, os leilões onde as revistas mais clássicas e históricas da arte sequencial estavam dispostas começaram a demonstrar quebra de recorde seguida de quebra de recorde, chegando a patamares jamais imaginados pelos artistas e editores que trabalharam na produção daquelas revistinhas à época. Acho impressionante o fato de que foi preciso tamanha crise financeira para que houvesse um reconhecimento maior desse material, que, se você observar de um panorama maior e mais amplo, influenciou milhões de vidas, e continua a influenciar. A cultura dos quadrinhos sempre foi e ainda é muito importante, e nessa década, isso realmente foi reconhecido. E não apenas em papel, artigos científicos, etc, mas em cifras, também. E isso foi algo muito importante. Quem sabe, com essa nova visão, haja mais investimento na produção artística voltada para a nona arte e seu público? Talvez então possamos ver as pessoas deixarem de tratar os admiradores de quadrinhos como alienados ou infantis, e, enfim, os vejamos ser respeitados e compreendidos.

Ao segundo ponto dessa colocação, a história vai um pouco mais para o começo da década. Em setembro de 2001, o mundo foi pego em choque com o atentado terrorista às torres gêmeas em Nova York, nos Estados Unidos. Muitas vidas se perderam, histórias foram interrompidas e o mundo perdeu um pouco a expressão de leveza que aparentava ter. Uma tensão global se instaurou, jogando vizinho contra vizinho, amigo contra amigo. Ninguém sabia mais em quem poderia confiar. Tamanha mudança de comportamento não passou desapercebida, e, logo, levou a ramificações nos quadrinhos.




O próprio atentado levou a respostas incrivelmente belas em termos de arte, como a edição da série Amazing Spider-Man onde o Homem-Aranha se depara com os prédios já em chamas e, junto de vários heróis E vilões da Marvel, auxilia no salvamento de inocentes presos nos destroços. Para mim, essa edição foi uma das mais especiais e de maior destaque na década, absolutamente impecável em termos de emoções humanas e solidariedade. Além disso, a Marvel lançou a minissérie "Emergência - A Serviço da Vida", onde contava a história de bombeiros que procuravam salvar suas vítimas e resolver cada caso de uma vez, como heróis da vida real, em 2003. A DC não ficou atrás, e passou a evidenciar em diversas de suas histórias o valor dos prestadores de serviços de resgate do mundo real, como mostrado na imagem que inicia o artigo.

Com essa reviravolta, os quadrinhos mudaram. O tom das histórias passou por um longo período de obscuridade, onde o lado negro dos personagens começou a vir à tona, e o gênero da vida deles passou a ser o drama ao invés das aventuras a que estavam acostumados. A DC passou uma Crise de Identidade em 2004 que a reformulou por completo, mudando a forma como seus principais personagens eram vistos, e a Marvel entrou em Guerra Civil um pouco mais tarde, em 2007,  ponderando os limites do bem que um herói mascarado pode fazer. Foram grandes mudanças, enormes, profundas e estruturais. Necessárias.

Foi um tempo de luto. Não apenas pelo desastre que marcou a década, mas pela inocência que se perdeu. A desconfiança fez lembrar de tempos nada agradáveis em que a certeza do bem triunfar sempre não era tão firme, ao menos não tão firme quanto deveria. E passou-se a questionar isso nos quadrinhos. O que pode ser evitado de fato?



 
Porém, essa mudança no tom das histórias não se limitou aos quadrinhos de heróis. O premiado autor
Art Spiegelman (único quadrinista vencedor do Prêmio Pullitzer pela sua história Maus) também reagiu a esse panorama na sua obra "À Sombra das Torres Ausentes", em que criticava o xenofobismo, algo atípico dentre os quadrinistas para responder ao governo Bush no momento.

Foram muitas mudanças em muito pouco tempo. E os quadrinhos estiveram lá, como todo bom meio de comunicação para mostrar os pontos de vista e reação das pessoas aos eventos que decorreram no mundo. Por todas essas razões, esses dois elementos merecem tamanho crédito, e marcaram a arte sequencial na década.

Notas de complemento:

http://extra.globo.com/tv-e-lazer/revista-com-primeira-aparicao-do-batman-vendida-por-mais-de-us-1-milhao-bate-recorde-92308.html

http://g1.globo.com/Noticias/Economia_Negocios/0,,MUL1549664-9356,00-GIBI+DE+SUPERMAN+REGISTRA+NOVO+RECORDE+EM+LEILAO+US+MILHAO.html


http://www.guardian.co.uk/culture/2004/apr/24/guesteditors3

http://www.universohq.com/quadrinhos/2007/n11092007_05.cfm