Por Gabriel Guimarães
Quem dos verdadeiros leitores de quadrinhos hoje pode dizer sinceramente que nunca leu uma revista, um gibi, da turma da Mônica a vida toda? A invenção do artista e empreendedor Maurício de Sousa não foi só mais uma revista em quadrinhos nas bancas de todo o país, ela se tornou sinônimo de quadrinho brasileiro em grande parte do mundo afora. Maurício, cuja carreira como desenhista começou cedo, quando fazia cartazes e ilustrações para os meios de comunicação da cidade de Mogi das Cruzes, onde morava, conquistou um espaço que pouquíssimos acreditavam ser possível conquistar e, com isso, marcou seu nome na história dos quadrinhos não só brasileiros (onde, entre eles, está irrevogavelmente na mais alta posição), mas também mundiais.
Por cerca de 48 anos, Mônica, Cebolinha, Cascão, Magali, e dezenas de outros personagens, se fizeram presentes nas vidas de praticamente todos os brasileiros, fosse através das consagradas revistinhas (que migraram por várias editoras ao longo dos anos), desenhos animados (que eram exibidos tanto em canais de acesso aberto quanto em canais de rede paga), bonecos, adesivos, cadernos, canetas, estojos, bichos de pelúcia, etc. Ainda que não houvesse tantos objetos com licenciamento de imagem dos personagens de Maurício, há uma imensa quantidade de programas de alfabetização e auxílio à educação incentivados pelo MSP, estúdio e produtora do grande quadrinista brasileiro.
Vendo todo esse panorama, não é nenhuma surpresa o alto nível de aceitação e credibilidade associados aos nomes e imagens da turminha. Entretanto, com o passar dos anos, nada também é tão natural quanto a necessidade de se reestruturar para alcançar novos mercados (como já foi estudado aqui no blog algum tempo atrás).
No ano de 2008, Maurício pôs em prática uma estratégia que poderia colocar em risco tudo aquilo que produziu em quase toda sua vida: amadurecer seus personagens, mudando alguns de seus elementos estruturais. Na Rio Comicon que foi realizada em 2010, ele revelou a motivação real que o levou à definitiva decisão de tomar tal risco: seu filho mais novo. Todo mês, o grande quadrinista brasileiro levava revistas em quadrinhos da banca para seu filho, dentre as quais, ele destacou os gibis da série Turma da Mônica e a série de mangá Naruto. Um dia, Maurício disse, ele viu a imagem que lhe faltava para perceber que precisava inovar seu universo de personagens: seu filho ficou em dúvida, pela primeira vez, quanto a qual das revistas leria primeiro, e acabou optando por Naruto.
Observando seu filho (que poderia simbolizar quase perfeitamente o seu legado para os quadrinhos no Brasil, nesse caso) e as mais recentes gerações de leitores da nona arte, Maurício viu a alta procura pelo estilo mangá, e o quanto que uma iniciativa de entrar nessa área poderia revigorar toda sua produção, renovando o público e reatraindo os leitores mais velhos. Não, não foi uma decisão tão fácil quanto parece. Se desse errado e o conservadorismo triunfasse nesse caso, todo o império que levou décadas para ser construído à base de muitas lapiseiras, borrachas, réguas, canetas e folhas de Maurício, poderia ruir.
É pelo sucesso dessa mudança de estratégia na produção da maior revista em quadrinhos produzida por e para o mercado brasileiro, que a invenção da Turma da Mônica Jovem em estilo mangá figura na lista dos 10 acontecimentos que marcaram a arte sequencial na década e acredito que não poderia deixar de estar.
Seja falando ao público infantil ou aos novos jovens de hoje e amanhã, as ideias de Maurício se mostraram firmes quando todas as demais foram caindo frente aos obstáculos de produção e distribuição de quadrinhos no Brasil (também abordado previamente aqui no blog), e tudo que posso dizer, é que o Cebolinha inventou milhares de planos para virar o dono da Rua, enquanto o Maurício só precisou de um para virar o dono do Brasil (pode parecer uma metáfora forçada, mas quando se observa a influência de sua criação na formação de tantos dos que hoje são as cabeças governantes do país, percebe-se que não é tanto um absurdo minha afirmação): criou a identidade do brasileiro de forma pura e simples, a trajou com um vestidinho vermelho e lhe deu nas mãos um coelhinho para que pudesse se proteger dos que tentassem dela se aproveitar; e voilá, todo um universo de construiu naturalmente, e está hoje mais forte que nunca.
Parabéns e, mais uma vez, obrigado, Maurício.
Um comentário:
Adorei o texto! =D
A Turma da Mônica marcou minha infância e Maurício de Sousa é sem dúvida um dos artistas que mais admiro.
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