Por Gabriel Guimarães
Caracterizado pela abertura a uma ampla margem de público, o estilo mangá dos quadrinhos japoneses tem um imenso repertório de tramas, desde simples histórias de uma garota que gosta de hamsters até épicas jornadas de heróis e aventureiros na luta pela sobrevivência do universo. E foi a partir desse estilo de quadrinizar que surgiram muitos dos desenhos animados (animês) que marcaram as vidas de muitos jovens já há várias décadas.
Entretanto, foi somente a partir dos anos 2000 que, de fato, os mangás realmente foram adotados como main stream dos quadrinhos consumidos no Brasil. A mudança editorial promovida nessa década de publicarem os mangás na sua ordem original ao invés de ocidentaliza-los foi talvez o grande fator influenciador para a nova e maior aceitação do material.
Criando uma identidade visual única, que diferenciava as revistas de estilo mangá das demais nas bancas, as histórias tiveram mais campo para serem bem recebidas (além do mais, a partir de então, elas passaram a ser lidas como haviam sido planejadas em sua publicação original no Japão). Aqui merece um crédito especial para a editora Conrad, que deu início a esse processo com a importação dos mangás Dragon Ball e Cavaleiros do Zodíaco.
O público começou a associar mais os desenhos animados que tanto eram vistos com seu material de origem, e muitos que o faziam passaram até a preferir o que era publicado em relação ao que era exibido. Por essa afirmação, é possível perceber a importância que o mangá teve nessa década: atraiu toda uma leva de novos leitores para as histórias em quadrinhos e expandiu de forma assustadora a aceitação da nona arte em meio ao público que já não era mais infatil. Desde então, é cada vez mais frequente você observar grupos de pessoas reunidas nos colégios, nos shoppings, nas faculdades, falando sobre uma história que todos acompanham mês após mês nas bancas.
Outra grande repercussão que o advento do mangá gerou foi a explosão do número de eventos organizados em prol de uma publicação em quadrinhos, que gerou até a realização mais frequente dos chamados cosplays, onde os fãs das séries se fantasiavam como seus personagens favoritos e competiam entre si para ver quem homenageara melhor a figura retratada. Tradição em alguns outros países, aqui no Brasil, esse costume não era tão efetivo, porém, a partir dessa última década, se tornou.
O mangá gerou uma massificação de consumo de quadrinhos que já não se via há anos, fossem os leitores de Dragon Ball, Naruto, One Piece, ou qualquer outro título, todos passaram a fazer parte de um mesmo universo, um mesmo contexto cultural, e assim se criou uma base muito forte onde se estruturou uma comunidade de jovens leitores que são influenciados pelas histórias que leem e pela cultura com a qual tomam contato. Não apenas a cultura do Japão, mas sim a cultura da integração, do conceito de respeito e honra, de amizade e de companheirismo.
O mangá, utilizando de um recurso gráfico em que os cenários são complexos para dar o tom de realidade e os personagens são simples para serem fáceis do leitor se identificar com eles, realmente alcançou hoje um patamar muito admirável nos quadrinhos como um todo, gerando uma ótima receptividade e produzindo momentos que serão lembrados por todos os seus jovens leitores pelo resto de suas vidas.
O tremendo crescimento do mangá é um elemento que não poderia deixar de figurar aqui entre os maiores acontecimentos da dácada nos quadrinhos de forma alguma, e acredito que ele só tende a crescer mais e mais, em vista sua estratégia já inerente da venda para o mercado de nichos, cada vez mais comum nos dias de hoje, como destaca o livro "A Teoria da Cauda Longa", de Chris Anderson.
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