Por Gabriel Guimarães
No começos dos anos 2000, a Marvel percebeu que precisava atrair novos leitores às suas revistas se não quisesse ter sérios problemas financeiros. Seus filmes começavam a surgir nas salas de cinema ao redor do mundo, começando pelo primeiro X-men (2000) e partindo rumo a uma sequência de personagens a serem aproveitados na grande tela. Com os espectadores dos cinemas, os executivos da Marvel sabiam que surgiriam novos potenciais leitores, e nisso, resolveram por em prática uma estratégia até já manjada no meio para atrair novos públicos: decidiram dar um reboot no universo Marvel como um todo e mostrar como ele funcionaria se todos os heróis e vilões tivessem surgido no novo milênio que se estendia diante de nós, e não mais na década de 1960. Esse projeto ficou conhecido como Marvel Millenium.
Com versões não só recontadas de personagens, como era tradição nesse estilo de abordagem, mas sim com reformulações e mudanças drásticas, esse novo universo criado pela Marvel surpreendeu o público, que começou a ser cada vez mais atraído para essa versão ultimate dos personagens do que para a tradicional. A versão tradicional, inclusive, com algumas poucas exceções, não passava e ainda não passa por bons momentos já há algum tempo. Tudo ficou complicado demais, engendrado demais. No novo universo proposto pela Marvel, tudo se simplificou, novas histórias antológicas para os personagens foram criadas, e velhos jargões repetidos à exaustão deram lugar às novas tentativas de se comunicar com a nova geração de consumidores de quadrinhos. E o resultado foi excelente.
Tamanho foi o bom retorno desse projeto, que o nome do talvez grande responsável por ele, o roteirista Brian Michael Bendis, se tornou quase sinônimo de boas histórias. Porém, não foi apenas ele que criou toda a ambientação dos personagens em suas novas versões. Essa tarefa foi encumbida a uma gama de talentosos roteiristas e artistas de altíssimo nível técnico. Mark Bagley (parceiro de Bendis na série do Homem-Aranha ultimate, personagem solo de maior sucesso da linha), Mark Millar, Adam Kubert, Brian Hitch, Greg Ruka, Stuart Immonen, Brandon Peterson, David Finch, entre muitos e muitos outros, foram alguns dos que deram forma à nova estrutura de como a Marvel passou a ser vista melhor nessa última década, e, portanto, não foi à toa a projeção que a estratégia adquiriu.
Com a nova versão dos Vingadores, maior grupo de heróis do universo Marvel, a editora conseguiu atingir todo um novo nível de leitores. Escrito de forma brilhante pelo escocês Mark Millar em parceria com os desenhos incríveis do britânico Brian Hitch, Os Supremos (como vieram a ser chamados) se tornaram uma referência no que tange aos bons quadrinhos de heróis dos últimos tempos. A abordagem cinematográfica foi tão bem recebida que virou praticamente o pilar sob o qual estão sendo trabalhados os filmes dos personagens integrantes do grupo e o filme do grupo em si, que ainda será produzido na sétima arte.
Considero a criação da Marvel Millenium um elemento quase divisor de águas na forma como a editora era vista nos anos que precederam a passagem das décadas anteriores para essa última; e a forma como tudo foi orquestrado, para permitir que novos leitores não se sentissem deslocados em termos de cronologia com o universo Marvel, levaram a uma ótima resposta do público e do mercado em si.
O ítem preenche a nona colocação nos acontecimentos que marcaram a década por causa da revitalização do público, da conexão com todos os elementos da geração atual nas histórias (desde a tecnologia utilizada às tendências de estilos urbanos) e da expansão da marca Marvel que foi possível através da união entre o cinema e a linha Marvel Millenium.
Sem mencionar o fator multimídia das histórias, que já chegaram aos video games nas duas edições do game Ultimate Alliance e as relações com referência à série de televisão LOST, que aparecem em alguns momentos da série do Homem-Aranha ultimate.
Com novos poderes, vem novas responsabilidades. E, apesar das ideias descabidas das últimas histórias (como a pífia Ultimato), os profissionais da Marvel têm conseguido lidar muito bem com tudo isso. Torçamos para que o futuro seja apenas de sucessos e novos voos rumo a histórias cada vez melhores.
2 comentários:
Eu achei ótima esta ideia que a Marvel teve de resetar seu universo criando os Ultimates.
Hqs vinculadas obrigatoriamente à cronologia do Universo Marvel real tendem a ser mais chatas.
Até mais.
Foi uma estratégia que rendeu muitos pontos positivos pra Marvel com certeza, Jacques. Traalhar ocm uma cronologia tão grande e densa realmente é algo muito difícil de se lidar positivamente a toda história, no ritmo em que as sagas vão sendo publicadas uma em cima da outra. Histórias como "Guerra Civil" pela Marvel e a "Tropa Sinestro" pela DC me mostram que isso ainda é possível, só que acontece aquela máxima de qualquer meio de comunicação, onde quando algo dá certo, vc usa e abusa daquela fórmula até se tornar algo desinteressante. É preciso saber dosar a quantidade de originalidade e manutenção da estrutura dos personagens de forma equilibrada numa história para torna-la verdadeiramente boa, como até já postei em uma matéria aqui no blog há um tempo atrás.
Fico feliz que vc tenha curtido essa nova realidade da Marvel e tenha se sentido motivado a dividir conosco suas impressões. Nos vemos nos quadrinhos!
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