sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

10º Colocado: A Reinvenção do Lanterna Verde

Por Gabriel Guimarães
Uma vez, Hal Jordan foi um dos maiores defensores do planeta Terra e considerado o maior dentre os membros da Tropa dos Lanternas Verdes, equipe formada pelos mais dignos e habilidosos seres dos 3600 setores do universo, que ostentavam a luz esmeralda de seus anéis municiados apenas de sua inabalável força de vontade. Então, um período de muita escuridão caiu sobre a alma de Jordan.
Após décadas utilizando o símbolo da Tropa como elemento de justiça e a garantia da luta pelo bem, o mundo de Hal começou a ruir ao seu redor. Em 1994, devido a eventos recorrentes da morte do Superman, dois inimigos do Homem de Aço (Super Ciborgue e Mongul) tentaram remodelar o mundo conforme suas vontades, e numa primeira investida, destruíram Coast City, cidade natal de Jordan, e, com ela, milhões de seus habitantes.
O peso de tal ato abalou aquele que era o maior dos Lanternas Verdes. Seu luto e vontade de reconstruir o que havia antes naquele agora desértico espaço de terra o fizeram tentar recriar vida a partir da força de seu anel, de sua força de vontade. Porém, os Guardiões do Universo, criadores e normalizadores da Tropa, não concordaram com a empreitada do herói, e ordenaram que entregasse seu anel.

Agora cego pela tristeza e com medo do que se seguiria a esse nível de destruição e abalo que sentiu, Jordan se rebelou contra seus outrora líderes e rumou para a Bateria Central da Tropa, a fim de absorver toda energia lá contida para poder recomeçar. Derrotando colega a colega de Tropa no caminho, Jordan foi adquirindo mais anéis e, com isso, mais poder, até que chegou a Oa, planeta dos Guardiões. Nas suas últimas frustradas tentativas de impedí-lo, os Guardiões usaram as únicas armas que restavam: Kilowog, oficial de alta patente da Tropa e um dos maiores amigos de Jordan nos anos passados; e Sinestro, ex-membro da Tropa, que se corrompeu desejando uma ordem perfeita para o universo, para a qual a única forma de sustentação seria um tipo de política universal que só poderia ser assemelhada talvez ao fascismo (além disso, Sinestro foi quase desde o começo da carreira de Jordan como Lanterna Verde, seu maior inimigo). Tentativas frustradas.

Jordan elimina os obstáculos e, num momento sublime em que expõe tudo o que passou, indaga os Guardiões quanto ao seu nível de participação na ordem de todas as coisas e relata que ninguém mais pode impedí-lo de atingir seu objetivo de absorver toda a energia da bateria, nem mesmo ele próprio. Jordan cumpre com o que diz e, ao absorver tamanha energia, elimina todos os Guardiões, menos um, que é protegido pela força de todos os demais, Ganthet, que fica emcumbido de dar o último anel da Tropa a um ser merecedor, que viria a ser o desenhista terráqueo Kyle Rayner. Voltando a Jordan, agora, sob a alcunha de Parallax, ele ostenta o poder que tanto procurou: o poder de recomeçar Coast City, a Tropa, a vida em si...

Numa tentativa radical de zerar todas as penitências da existência, Jordan se aliou ao vilão Extemporâneo e gerou o evento que ficou conhecido como Zero Hora, porém, foi detido na última tentativa dos heróis de impedí-lo, fazendo tudo voltar ao normal. Jordan, então, tentou voltar a ser o Lanterna Verde que já havia sido, retomar a força do último anel energético no universo, para enfim cumprir seu objetivo, mas Kyle Rayner não permitiu, confrontando-o diversas vezes, até que Jordan desistiu e vagou pelas galáxias, procurando uma nova forma de satisfazer seus propósitos.
Em 1996, uma nova ameaça surge na forma do vilão Devorador de Sóis, que quase causa a destruição da galáxia onde a Terra se encontra ao consumir toda a energia do nosso Sol. Jordan, movido pelos pedidos de seus antigos amigos e companheiros, decide utilizar toda sua força para reconstruir a fonte de vida dos planetas da via Láctea e destruir de uma vez por todas o causador desse mal, mas para isso, sacrifica sua vida.

Entretanto, a jornada de Hal não termina ali, e, vagando pelo limbo, acaba retornando ao mundo dos heróis sob o manto do espírito da vingança, Espectro, após uma épica batalha para ser o sucessor por trás da entidade.
Bom, isso é um resumo de tudo que aconteceu de realmente marcante na vida do personagem Hal Jordan até essa última década.

Em dezembro de 2004, através da excelente dupla Geoff Johns (ainda antes de se tornar o badalado roteirista da atualidade da DC) e Ethan Van Sciver, a DC publicou a minissérie Lanterna Verde: Renascimento, onde, explicando dezenas de fatores e eventos usando apenas elementos realmente presentes na mitologia ancestral do personagem, ocorreu aquilo que todos os grandes fãs do gladiador esmeralda da Era de Prata tanto esperavam: O retorno de Hal Jordan ao seu posto de Lanterna Verde oficial do setor espacial 2814.

Revelando que Parallax na verdade era um ser mítico que existia desde o início do universo e que se alimentava de todo o medo existente nas criaturas viventes, a história mostra a razão da impureza amarela nos poderes da Tropa (uma vez que Parallax era composto de energia amarela e estava aprisionado na bateria central de Oa), as motivações que levaram Hal Jordan ao limiar da loucura, e as prerrogativas de seu triunfal retorno. Bom, o mais importante nisso tudo, afinal, era: Hal Jordan estava de volta.

Nos anos que se seguiram, Jordan teve que trabalhar duro para reconstruir a imagem que possuía junto à comunidade heróica e aos membros da recém-reconstruída Tropa dos Lanternas Verdes, além de se deparar mais uma vez com eventos tenebrosos para o futuro do universo decorrente de falhas cometidas pelos Guardiões nos milênios em que viveram antes de tudo existir, como a profecia da Noite Mais Densa, história que é atualmente publicada aqui no Brasil pela editora Panini e que já terminou lá fora, causando toda uma reestruturação definitiva do universo DC.

Ok, tudo isso é sensacional, incrível, mirabolante. Mas o que isso tudo tem de tão especial a ponto de entrar para a lista das maiores mudanças / eventos nas histórias em quadrinhos na década? Olhem bem, Hal Jordan vinha de uma década onde a palavra caos imperava completamente. Não havia estrutura nem projeções muito boas para o personagem, o universo em que ele se inseria (Coast City e muitos dos personagens secundários) se encontrava em frangalhos.

Geoff Johns pegou referências onde nenhum outro roteirista pensara em fazer antes (pelo menos não com tamanha primazia): a própria mitologia esmeralda do personagem. Ele olhou para o passado, o começo de tudo, tal qual o primeiro vilão do universo DC, Krona, e decidiu recomeçar tudo, porém, não do zero, como pretendia Jordan, mas sim de onde tudo havia parado. Ele simplesmente despausou o personagem, que tal qual ele próprio (Hal) ficcionalmente estava por um período nos quadrinhos, estava editorialmente: no limbo.

Do marasmo, ele pegou as pontas necessárias para trabalhar toda a simbologia e expandir tudo que o símbolo dos Lanternas Verdes representava: a força de vontade e a superação do medo. E o fez de forma perfeita, impecável. Ele pegou Hal, que se encontrava numa posição irrelevante em meio a toda essa gama de personagens incríveis que a DC tem, e o catapultou ao carro chefe da editora na década, ultrapassando em muito a projeção de Batman, Superman, Liga da Justiça e etc. A DC conseguiu, surpreendentemente, inclusive, terminar 2010 à frente da Marvel tanto em arrecadação com a venda de revistas quanto em quantidade de revistas vendidas, fato este inédito no mercado de quadrinhos americanos. Quer saber a causa dessa surpreendente mudança? A DC reinventou o Lanterna Verde. Explorou seu potencial, e acreditou que poderia ir além de meras histórias que você compra todo mês nas bancas. Resolveu pela primeira vez em décadas expandir o conceito do universo do personagem esmeralda. E vejam só? Deu certo. E nem precisou de crises disso ou crises daquilo para isso. Hal Jordan se envolveu muito pouco em todos esses mega eventos, e, portanto, foi um dos poucos que se safou de toda a estrutura caquéitca que eles traziam e na qual deixavam vários personagens.

A reinvenção do Lanterna Verde figura aqui em décimo lugar porque a DC superou o medo de se arriscar com um personagem consagrado, e com isso, atingiu novos patamares jamais sonhados antes, nem mesmo pelos mais ferrenhos fãs do personagem, dentre os quais eu me incluo.
No ano que se iniciou há pouco, ainda nos é reservada a oportunidade de ver o personagem na grande telona (não que tenha me empolgado tanto ainda, como podem ver na análise que fiz do trailer liberado ao público, postado previamente aqui no blog) na pele do ator em ascenção Ryan Reynolds, fato que poucos esperavam ver um dia se isso fosse perguntado alguns anos atrás.

E olhe só pro futuro agora? Tudo que a DC vê pela frente por essa estratégia é um dia mais claro, onde, há poucos anos antes, tudo que havia era uma noite bem, bem densa.

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