sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

3º Colocado: Pequenos Quadrinhos, Grandes Telas

Por Gabriel Guimarães

Hoje, começamos a contagem regressiva com os três grandes acontecimentos que marcaram os quadrinhos na década, e os ânimos começam a se exaltar. Na terceira colocação, um ítem que praticamente todos os quadrinistas e fãs de quadrinhos sabiam que, jamais, em hipótese alguma, poderia deixar de estar presente numa avaliação como a que estou fazendo aqui no blog: os quadrinhos no cinema.

Surgidos mais ou menos na mesma época, o cinema e os quadrinhos dispõem de muito mais elementos comuns do que normalmente se pensa. Na França e nos Estados Unidos do ano de 1895, grandes revoluções eram realizadas, criando "novos" meios de comunicação (o que de fato se reconhece como história em quadrinhos na história da humanidade merece uma nota aqui numa matéria posterior - fiquem atentos!) que causariam furor nas massas que se formavam nos grandes centros urbanos. Os irmãos Lumière são os responsáveis pela primeira exibição de uma película em movimento num café francês que chamou a atenção para todo um universo que se abria da imagem gravada, enquanto, do outro lado do oceano Atlântico, o desenhista Richard Outcault lançava nas páginas do jornal New York World sua mais nova ideia, sobre histórias contadas através de uma sequência de imagens desenhadas sobre personagens recorrentes num bairro multi-étnico da baixa Nova York chamada "Down Hogan's Alley". Fosse saindo de uma fábrica ou se relacionando com as outras culturas que eram os pilares da sociedade, ambos os meios de comunicação surgiram para mostrar a visão do novo operário, da nova mão com que se construía a sociedade.

O cinema foi crescendo de forma assustadora e, consigo, levou a fotografia como uma invenção científica que surgia à época a um patamar muito mais reconhecido. Ambas essas formas de se observar o mundo causaram toda uma quebra no paradigma das obras de arte. Não mais eram necessárias pinturas à óleo ou ter um espelho em casa (que era um dos maiores status de riqueza naqueles tempos) para que se tivesse condições de criar uma imagem de si mesmo para o mundo. Esses dois meios artísticos e comunicativos trouxeram esse direito para um número muito maior de pessoas do que os que o tinham antes.

Ainda assim, os desenhos que passavam a ser publicados cada vez com mais regularidade nos jornais americanos continuaram a crescer em termos de popularidade e procura. Os desenhos, com seu tom crítico e cômico, atraíam pessoas das mais distintas classes, gêneros e credos.

Ambos cresceram, atingiram novos estilos, criaram novas categorias, onde abordavam seus próprios recursos inerentes com suas propriedades únicas. O cinema começava a mostrar seus dramas, aventuras e romances ao mundo todo, enquanto os quadrinhos traziam à imaginação dos leitores heróis que combatiam o mal vindos dos mais longínquos pontos do universo, como o Fantasma, o Tarzã ou o Superman. E, por mais que fossem duas vertentes diferentes, ambos sempre tiravam algo de importante do contato de seus autores com o outro meio artístico em si. Will Eisner, por exemplo, sempre reforçava a importância da narrativa cinematográfica como elemento influenciador em suas histórias, como a que observou no filme "Cidadão Kane", de 1941.

Nessa década em questão, inclusive, é que começaram a surgir as primeiras fusões dos conceitos criados nesses dois meios de forma mais acentuada, com a série para televisão do personagem da DC comics, Batman, em 1943. Antes, em 1936, já havia ocorrido a adaptação do clássico de ficção científica "Flash Gordon", vindo dos quadrinhos. Com o sucesso dos novos super heróis, essa "união de forças" se intensificou, gerando seriados memoráveis, como "As Aventuras do Superman", de 1952, que foi um dos grandes destaques da época.

Com o passar dos anos, entretanto, os contatos entre o cinema propriamente dito e os quadrinhos ficaram um pouco estreitos, sendo muito mais comum encontrar relações da nona arte com a televisão através de desenhos animados e telesseriados, do que através de filmes nas grandes salas de exibição ao redor do mundo. Poucas tentativas eram feitas eventualmente, porém, nenhuma resultava em projetos muito memoráveis, como os filmes que retratavam os heróis da Marvel, Capitão América (que estrelou um filme solo em 1990) e o Quarteto Fantástico (que foi protagonista de uma versão muito lembrada pelos fãs de filmes trash, no ano de 1994). Entretanto, nem todas eram mal vistas, e, num contraste aos já citados, os filmes "Batman - O Homem Morcego" (1990) e "Batman - O Retorno" (1992), ambos do diretor Tim Burton, são constantemente lembrados com bons comentários.
No começo dessa década, em 2000, a Marvel, numa tentativa de se pôr em evidência novamente após uma década que muitos consideram como a perdida dos quadrinhos como um todo (devido à queda de nível nas histórias, a quantidade imensa de editoras pequenas e sem estrutura que entravam no mercado e acabavam afetando a visão geral desse gênero, etc), investiu numa produção para os cinemas de seu grupo de personagens mais populares, os X-men, composto por um elenco ainda não badalado e com um roteiro que buscava manter alguns elementos básicos da mitologia dos quadrinhos e, ainda assim, trazer algo de novo a esse universo de personagens. E o projeto mostrou que era algo que poderia valer muito a pena.




Investiu-se, então, em outros personagens, gerando uma leva de adaptações cinematográficas de histórias publicadas originalmente em papel e tinta nas revistas em quadrinhos, como "Homem-Aranha" (2002), "Hulk" (2003), "Demolidor" (2003), e uma nova tentativa de fazer uma representação do Quarteto Fantástico, em 2005. Além desses, também foram adaptados personagens como Homem de Ferro, Motoqueiro Fantasma, Blade e Wolverine. Alguns foram muito bem recebidos, outros foram altamente criticados pelo público recorrente dos heróis. Mas, num panorama geral, a indústria cinematográfica descobriu nessas adaptações um recurso que poderia suprimir o rombo criatrivo pelo qual Hollywood, central mundial do cinema, passava. E cada vez mais, estúdios passaram a investir junto às editoras em histórias que pudessem ser filmadas em película após serem publicadas impressas. Novas parcerias passaram a ser montadas, e começou uma enxurrada de filmes baseados em quadrinhos nos cinemas, expandindo-se além dos americanos, alcançando vários lugares no mundo. A triologia do personagem gaulês "Asterix", criação de René Goscinny e Albert Uderzo, e o filme "O Pequeno Nicolau", criação do mesmo René Goscinny com Jean-Jacques Sempé, da França,  foram algumas adaptações que repercutiram de forma muito elogiada.


E assim, as produções de quadrinhos em telonas deslanchou, rumo a novos horizontes, alcançando cifras de retorno financeiro astronômicas e atraindo milhões, até bilhões de pessoas às salas de exibição de todo o planeta, e continua levando cada semana que estréia um filme nessa categoria. Não pensem que a DC viu a Marvel decolar com suas adaptações e ficou para trás. Depois dos sucessos com os grandes pesos pesados de seu portfolio, Superman (que possuiu uma trilogia cinematográfica brilhante, a partir de 1978 até 1983, estrelada pelo ótimo ator Christopher Reeve, antes de este ficar paralítico) e Batman (nos filmes mencionados anteriormente e seguido de algumas sequências bem menos badaladas, dentre as quais uma que trouxe polêmica aos filmes de quadrinhos, onde o traje do herói mascarado possuía mamilos, apesar de não ser uma roupa colant ou qualquer coisa do gênero, o que foi visto e severamente criticado no filme dirigido por Joel Schumacher em 1997, "Batman e Robin"), a DC passou a investir em adaptações da sua linha de quadrinhos adultos, nos trazendo algumas obras memoráveis, como "Estrada para a Perdição" (2002), "Sin City" (2005), "V de Vingança" (2006), "Watchmen" (2009), e mais recentemente, "R.E.D. - Aposentador e Perigosos" (2010).


Essa década foi A década dos quadrinhos no cinema, e todos, sem exceção, sabem disso. Como tal, é um ponto que não poderia deixar de estar entre os 3 maiores acontecimentos dos quadrinhos na década. Além das adaptações para as telonas, a própria produção de quadrinhos mudou com essa nova relação inter-mídias, e os roteiros começaram a ser feitos para os quadrinhos já possuindo quase uma linguagem e montagem cinematográfica, o que, inclusive, acontecia às vezes por acordos firmados previamente até mesmo à criação da história original em quadrinhos, com os próprios autores, para a adaptação para o cinema, como foi o caso do roteirista Mark Millar e sua história"Kick-Ass", lançado quase simultaneamente em quadrinhos e filme em 2010.

Para os anos que virão, esse laço que liga a arte sequencial e o cinema mostra ainda ter muitos frutos para dar, com os projetos ainda em produção que estão por vir, como "Capitão América", "Thor", "Vingadores" e o reboot da série de filmes do Homem-Aranha, pela Marvel; e "Lanterna Verde" e a terceira parte da nova e incrível trilogia do Batman "Dark Knight Rises"; além de todas as demais filmagens feitas em cima de quadrinhos de outros gêneros e estilos, como o live-motion dos quadrinhos belgas do personagem Tintin, do quadrinista Hergé, que será produzido pelos experientes diretores Steven Spíelberg e Peter Jackson. Há ainda muito que falar sobre esse tema, e, por mais que eu tenha tentado expô-lo aqui o máximo possível, sempre acaba-se esquecendo de algo, além do fato de que não se pode dar a notoriedade detalhada a cada uma dessas singulares adaptações.











Neste vídeo que encontrei em meio à minha pesquisa, certos pontos muito importantes e interessantes, alguns dos quais que não consegui explorar de forma completa no artigo, mas que são importantes de destacar, são abordados de uma forma bastante instigante. Confira você mesmo:


Concluindo: uma vez, disseram que é preciso ver para crer. O que eu vejo é a expansão que isso tudo vem dando à nona arte, e o quão aparentemente perto que estamos cada vez mais do universo que as histórias em quadrinhos abordam, onde homens voam, adolescentes balançam em teias entre os prédios das grandes cidades, e onde sempre é possível sonhar E realizar sonhos. 

Um comentário:

Tássia disse...

Não fazia ideia de que alguns filmes como, por exemplo, Estrada para a Perdição, fossem inspirados em quadrinhos. Post muito interessante!