quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

5º Colocado: A Compra da Marvel pela Disney

Por Gabriel Guimarães

Eu sei que, na época em que esse acontecimento se deu, em 2009, eu havia dito que discorreria sobre ele melhor, porém não o fiz, devido aos outros projetos que estavam em andamento, até mesmo aqui para o blog. Chegou a hora de cumprir com minha palavra.

Desde 2005, a Disney vinha passando por uma enorme crise no seu setor de histórias em quadrinhos, sendo constantemente avaliada e reavaliada pelos responsáveis pela publicação do material ao redor do mundo, dentre os quais a editora Abril, que volta e meia criava novos títulos e/ou cancela outros mais antigos ou que não haviam dado certo junto ao seu público-alvo. Entretanto, foi a partir de janeiro de 2007 que os cancelamentos começaram a atingir a terra-mãe dos personagens de Walt Disney. Acreditando que poderia se manter apenas com a republicação de clássicos dos quadrinhos de outras eras mais afortunadas de ideias, o grande conglomerado cancelou de cara duas de suas revistas mais antigas, "Mickey Mouse and Friends" e "Donald Duck and Friends".

E os negócios pareciam ir apenas de mal a pior, entrando e saindo ano, e linhas de histórias em quadrinhos continuando a serem canceladas, atingindo até a soberba revista do Tio Patinhas, em 2008, na Itália, um dos países que mais produzia histórias para a Disney no mundo(por curiosidade, o país que mais produziu histórias com os personagens de Walt Disney, além de criar outros tantos originais, que inclusive até exportava para os próprios Estados Unidos publicarem, era o Brasil! - isso já foi mencionado aqui no blog há algum tempo atrás).

Em agosto de 2009, porém, numa reviravolta que ninguém (eu posso afirmar isso com bastante certeza) esperava, o conglomerado Disney adquiriu pela quantia impressionante de 4 bilhões de dólares a posse da gigante de quadrinhos norte-americanos, Marvel comics. Que a Marvel estava cada vez mais badalada e trazendo lucros cada vez maiores, ninguém duvidava, e que esse fato atrairia olhares de grupos de executivos com alto poder aquisitivo, também não era nada inesperado. Então, por que e de que forma essa notícia nos chocou tanto?

A Disney sempre foi uma marca que primou pelos desenhos infantis, que evitavam ao máximo uma exposição de violência, temas inadequados, etc, e, como afirmei ontem, o clíma dos quadrinhos não-infantis, dentre os quais, os da Marvel, na década mostravam uma imagem bem diferente do tradicional padrão Mickey Mouse de abordagem. Porém, acima disso, venho propor algo que acredito que poucos pensaram: a política da gerência para com os quadrinhos da Disney desde a metade da década demonstrava, na verdade, até mesmo um certo descaso. Ou, talvez, fosse algo premeditado para pegar o mercado de sopetão. Afinal, toda propaganda é boa, e a forma como a notícia se deu no meio do entretenimento deixou todo o mundo estarrecido e de olhos focados na direção da nova aliança que prometia mexer com as estruturas da indústria da cultura popular.

Não houve um programa voltado para esse mercado, um site de informações ou um blog que não tenha dito, ao menos, algumas palavras quanto a isso. A Disney se pôs no mapa novamente no ramo de quadrinhos, e logo levou ao alvoroço dos leitores, que já imaginavam complexos crossovers entre o atabalhoado pato Donald e o irritadiço pato Howard, ou entre o clássico favorito Pateta e o gigante esmeralda, Hulk. E segue por aí.

Muitos, no entanto, se preocuparam com essa notícia. Acreditavam que um ou outro (Marvel ou Disney) perderia sua identidade máxima construída há décadas com o público leitor de suas revistas e espectador de seus filmes. Para acalmá-los, a Disney anunciou que não interferiria nos projetos da Marvel para o cinema que eram produzidos pelo estúdio que já pertencia à editora e que produzira obras primas para a telona, como os dois filmes do Homem de Ferro.

Quanto aos quadrinhos, tudo continuou o mesmo, o que mudou apenas foram decisões burocráticas, como nomenclaturas hierárquicas dentro da Marvel Entertainment Inc. O portfolio de personagens de ambas, entretanto, sofreu uma expansão assustadora, uma vez que a Marvel possuía direitos sobre cerca de mais de 5 mil personagens, e a Disney já possuía um repertório igualmente invejável.

No fim, ou pelo menos até o fim dessa década, esse grande acontecimento se limitou ao lado empresarial, porém, podemos esperar novos desdobramentos disso nos anos vindouros, sem a menor sombra de dúvida, como talvez um dia teremos a possibilidade de assistir um vídeo preparatório apresentado pelo Pateta sobre como se usar uma armadura das indústrias Stark, como tantos já devem ter começado a imaginar quando a notícia foi anunciada. Esperemos para ver.

Notas de complemento:

http://www.universohq.com/quadrinhos/2005/n22072005_07.cfm


http://www.universohq.com/quadrinhos/2007/n17012007_10.cfm

http://www.universohq.com/quadrinhos/2008/n27082008_07.cfm



http://entretenimento.uol.com.br/ultnot/2009/08/31/ult4326u1395.jhtm



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