Por Gabriel Guimarães
É impossível uma análise dos quadrinhos sem passar pelo nome desse primoroso artista anorte-americano morador do bairro do Brooklyn, Nova York. Esta é minha homenagem a esse grandioso pioneiro responsável por trazer humanidade aos quadrinhos, por lutar pelo reconhecimento dessa modalidade como algo sério nos meios intelectuais, e por influenciar com seus ângulos à la Orson Welles tantos e tantos quadrinhistas.
Responsável por cunhar dois termos de extrema importância no ramo dos quadrinhos e da literatura (Arte Sequencial e Graphic Novel), todos os admiradores e produtores de quadrinhos têm a obrigação de conhecer a história e a influência que esse lendário artista teve.
Filho de imigrantes judeus que moravam nos Estados Unidos, Eisner foi criado de maneira bastante voltada para lutar pela sobrevivência. Quando jovem ainda, testemunhou os efeitos da queda da bolsa de 1929, que empobreceu todo o povo americano, especialmente os que moravam nos bairros suburbanos. E desse convívio com a pobreza de todos, é que Eisner posteriormente tirou sua principal fonte para as histórias 'Um Contrato com Deus', 'A Força da Vida', 'Pequenos Milagres' (abaixo), entre tantos outros.Devido à humanização de seus personagens, suas obras se tornaram algo sublime, fora do padrão heróico da época de sucesso que os quadrinhos viveram na década de 1940. Para poder divilgar esse seu modo de entreter e ensinar, Eisner criou um herói, o Spirit, que lutava contra os males do mundo, sempre focando nos personagens secundários de suas aventuras., ou seja, no lado humano da trama. Recentemente, foi lançado um filme de péssima qualidade desse personagem que o aborda de uma maneira completamente errônea. O diretor Frank Miller, responsável por importantíssimos momentos dos quadrinhos com seu Batman ou Sin City, fez algo com o personagem eisneriano que me deixou com uma profunda angústia, que foi traduzir Spirit nos moldes da obra do próprio diretor, ao invés de ser fiel aos quadrinhos do criador do personagem. Os tons preto e branco com poucas cores são o oposto das versões em HQ coloridas do personagem, fato que achei excruciante num filme que deveria ser uma adaptação dos quadrinhos.
Admirador dos grandes centros, Eisner tirava de cenas que observava da sua janela na cidade inspiração para seus romances gráficos. E até sua própria vida foi tema de algumas de suas histórias, como em 'O Sonhador' e 'No Coração da Tempestade'.Seu pioneirismo e paixão por esse meio de comunicação não ficou esquecido e hoje, há não um, mas O grande prêmio dos quadrinhos cujo nome é dedicado a ele, os Prêmios Eisner, pela honra que esse meio teve em conhecer tão profundo e dedicado artista. Não vamos nos esquecer dele jamais, com seu enquadramento inigualável e sua capacidade extraordinária de captar as expressões humanas tanto em seu traço quanto em suas estórias.
Esse grande homem se foi deste mundo e de sua amada metrópole em 2005, mas suas obras hão de nos preencher o vazio que ele deixou ao partir. Que no futuro haja mais pessoas como ele para lutar pela bandeira artística dos quadrinhos até a última fibra, e para tornar do mundo um ambiente de relacionamento mais humano entre as pessoas, tal qual ele o retratava.
Que possamos ter a certeza de que seu esforço não foi em vão, e de que continuaremos a lutar pelo crescimento desse meio. A garantia que temos é que o pioneirismo de Will Eisner permanecerá em cada um de nós, forçando-nos a ir adiante, a irmos além dos padrões de nossos tempos, a sonharmos mais alto, sem medo dos desafios que podemos encontrar.
Um comentário:
Muito bom o texto e a história deste grande homem.Eisner parecia e parece, pois suas obras serão propagadas por gerações,ser um grande comunicador. Através das cores, traços e enquadramentos, como você próprio disse, o artista retratava uma realidade sentida na pele por ele e por tantas pessoas. Mas ele foi diferente delas e dos seus próprios colegas de profissão. Eisner não teve receio de mostrar o que estava latente dentro de si.Um estilo artístico pioneiro e jornalisticamente interessante e útil. Adorei como você finalizou o texto. Ter medo de inovar jamais!
Leandro Neves
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