sexta-feira, 21 de outubro de 2011

RIO COMICON, BABY!!! - ANO 2 - DIA 2

Por Gabriel Guimarães



Claremont recebeu muito bem os fãs, após
entrevista que deu para o canal Globonews
Contando com a presença de ilustres autores de quadrinhos internacionais desde a manhã, como o roteirista Chris Claremont, célebre criador de histórias memoráveis dos X-men, e o quadrinista Peter Kuper, desenhista da tira Spy vs. Spy, publicado na revista MAD há anos, e de uma adaptação para quadrinhos do conto de Franz Kafka, "Metamorfose", o dia de hoje na Rio Comicon foi bastante positivo.

Explorando um pouco mais a disposição dos estandes e exposições, o público teve oportunidade de conferir um passeio maravilhoso pela história de vida de um dos maiores quadrinistas do hall da fama desse meio de comunicação, Will Eisner, um dos homenageados nesta edição do evento. (e que já foi homenageado aqui e aqui no blog também) Contando com uma estrutura especificamente construída para armanazenar material original produzido pelo grande nova-iorquino, o qual foi feito um plano de seguro de mais de 300 mil dólares, a exposição que conta muito da vida do autor, inclusive, com o documentário "Will Eisner: Profissão Cartunista" sendo exibido continuamente, é um dos grandes pontos do evento deste ano, e não deixa nada mesmo a desejar. Com uma maquete construída cuidadosamente de uma grande cidade na saída da exposição, onde uma estatueta do grande personagem de Eisner, o Spirit, se encontra no centro, girando em torno da metrópole característica das obras desse grande mestre, a composição de tudo ficou muito bem arranjado, contando ainda com uma pintura nesta última sala do próprio Spirit feita em um papel do mesmo material em que se vendem os pães de padaria. Por um outro lado, apesar de a estrutura da cidade montada ser excelente e, de forma surpreendente, acender suas luzes internas dentro das janelas conforme a luz do dia vai acabando na sala, o esquema para essa iluminação não parece ser tão seguro para a integridade do material e precisa de muita atenção para que não haja qualquer imprevisto neste sentido.

Imagem de Valentina, na sua exposição
Próximo dali, outra das personagens homenageadas também ganhou uma área de destaque. Trata-se de Valentina, personagem erótica criada pelo italiano Guido Crepax. O espaço designado para a amostra do material dela foi construído inteiramente dentro de seu universo, uma vez que fica exposto a uma luz violeta forte, que torna todo o ambiente algo mais sedutor e hipnotizante. Contando com material de diversas histórias dela, publicadas ao longo de muitas décadas, a exposição mostra ainda uma peça de roupa e materiais de decoração produzidos pela filha de Crepax, e cuja temática é inteiramente voltada para Valentina. Para quem puder conferir e tiver a idade necessária para tal, claro, vale bastante a pena.

Ao longo do restante da Estação Leopoldina, os estandes ainda são poucos comparado ao potencial que o local poderia comportar, e o custo elevado destes acabou provocando uma separação até certo ponto curiosa entre os autores presentes no evento. Enquanto os nomes mais conhecidos estão alocados nos estandes do corredor principal, os quadrinhos independentes ficaram com o espaço que no ano passado era conhecido como "estação dos autores", que era onde ocorriam as sessões de autógrafos com os convidados. O ambiente ficou mais arejado para se locomover, mas a divisão causou alguns desconfortos em algumas partes.

Enfim, a estrutura do evento continuou a mesma do ano passado, com a Livraria da Travessa tendo um espaço de destaque e sendo a única fonte para compra de livros, e o centro da Estação ficou ocupado por extensos murais com material produzido por dezenas de desenhistas nacionais e estrangeiros, que diga-se de passagem, estão muito bons.

Rafael Albuquerque e Danilo Beyruth durante
o debate "Conquistando a América"
O dia de hoje ainda ofereceu a oportunidade de conferir uma série de debates, como o "Conquistando as Américas", composto pelos quadrinistas Danilo Beyruth, autor da ótima história "Bando de Dois" e criador do personagem Necronauta; e Rafael Albuquerque, co-criador da série da linha Vertigo da DC "American Vampire", recentemente premiada com o prêmio Eisner (o blog chegou a comentar a indicação do trabalho de Albuquerque aqui);, sendo mediada por Ulisses Mattos. Conduzida a partir da questão da origem brasileira sendo publicada pelo mercado exterior afora, o debate abrangeu bastante o trabalho dos dois quadrinistas e suas posições sobre o "ser" brasileiro num mercado globalizado, ainda analisando a estrutura na qual o mercado de consumo de quadrinhos no Brasil se estrutura e o efeito que isso tem na produção dos autores nacionais, todo a discussão foi bastante interessante.

Analisando o efeito da internet na produção de arte sequencial (já analisadas aqui no blog antes) e as novas formas de encontrar seu público, os dois autres, que vêm obtendo cada vez mais sucesso nos últimos anos, conseguiram apresentar a importância de uma história sobre o veículo onde ela pode ser veiculada, e o quanto você poderia acrescentar em termos de oportunidade de expandir seu mercado produzindo tanto para o formato eletrônico quanto para o impresso. Beyruth, partindo da ideia de que "histórias boas são universais", defendeu que independente de onde se publique um material, seja dentro ou fora do próprio país dos autores, se ele for bom de verdade, tem plenas condições de obter sucesso, citando, inclusive, o exemplo dos westerns que se passam nos Estados Unidos que sao publicados nos fumetti italianos, ou mesmo a história "Daytripper", produzida pelos gêmeos Fabio Moon e Gabriel Bá, que primeiramente foi lançada no mercado norte-americano, arrebatando o público e rendendo grandes prêmios do circuito internacional de quadrinhos, para só então chegar ao Brasil, onde a história é ambientada.

O debate ainda contou com a presença ilustre de uma série de grandes profissionais e estudiosos do meio, como o editor Sidney Gusman, o autor Carlos Patati e o desenhista Daniel Gnattali, este último o qual está realizando uma enorme proeza de cobrir o evento da Rio Comicon no formato de quadrinhos mesmo, produzidos diariamente durante e após os acontecimentos do dia no evento, e que vale, sem dúvida, uma boa conferida.

O dia foi bastante movimentada, portanto, e para quem gosta de quadrinhos, foi um ambiente maravilhoso de conferir. Nos próximos dias, o movimento deve aumentar bastante, então é melhor se prepararem, pois:

É RIO COMICON, BABY!!!

5 comentários:

Maria Clara Modesto disse...

Muito boa a cobertura do evento. Parabéns e ainda mais sucesso nesses dias!

''Minhas experiências com as HQs'' disse...

seu blog. é sem comentários. está simplesmente fantástico. tenho vergonha de apresentar o meu .parabéns coração.

luiz_modesto disse...

A Rio Comicon deste ano supera as expectativas. A possibilidade de um contato mais próximo com os artistas e a exposição do Will Eisner já tornam obrigatória a presença de qualquer fã dos quadrinhos. Ou até mesmo de quem não é, afinal, após observar os originais deste gênio não há como não se apaixonar...

William Palmers disse...

Gabriel, o blog é incrivel, materias bem escritas e material bom. Rio Comicon, posso dizerque ir este ano foi uma grande jornada. Encontrar o Chris Claremont, ficamos na espera por um segundo com o cara e foi DEMAIS. Acredito que o Enem pode ter prejudicado o evento, mas ainda assim cada um fazia sua pequena jornada atrá de um artista, de novos livros e novas visões de trabalho. Ano que vem tem mais...

GG disse...

Obrigado pelos elogios, gente! O evento promoveu muitos momentos inesquecíveis e, por isso, jamais será esquecido.