Por Gabriel Guimarães
No primeiro dia da segunda edição anual da Rio Comicon, havia muita expectativa no ar, enquanto os estandes começavam a ser montados e os expositores começavam a ocupar a Estação Leopoldina uma vez mais. O dia foi bastante agradável e a tarde contou com uma temperatura, proporcionando muitos momentos de calmaria, o que não quer dizer que não tenha havido assunto para se comentar entre os leitrores de quadrinhos e os profissionais do meio.
Abrindo os portões uma hora mais tarde do que o planejado, o evento recebeu muito bem os visitantes desse primeiro dia, com oficinas e debates bastante estimulantes. Para quem foi conferir as aulas dadas pelos profissionais da Impacto Quadrinhos, foram apresentadas técnicas de colorização digital e de anatomia, enquanto para os interessados numa discussão acerca das dimensões que a arte sequencial vem tomando, foi apresentado o debate "Histórias em Quadrinhos e a Cultura Pop", que contou com a presença de quatro quadrinistas paulistanos, Mateus Acioli, Marcelo D'Salete, Rafael Moralez e Heitor Yida, sob a mediação do ex-integrante da banda Rapa, Marcelo Yuka, que abordou questões muito importantes para o estado atual dos quadrinhos enquanto meio de comunicação no Brasil.
Partindo de uma discussão sobre as influências da cidade de São Paulo sobre a geração de quadrinistas que vêm surgindo de lá nos últimos tempos, apontando o efeito da união de culturas das mais diversas num grande centro populacional e de como a urbanização afeta a criatividade, o debate transitou pelas experiências de cada um dos debatedores pelas ruas e a conscientização da existência na cidade de maior oportunidade para os mais diversos nichos de interesse de entretenimento encontrarem seus pares e formarem grupos de discussão. Para os que puderam assistir ao debate, foi muito interessante observar a divergência do conceito de identidade brasileira de quadrinizar entre os debatedores, pois, através de uma discussão aberta em que cada um expôs sua visão do próprio trabalho frente a essa questão, foi possível perceber o quanto às vezes a cultura da nossa rotina passa para as páginas produzidas de quadrinhos mesmo sem um propósito previamente estabelecido para isso. Discutindo obras como "Cachalote", "Peixe Peludo" e o material produzido por Lourenço Mutarelli, o debate foi bastante abrangente, com o intuito de identificar o momento dos quadrinhos brasileiros atuais.
Marcelo Yuka mediando a mesa sobre histórias em quadrinhos e cultura pop |
Partindo das páginas impressas dos quadrinhos para suas adaptações para o cinema, discutiu-se até que ponto a influência dos demais meios de comunicação determinam muitas das histórias produzidas pelos debatedores, e como eles viam essa relação, o que rendeu algumas críticas inflamadas e comentários extremamente pertinentes sobre a diferença entre a adaptação e a transcrição literal (que, inclusive, já foi comentada aqui no blog antes). Outra questão bastante importante analisada foi a importância do desenho e do texto para uma história em quadrinhos, e que medida seria ideal entre estes para que um material obtivesse um resultado positivo enquanto narrativa. O desenhista Marcelo D'Salete, partindo de sua experiência pessoal com José Carlos Fernandes, escritor português da história em quadrinhos "A Pior Banda do Mundo", que havia lhe enviado um texto de extrema qualidade, porém, que pouco poderia ter mais valor agregado por meio de desenhos, explicou sua posição de que uma história em quadrinhos só deve ser de fato feita se os dois meios de linguagem envolvidos nessa narrativa gráfica acrescentarem algo um ao outro, e caso isso não possa acontecer, é preciso avaliar a viabilidade do projeto.
Lançamento da estreia de Guilherme de Sousa como roteirista de quadrinhos e Daneil Bacellar como desenhista |
Terminando com uma análise do mercado editorial brasileiro de quadrinhos autorais, em ascenção nos dias atuais, e o papel desempenhado pelo padrinho dos quadrinhos nacionais, Maurício de Sousa, e seu estúdio no mercado, foi-se destacado a importância do trabalho de Maurício por alguns, enquanto todos ressaltaram que não existe nesse caso uma concorrência direta pelo público leitor, uma vez que as propostas são de cunho e teor muito diferentes.
A presença de autores como Rafael Albuquerque, Rafael Grampá, Gustavo Duarte, os gêmeos Fábio Moon e Gabriel Bá, e o roteirista americano Chris Claremont (este último que apenas caminhou pelos estandes observando a diversidade de gêneros expostos e disponibilizados), dos indepentes e talentosos Will Sideral, Daniel Esteves e Cadu Simões, e dos recém lançados Murilo Martins e a dupla Guilherme de Sousa e Daniel Bacellar, o evento teve bastante movimentação, atraindo os visitantes em diversas direções, e tem tudo para continuar animando muito a todos nos próximos dias que seguirão, afinal de contas,:
É RIO COMICON, BABY!!!
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