quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Steve Jobs e os Novos Quadrinhos

Por Gabriel Guimarães


Ontem à noite, o mundo perdeu um de seus grandes sonhadores. Acostumado a pensar de formas além das comuns, e a procurar soluções e meios para tornar seus projetos realidade, Jobs foi um visionário, que revolucionou o ramo da tecnologia e da comunicação a uma velocidade simplesmente assustadora, e, assim, marcou seu nome entre os grandes gênios da humanidade.

Convicto de que a vida é algo muito importante e que a tecnologia deveria melhorá-la da melhor forma que pudesse, Jobs criou uma série de empresas altamente bem sucedidas, cada uma com um foco específico, em que, inclusive, se tornaram destaques individualmente. Fosse a Apple, com o desenvolvimento de computadores pessoais com alto grau de recursos e ferramentas, com uma funcionalidade de fácil acesso para seus donos; fosse a Pixar, que revolucionou o cinema de animação, popularizando ainda mais o gênero, e expandindo-o além da antiga máxima de que desenho era coisa de criança; fosse a NeXT, criada com intuito de dar suporte a estratégias voltadas para o ensino superior e especializado, e que acabou sendo útil para fornecer a base operacional com que os MAC OS X seriam administrados.

Sem dúvida, Steve Jobs foi uma das mentes mais brilhantes que o mundo viu surgir em muito tempo. Entretanto, essa afirmação não está atrelada aos seus inventos e aparatos, ou mesmo à corrida do Vale do Silício, região que concentra as empresas e funcionários de tecnologia nos Estados Unidos, e que teve grande influência dos avanços alcançados pela empresa de Jobs, fazendo migrar estudantes de informática e tecnologia de ao redor de todo país, apenas para trabalharem na proposta do criador da Apple: Sonhar.

Na noite passada, compararam no twitter e em alguns portais de informação a figura de Steve Jobs na tecnologia à de Walt Disney no setor da animação e entretenimento infantil. Essa comparação só não é mais precisa, pois pareceu limitar-se ao quesito da inovação promovida por Jobs. Disney e ele tinham um aspecto em comum que vai muito além de questões de mercado ou de produção de instrumentos inovadores. Ambos costumavam priorizar acima de tudo o ato de sonhar, ainda que não esquecendo dos instrumentos necessários para viabilizar estes sonhos. Suas visões sobre o mundo e a vida têm muitos aspectos em comum, porém, este acredito ser o mais importante e fundamental.

Jobs numa de suas palestras sobre as inovações da tecnologia
Disney criou os Imagineers, engenheiros especializados na mecatrônica, que eram os responsáveis pela produção dos brinquedos de larga escala nos imensos parques temáticos de Mickey, Pateta, Donald e cia, a partir dessa premissa da importância do ato de sonhar, e observando os comentários dos funcionários que lá trabalham, isso é completamente claro. O que foi dito pelo chefe sênior da equipe de design da Disney, Gary Powell, aborda essa questão e uma outra que foi de extrema importância para a vida destes dois grandes visionários, que foram Walt e Steve: "Os tropeços de hoje são a força de amanhã".

Tanto Disney quanto Jobs não começaram no topo, mas construíram seu caminho até lá, e no caminho, tiveram muitos sucessos, mas muitos fracassos também. Enquanto o criador dos maiores parques temáticos do mundo chegou a pedir falência ainda com 21 anos para um pequenos negócio em que tentava iniciar sua carreira de animador, Jobs teve que superar muitas negativas de investidores e uma desavença com a empresa HP que perdurou em sua memória por décadas ainda. Entretanto, ambos contornaram as situações negativas e os desafios que surgiram na jornada, e acabaram por se tornarem únicos.


Biografia de Steve Jobs, feita em
quadrinhos, que foi publicada em
agosto deste ano

Para a relação de Steve Jobs com os quadrinhos, tema da matéria de hoje, era preciso compreender essas premissas, pois esse elo tem início nesse ato tão simples, porém, tão subestimado, como estes dois visionários um dia foram, que é o sonhar. A atividade de todo e qualquer quadrinista parte disso. Sem o sonho, os quadrinhos nada mais são do que meros desenhos sem inspiração em quadrados ou em quaisquer outras formas geométricas num pedaço de papel. Essa ação de esperança tão promovida por Jobs é fundamental para que as grandes invenções e as grandes histórias possam surgir.

Entretanto, a relação do grande inventor com a arte sequencial é mais direta do que muitos imaginam, basta que se observe o cenário completo de um ponto de vista mais amplo. Jobs não apenas permitiu melhorias em nível avançado na vida de profissionais da eletrônica ou de produtores audiovisuais, grandes consumidores de seus produtos, mas também de todos os aspirantes e já renomados profissionais dos quadrinhos também (isso já foi analisado antes aqui no blog). Com os recursos técnicos que disponibilizou, a nona arte teve o número de seus representantes exponencialmente elevado. Jobs ampliou o mercado e pôs na mão de todos os que sonhavam fazer quadrinhos os meios para tal, com tecnologia de ponta e recursos abundantes.

Se hoje somos tantos, em muito se deve a Jobs pelos meios que possibilitaram isso, e esse dado não pode ser relevado. Além disso, o trabalho que Jobs empenhou na criação e desenvolvimento de seus dispositivos móveis abriu as fronteiras para um novo horizonte de leituras disponíveis, com a narrativa adquirindo aspectos jamais imaginados antes, adaptáveis aos mais diversos formatos e resoluções. Hoje, os quadrinhos estão conosco onde quer que os queiramos, no momento em que assim pensarmos. Sem os avanços atingidos nesse campo da tecnologia, isso jamais seria possível.

Mas talvez a forma mais direta de importância de Jobs para as histórias em quadrinhos se encontre nos recursos de uma de suas últimas invenções, que está conquistando cada vez mais espaço no mundo todo, o iPad. Produzido para concorrer com o Kindle, da Amazon.com, enquanto instrumento de leitura eletrônica de conteúdo literário digitalizado, além de uma pluralidade de funções imensa, o aparelho causou um furor em todo o globo por reinventar o ato de ler, o que, indubitavelmente, afeta toda a história da arte sequencial.

Os quadrinhos precisaram se adaptar novamente a essa nova mídia, e passaram a usá-la como forma de crescer ainda mais em termos de reconhecimento e importância nos dias de hoje. As editoras tradicionais, fossem de quadrinhos ou não, precisaram passar por uma reformulação urgente, uma vez que o mercado exigia mudanças no que tange ao relacionamento com os clientes e com os recursos do material disponível para eles. E, dessa forma, surgiram iniciativas como a ComiXology, responsável pela adaptação do material produzido inicialmente pela Marvel (o que também já foi observado aqui no blog antes) e que antes estava no banco de dados de seu site ainda em estado embrionário. Em pouco tempo, o mercado representado por essa empresa de conversão se expandiu, englobando outras grandes editoras, dentre as quais, a maior rival do seu primeiro grande cliente, a DC comics.


Os efeitos disso no mercado de quadrinhos são assustadores pela dimensão que têm atingido. Recentemente, numa estratégia bastante arriscada e curiosa, a DC anunciou que zeraria todos os seus 52 títulos regulares e passaria a lança-los simultaneamente em formato impresso e em formato eletrônico, disponível para compra nas lojas virtuais da ComiXology (o que já foi tema de matéria aqui no blog), fazendo tanto os profissionais do meio repensarem na urgência da digitalização de seus conteúdos, quanto os leitores desse material, que passaram a aguardar com um certo misto de esperança e receio o que isso provocaria ao sistema de gerência do negócio dos quadrinhos americanos, historicamente dependente do esquema das comic shops clássicas e revenda sob demanda.

Os quadrinhos estão num período de transição muito grande, e não se sabe exatamente para onde isso vai nos levar, mas, com certeza, jamais teríamos saído do lugar sem a grande influência deste inventor, sonhador e visionário, que é o grande propósito da homenagem feita aqui, Steve Jobs.

Como o autor de programação sênior do setor de desenvolvimento criativo da Disney, Kevin Rafferty, tão belamente definiu, "você só chegará à Terra do Nunca se acreditar que pode voar." E Jobs nos deu muitas das ferramentas necessárias atualmente para isso. Obrigado por tudo, Steve. 

2 comentários:

* Andhora Silveira * disse...

Steve Jobs fará falta no cenário tecnológico, mas seus feitos e conquistas estão aí e ficarão eternizados, sem dúvida. Ele modificou nossa maneira de encarar a tecnologia... criou tendências, como você bem explicou no post.

Muito bonita a homenagem... :)

Anônimo disse...

Mauricio
muito legal , aguarde novas materias