domingo, 15 de abril de 2012

Dia Mundial do Desenhista

Por Gabriel Guimarães



Certa vez, o poeta americano Robert Penn Warren afirmou que "os homens vivem pelas imagens. Elas se oferecem a nós das paredes do mundo e do tempo". Observando a cultura pré-histórica e os estudos arqueológicos dos últimos séculos, a declaração de Warren tem uma grande correlação com a realidade. Através do tempo, o uso de imagens como forma de expressão e consumo cultural e/ou material foi uma das atividades mais realizadas pelo homem, como se o ato de explicar por traços que simbolizam a realidade estivesse sempre dentro da essência de nossa própria humanidade.

Pinturas rupestres das cavernas onde
os primeiros homens habitaram
A relação dessa natureza fundamental do 'narrar' por imagens pode ser muito bem estudada nos livros de história antiga, e sua ligação com a arte sequencial das histórias em quadrinhos corriqueiramente lidas não tardou muito em aparecer. Através de estudos de grandes quadrinistas como Will Eisner e Scott McCloud, majoritariamente, é fácil perceber as nuances entre a primeira forma usada para comunicação efetiva na história da humanidade e o meio de comunicação de massa assumido em 1895 no jornal "New York World", sob a autoria do americano Richard Outcault, apesar de haverem alguns precursores muito interessantes que merecem destaque, como o sueco Rodolphe Töpffer, o alemão Wilhelm Busch e o ítalo-brasileiro Ângelo Agostini.

Imagem da Times Square, área mundialmente
conhecida de Nova York por seus banners
O desenho está na área mais profunda de nossa essência, pois nada mais o alfabeto é que imagens desenhadas para representar sons, e sem a língua escrita, jamais poderíamos construir uma sociedade e manter relações entre indivíduos diferentes. Tal afirmação pode soar como uma extrapolação do sentido de desenhar, mas creio que serve devidamente para enfatizar a ordem de importância do desenho na realidade. Num mundo onde hoje a comunicação visual se expandiu para todos os lados, muitas vezes provocando até uma poluição mental e dificuldade de concentração, o desenho nunca esteve tão presente e a comunicação através de imagens nunca foi tão comum e fundamental como é agora. Ziraldo afirmou, em uma entrevista dada há alguns anos, que "as histórias em quadrinhos tem o ritmo que o Século XXI exige", oferecendo assim ao leitor uma forma de adquirir novos conhecimentos e dominar novos conteúdos de forma a ter uma assimilação mais rápida e de fácil identificação.

Neste dia 15 de abril, então, nós, do blog Quadrinhos Pra Quem Gosta, gostaríamos de parabenizar todos os muitos e dedicados profissionais da arte do desenho, seja para fins narrativos ou mesmo meramente expressivos, pelo dia mundial do desenhista. A arte com a qual cada um de vocês preencheu nossas vidas tornou tudo em nós mais belo e gerou por si só dimensões de significado que muitas vezes não foram sequer imaginadas por seus autores. A vida construída a partir da arte nunca é fácil, a batalha pelo reconhecimento e valorização é árdua e duradoura, precisando muitas vezes ser travada continuamente, rompendo barreiras e conceitos previamente estabelecidos. Porém, foi nessa área que grandes homens imortalizaram seu legado para nossa espécie. Desde a pintura renascentista até a atual arte narrativa dos comerciais, o desenho foi uma grande ferramenta de mudança. Paradigmas, conceitos e até governos ruíram ou se erigiram a partir das imagens, e assim continuarão, enquanto durar nossa existência.

Vitor Cafaggi em destaque, autografando
edição de "Pequenos Heróis" na Rio Comicon 2010
Nos quadrinhos, grandes nomes ficaram marcados na história do gênero por suas contribuições. O próprio Eisner, que realizou alguns dos principais estudos acerca do cerne no qual a arte sequencial se baseia (termo, inclusive, o qual ele teve total autoria), é um forte exemplo disso, além de muitos outros mestres do traço, como os hábeis John Buscema e Jack Kirby, o despretensioso porém marcante Bill Waterson, os desinibidos Milo Manara e Guido Crepax, o imaginativo Jean Giraud (que já foi tema de matéria aqui no blog antes), o eficiente Milton Caniff, o realista Alex Ross, ou mesmo no campo brasileiro, no traço cheio de narrativas em sua estrutura do paraibano Mike Deodato Jr, a pureza do mineiro Vitor Cafaggi, o sensível e romântico paulistano Mário Cau, o peculiar e absorto carioca Lourenço Mutarelli, e os poéticos e gênios gêmeos, também de São Paulo, Fábio Moon e Gabriel Bá, entre tantos outros, sem contar o grande padrinho dos quadrinhos nacionais, que foi tema citado na última matéria do blog, o paulistano Maurício de Sousa.

Mário Cau, em frente a uma de suas histórias, cuja
narração é feita de forma linear porém dando liberdade
ao espectador de construir sua própria compreensão da obra

A todos os grandes companheiros de quadrinhos, deixo as mais sinceras congratulações e o desejo por um futuro cada vez melhor, com mais reconhecimento e mercado para suas grandes obras de arte, que tornam-se nossas também ao assumir um canto muitas vezes esquecido dentro de nossos corações, o campo do imaginário e da emoção. Se o ditado "uma imagem vale mais que mil palavras" tivesse qualquer porção de acertividade, através dos trabalhos de vocês pudemos ouvir suas almas cantarem as mais belas árias e atentar para as mais questionadoras exposições do mundo social em que vivemos. Porém, acredito que a palavra tenha igual valor à imagem e, portanto, gostaria também de deixar sinceros votos de alegria e realização para os autores de roteiros e peças escritas, que inundam nosso imaginário das imagens que pretenderam construir.

Grupo de quadrinistas da revista "Beleléu",
reunidos para desenhar suas histórias

Fica, então, um grande agradecimento a todos por suas colaborações singulares e de valia inestimável para a vida de cada um de seus espectadores e/ou "leitores". Parabéns pelo dia do desenhista a todos, e que a arte que os guia possa sempre render-lhes novas experiências tanto dentro quanto fora de vocês mesmos e para cada um de nós também. Parabéns!

2 comentários:

Anônimo disse...

O que comentar num post onde tudo foi dito? Só dar os parabéns ao autor pelo excelente trabalho novamente.

João Ferreira disse...

Excelente homenagem! Gostei de algumas frases suas... adorei o termo "poluição mental". Abraços!