quinta-feira, 17 de novembro de 2011

A Nova DC Deu Certo?

Por Gabriel Guimarães


Há poucos meses atrás, a editora norte-americana DC causou um grande alvoroço no mercado editorial de quadrinhos ao anunciar que passaria a publicar de forma simultânea nos formatos impresso e eletrônico todos os 52 títulos que seriam produzidos pelos profissionais da companhia, todos feitos com uma nova numeração, num gesto de rompimento com o passado para atrair o novo leitor (todo esse evento foi analisado aqui no blog na época). Sem saber os reflexos dessa estratégia, os revendedores das tradicionais lojas de gibis e produtos do ramo de entretenimento entraram em pânico, e precisaram ser atendidos quase que individualmente pelos responsáveis da DC para chegarem a um acordo em comum que favorecesse os quadrinhos como um todo, dentre os pontos em comum alcançados, encontra-se um sistema de bonificação para os lojistas que desenvolvessem uma loja virtual para compra do material da editora, ainda que estes vendessem o produto impresso também.


Jim Lee e Geoff Johns, dois dos grandes responsáveis
pela estratégia digital da DC

Após muita especulação sobre o futuro dos quadrinhos enquanto meio de comunicação tradicionalmente encontrado no papel, e as mudanças que a transição para o digital acarretaria, no mês de setembro, saíram as primeiras 52 edições do que seria o futuro de uma das maiores editoras de quadrinhos dos Estados Unidos, alavancando números extremamente positivos em termos de arrecadação com as revistas dos personagens DC, como, por exemplo, a primeira edição da Liga da Justiça, que foi o recorde do ano para os Estados Unidos, com 150 mil exemplares (o recorde mundial deste ano, apesar de existir certa polêmica entre os estudiosos, é da revista brasileira "Turma da Mônica Jovem nº34", que foi tema de matéria aqui no blog). Parecia ser um sucesso absoluto, já que no mês seguinte, também houve uma corrida em massa para que os leitores pudessem comprar a segunda edição das 52 séries, cada um ao seu gosto, entretanto, trata-se ainda de um movimento muito recente, e venho por esta matéria a observar de forma o mais objetivamente possível os reflexos e eventuais desenrolares que essa evento provocou e pode ainda provocar nos quadrinhos.


Batman e Mulher-Gato, em cena bastante quente, depois
do reboot da DC

Apesar de muitos títulos terem sido aclamados, houve muita polêmia acerca dos temas expostos e do nível das histórias, que agora possuem cenas de sexo gratuito e descompromissado além de carnificinas brutais, como foram os casos das personagens Estelar e Mulher-Gato e do título novo da Tropa dos Lanternas Verdes, respectivamente. Muitos leitores, críticos e fãs de longa data não conseguiram ver uma razão tão plausível para essa drástica mudança, além, é claro, do tradicional recurso visual para estimular as vendas das revistas. Esse reboot, entretanto, não se limitou apenas à temática e o formato, mas também provocou diversas mudanças no nível estrutural do universo DC, onde muitos de seus personagens tiveram suas origens modificadas e suas personalidades remexidas. Talvez o caso mais destacado disso seja o grande nome da editora, o Superman, que passou a ser solteiro novamente, perdeu a cueca por cima das calças e agora possui histórias de duas linhas cronológicas, que, presumivelmente, chegarão ao ponto de causa e consequência na vida do personagem, para que o leitor possa compreender tudo o que aconteceu e o que mais afetou o personagem nessa sua nova versão.

No mercado, a estratégia pareceu ser um sucesso, levando a Marvel, maior concorrente da DC, a correr atrás do prejuízo e procurar uma forma de se adaptar a essas mudanças na forma de relacionamento com o leitor. Há cerca de duas semanas, a Casa das Ideias anunciou que a partir de março de 2012, seus títulos também serão publicados de forma simultânea, em papel e formato eletrônico, com exceção dos títulos licenciados a terceiros, como o material que o escritor de terror Stephen King tem feito por lá, e os títulos da série MAX, cujo conteúdo é mais adulto do que os da linha tradicional. A editora Dark Horse comics, que já possuía um aplicativo para iPad onde era possível comprar o material da editora desde janeiro de 2011, está acrescentando cada vez mais títulos a serem disponibilizados na loja, dentre os quais que ingressaram recentemente lá estão as revistas que expandem o universo da personagem Buffy, da série de televisão criada por Joss Whedon, "Buffy, A Caça-Vampiros", o que tem agradado muito os fãs. Ou seja, o mercado está mudando.



Cena do personagem Aquaman,
que vem ganhando muita visibilidade
sob direção de Geoff Johns com arte
do brasileiro Ivan Reis

 Acredito que ainda seja um tanto cedo para apontar o que vai acontecer, porém, ninguém pode se dar ao luxo de ignorar as mudanças essenciais que o mercado vem sofrendo, tanto editores quanto profissionais do meio. A forma do leitor se relacionar com os quadrinhos está passando por uma transição, que ainda levará um considerável tempo para se finalizar, seja para uma digitalização de todo o conteúdo das editoras ou mesmo uma divisão do mercado entre o impresso e o eletrônico, que é o mais provável, em vista da diferença de recursos expressivos e potenciais comunicativos de cada um. Com o avanço acelerado que a tecnologia vem sendo desenvolvida, que afeta diretamente todos os meios de comunicação, tanto em termos de produção quanto em termos de reprodutibilidade (a relação dos avanços tencológicos com os quadrinhos já foi analisada aqui no blog antes, e o papel de Steve Jobs, o criador da Apple, uma das grandes responsáveis por esse avanço todo, também já foi comentado aqui ), ainda há muito por acontecer nessa corrida para o virtual, e tudo ainda precisará ser observado com extrema cautela e atenção pelos profissionais do setor de quadrinhos.


Para quem tiver o interesse, o site do jornal New York Times publicou uma matéria online sobre os resultados iniciais da nova DC, que são interessantes de serem observados. Essa matéria pode ser vista aqui. O site Multiverso DC também fez uma matéria analisando os números das vendas no primeiro mês dessa estratégia no mercado editorial norte-americano de quadrinhos, que pode ser conferida aqui. Sobre a subsequente estratégia da Marvel em publicar simultaneamente seu conteúdo impresso e digital, fica a recomendação para a notícia dada pelo site americano Gizmodo, que pode ser vista aqui.

Um comentário:

* Andhora Silveira * disse...

Eu estou otimista com esse novo reboot. Estou acompanhando alguns títulos e estou gostando bastante, principalmente da revista Wonder Woman. É bem arriscado fazer um reboot dessa maneira como a DC fez, mas espero que mantenham o bom nível das histórias.