Por Gabriel Guimarães
Ano passado, as histórias em quadrinhos no Brasil tiveram um ano extremamente feliz, marcado por grandes eventos, lançamentos de alta qualidade e talentosos profissionais se destacando no ramo. O mercado editorial brasileiro apontou um número recorde de publicações independentes no setor da arte sequencial, destacando tanto o crescente interesse de jovens autores em ingressar no meio como uma nova realidade para a publicação de títulos no país. Uma vez que os formatos digitais permitem uma divulgação maior por parte dos próprios autores da obra, além de gráficas que oferecem serviços por encomenda limitada com bom acabamento, como a gráfica J. Sholna, presente na última edição da Rio Comicon, as editoras brasileiras passaram a se movimentar mais para trazer material às livrarias para suprir a recente demanda do público, e uma delas, especificamente, tem se destacado de forma inesperada mas muito bem vista nestes últimos meses, trata-se da editora L&PM.
Já presente no mercado de quadrinhos há décadas, sendo a principal responsável pela publicação de tirinhas como Garfield, Charlie Brown, Hagar, Dilbert e Recruta Zero, além de vários volumes de outros personagens, desde material internacional como a vencedora do prêmio Ângoloume em 2006 de melhor álbum de estreia, "Aya de Yopougon", da dupla Marguerite Abouet e Clément Oubrerie, a emocionante "Valsa com Bashir", de Ari Folman e David Polonsky, e mesmo materiais do grande pioneiro dos quadrinhos Will Eisner (que já foi tema de matéria aqui e aqui no blog), até republicações de material da turma da Mônica, do padrinho dos quadrinhos brasileiros Maurício de Sousa, fora outros grandes quadrinistas da produção nacional, como os cartunistas Angeli e Iotti, a editora L&PM aparentemente entrou forte na disputa do nicho de mercado voltado para a nona arte, que vem representando a cada ano uma fatia maior dos leitores de livros em geral. Já tendo publicado no ano passado a nova versão revisada e ampliada da "Enciclopédia dos Quadrinhos", de Goida e André Kleinert, e iniciado sua série de adaptações dos clássicos da literatura para a arte sequencial, em apoio com a Unesco, com um trabalho que, diga-se de passagem, possui grande qualidade tanto narrativa quanto artísticamente, a L&PM vem se mostrando disposta a investir mais em quadrinhos e recentemente, lançou mais dois livros do setor.
O erótico "Erma Jaguar", do francês Alex Marene, e o cômico "Simon's Cat", do britânico Simon Tofield, que segue numa linha entre Jim Davies e o brasileiro Estevão Ribeiro, são os dois mais recentes lançamentos da editora, que chamaram a atenção entre as estantes das livrarias. Tendo publicado já no final do ano passado três volumes em seu formato mais tradicional e que o cansagrou junto ao público, o pocket, de mangás que ainda não haviam chegado ao Brasil, como "Aventuras de Menino", de Mitsuru Adachi, e o já comentado e recomendado "Solanin" (cuja resenha pode ser conferida aqui no blog), de Inio Asano, a editora vem mostrando interesse em participar mais ainda da publicação de quadrinhos no país, o que é uma grande vitória para os quadrinistas e fãs do ramo.
Com um catálogo recheado de títulos de grande respeito e uma qualidade de trabalho reconhecida desde sua fundação, em 1974, pela dupla Paulo de Almeida Lima e Ivan Pinheiro Machado, a editora L&PM, que se destacou pelo rico catálogo de livros em formato de mais fácil transporte e leitura, em geral, denominados pocket books, curiosamente iniciou suas atividades justamente com material de arte nacional, do cartunista Edgar Vasques, com seu personagem "Rango", um anti-herói que se tornou marca da luta contra a ditadura militar que acontecia no Brasil. Com essa origem, não é tanto uma surpresa que a editora tenha mantido uma tradição de trabalhar com o campo da arte sequencial visando sempre a publicação com melhor qualidade possível de grandes autores do meio. Em 40 anos de existência, seu papel só fez crescer e sua presença nas casas dos leitores brasileiros aumentou cada vez mais. O futuro parece reservar boas novas vindas da editora, e sua crescente participação no mercado editorial de quadrinhos brasileiros mais do que merecia uma congratulação já há algum tempo aqui no blog. Que essa grande iniciativa e bom trabalho continuem a crescer em número e em expansão para o meio. Observaremos ansiosamente por futuros lançamentos da editora.
2 comentários:
Torço muito por um mercado mais forte, e com um número crescente de publicações. Infelizmente, vejo um investimento cada vez mais forte em publicações nada atraentes para serem formadoras de novos leitores, e mais para arrancar dinheiro de quem está disposto a conhecer este produto.
Uma pena, vejo (ainda) muito potencial em incentivar o quadrinho por aqui, em terras tupiniquins...
Alex, concordo com você quando diz que há um grande potencial brasileiro a ser exposto que não tem o espaço que deveria, entretanto, as publicações mencionadas nada tem de pouco atraentes. Elas, igualmente ao material nacional, oferecem uma perspectiva de mundo tão válida quanto a nossa própria. O incentivo da editora L&PM tem sido muito bom tanto em termos de material quanto em acabamento, sinceramente, e acredito que valha uma salva de palmas por acreditar no setor e investir nele dessa forma. Que isso cresça cada vez mais, tanto nela quanto nas demais editoras desse nosso país afora.
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