quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Segundo Dia de Atividades

Por Gabriel Guimarães


No segundo dia da oficina sobre as relações entre os quadrinhos e o cinema, ministrada pelo estudioso Carlos Patati, no evento "Super-Heróis X Anti-Heróis - Dos Quadrinhos às Telas", que ocorre no centro cultural da Caixa, no centro do Rio de Janeiro, o assunto principal foi a história dos quadrinhos de aventura na sua ótica europeia.

Após ter iniciado sua linha de raciocínio no primeiro dia contando o pioneirismo encontrado na obra "Wash-Tubbs", mais conhecido aqui no Brasil como "Capitão César", feita pelo americano Roy Crane para as tiras dominicais dos jornais, Patati retomou as mudanças da transição entre o gênero do humor para a aventura, apontando grandes nomes que ajudaram a consolidar os intrépidos protagonistas de histórias mais metodicamente trabalhadas, como Hal Foster, Alex Raymond e Al Williamson, para então partir para o mercado europeu de quadrinhos, citando nomes como Hugo Pratt, Jean Giroud, mais conhecido pelo seu pseudônimo Moebius, Ivo Milaso, Giancarlo Berardi, e a excelente tradição desenvolvida pela editora italiana Bonelli, cujos grandes nomes Giancarlo e Sergio Bonelli marcaram seus nomes na história dos quadrinhos (ano passado, após o falecimento de Sergio Bonelli, o blog prestou uma homenagem ao grande editor que pode ser vista aqui).


Cangaceiros no traço de Hugo Pratt

Começando pelo trabalho desenvolvido pelo italiano Pratt, que consistia em obras extremamente detalhadas acerca da cultura global de seu principal personagem, o marinheiro Corto Maltese (que já foi tema de matéria aqui no blog), Patati destacou influências do trabalho do americano Milton Caniff no que concerne ao belo uso do preto e branco contrastantes para reforçar determinados aspectos da história. A maestria narrativa do italiano também foi muito merecidamente destacada. O trabalho de pesquisa desenvolvido pelo ex-navegador e agora quadrinista também foi ressaltado, utilizando como exemplos obras em que seu personagem visitava terras do Oriente e até o nordeste brasileiro. Patati apontou, inclusive, que a riqueza do trabalho produzido por Pratt sobre a cultura do cangaço no nordeste brasileiro só se equipararia ao realizado pelo paulistano Danilo Beyruth, com sua obra "Bando de Dois", publicada há poucos anos atrás. Tendo em vista que o francês realizara sua história nesse cenário na década de 1960, é impressionante, portanto, sua dedicação para com a história que estava contando.

Uma vez que Pratt morou em vários pontos do globo, não é de se surpreender, então, que já tenha residido em países da América do Sul, como a Argentina, onde desempenhou papel fundamental para fomentar a escola de quadrinistas argentinos que começava a surgir na época, com nomes como Alberto Brescia, José Muñoz, e os autores do personagem "El Eternauta", que está para ser lançado esse ano aqui no Brasil pela editora Martins Fontes, Hector Oesterheld e Francisco Solano López (este último que foi tema de matéria aqui no blog). Dentre estes apontados, Patati destacou a carreira de Muñoz, que chegou a ocupar, inclusive, o cargo de presidente do comitê do Prêmio Ângoloume, da França, há dois anos, o qual é um dos maiores prêmios mundiais para a nona arte.

Voltando ao mercado europeu, o foco voltou-se para o personagem "Tenente Blueberry", criado e desenvolvido pelo mais humanizado Jean Giroud do que pelo mirabolante campo da ficção científica de Moebius. Através dessa história de velho oeste americano, feita por um autor não-americano, Patati destacou o trabalho exímio de pesquisa realizado por Giroud, e apontou as características do tradicional álbum francês presentes na obra, que constam na presença constante da cor, com tradicionalmente cerca de  48 páginas de conteúdo completo da história, publicadas de 2 em 2, em média, em magazines semanais especializadas. Observando os demais trabalhos do autor francês, agora mais próximo ao seu lado Moebius, foi explicado que a diferença verdadeira entre a verossimilhança de determinadas questões presentes nas histórias em quadrinhos vem da disponibilidade de prazos e condições de produção nacional referente aos autores daquele conteúdo especificamente. Enquanto John Romita Sr realizava um trabalho de destaque nesse sentido no Homem-Aranha junto a Stan Lee, dadas suas limitações de prazo, Moebius realizava obras de maior detalhismo e riqueza de traços pela liberdade que adquiriu no mercado europeu.


Outro artista que teve seu trabalho destacado também foi o americano Mike Mignola, que tal qual Pratt, utilizando de referências da literatura do escritor H. P. Lovecraft e influências determinantes do estilo de Caniff, produziu histórias de grande comoção do público, dando ênfase ao conflito ético inerente ao seu personagem de maior destaque, "Hellboy". Essa escolha entre o bem e o mal, apesar da natureza do personagem reforçou a temática das aventuras na história do protagonista, tornando-o uma referência para os leitores do gênero terror que procuravam algo com elementos de aventura e emoção. Todos esses conflitos e os trabalhos de pesquisa realizados pelos autores citados são elementos igualmente encontrados no desenvolvimento de filmes, e estão presentes no cotidiano dos profissionais na sétima arte.

Num campo talvez mais direto, foi apontada também a procura por parte da editora Bonelli em aproximar o visual de seus personagens aos de atores e atrizes mundialmente reconhecidos, dessa forma atraindo maior interesse do público, como são os casos do personagem Ken Parker e o ator Robert Redford (a qual pode ser conferida abaixo), a detetive investigadora Julia Kendall e a queridinha da América, Audrey Hepburn, o novo índio Mágico Vento e o ator Daniel Day Lewis, além dos personagens-escada presentes em todas as histórias da editora, tradição desenvolvida para esses quadrinhos italianos, como o caso do ajudante do investigador sobrenatural Dylan Dog, cuja aparência era exatamente a mesma do comediante Grouxo Marx.



Cena da primeira adaptação do
personagem Capitão América
para as telas

A apresentação foi extremamente interessante, e o conteúdo das informações dispostas simplesmente enriquecedor. O público, apesar de em não tão menor número, se mostrou bastante interessado, e as discussões sobre adaptações de quadrinhos para o cinema foi bastante comentada. Ainda ocorreram as exibições de obras como a primeira versão filmada do "Capitão América", de 1944, e o filme nacional"Besouro", sobre um herói capoeirista brasileiro, que dividiu a opinião dos visitantes presentes. Nos próximos dias, continuará havendo muita atividade, e até o dia 22 de janeiro, o público de quadrinhos tem, portanto, encontro marcado.

4 comentários:

Anônimo disse...

Hugo Pratt não é francês, é italiano :-)

GG disse...

Falha técnica verificada. Obrigado pela correção! Já foi modificado! =)

arafatt disse...

arafatt na area..Humberto PRESENTE salaamm

João Ferreira disse...

Muito boa a síntese do segundo dia. Gostaria de ter absorvido tanta informação quanto vc. hehe Mas eu sou de outra área, entendo pouco. Estive nesse curso mais como um "curioso" e pripalmente como "fã" de HQ's. Posso dizer que aprendi muito, mas estou ainda estou muito longe de ser um verdedeiro "entendido" no assunto. hehehe Abraços!