segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Parcerias Inestimáveis

Por Gabriel Guimarães


Como o grande jornalista e diretor-presidente da Rádio Panamericana de São Paulo, Antonio Augusto Amaral de Carvalho, mais popularmente conhecido como Tuta, costumava dizer, "ninguém faz sucesso sozinho". Por mais que um possa ter habilidades e dons admiráveis ou um tino natural ou adquirido para determinado campo de ação, é imprecindível compreender que sem aqueles que o cercam, nada ele poderia de fato fazer. E foi a partir dessa constatação, que surgiu o conceito de sociedade na qual estamos inseridos hoje. Sem as pessoas das mais diversas funções, jamais conseguiríamos realizar qualquer feito, fosse em qual área que se tentasse. Todos somos importantes, uma vez observado o intrincado sistema pelo qual tudo se organiza.

Eventualmente, há erros nesse processo, e lacunas escassas que são percebidas por poucos. Quando isto acontece, nos deparamos com os casos de falsidade ideológica ou de corrupção com que os jornais preenchem muitas de suas páginas num ritmo diário. Entretanto, não pretendo ater a essa perspectiva política, e o tema dessa matéria encontra-se no ramo da comunicação.

Atualmente, vivemos numa era da participação ativa, permitida em grande parte pela convergência digital que vem ocorrendo nos últimos anos. Sem o contínuo contato e interação com os outros, através das redes sociais, nenhum projeto consegue se sustentar por si só. O advento da internet possibilitou uma produção individual extremamente rica em termos de pesquisa e abordagem, porém, essa estrutura não representa nada propriamente dito, se não levar em conta o contínuo percurso da informação nos dias de hoje. Os portais de notícias, por exemplo, são grandes centros de acesso diário, porém, sem os leitores que o divulgam, seja por seu todo ou por alguma notícia específica, essa quantidade de buscas não chegaria nem perto dos números rotineiros.
Personagem principal
da tirinha de Outcault,
que ficou conhecido como o
primeiro personagem de
quadrinhos, o Menino Amarelo

Feita essa introdução, acredito que possamos entrar no mundo dos quadrinhos. Ainda que, oficialmente, tenha sido um homem, Richard Outcault, a expandir a história em quadrinhos como meio de comunicação de massa, em 1895, ao observarmos de um ponto mais amplo, o uso da arte como efeito narrativo é oriundo de muitos séculos, milênios atrás. E sem a evolução que foi ocorrendo nos meios artísticos e expressivos ao longo de todo esse tempo, seria impossível para Outcault realizar sua estória "Down Hogan's Alley", para ser publicada no jornal New York World.


Jerry Siegel e Joe Shuster,
cuja parceria resultou na
criação do Superman

Com o passar das décadas, a arte sequencial foi absorvendo a característica de produção em massa das indústrias, grande elemento social dos últimos séculos, e uma história em quadrinhos passou a ser produto não de apenas duas mãos físicas e de uma evolução histórica dos meios de comunicação, e passou a se tornar algo maior, um bem criado a partir dos traços culturais e pessoais de uma série de profissionais capazes e destacados em suas determinadas áreas, fosse a confecção de roteiros, a produção de desenhos, a finalização da arte, a beleza da colorização ou mesmo a árdua tarefa da administração geral e publicação material da fusão disso tudo. E a partir de então, os leitores foram agraciados por muitos casos memoráveis em que a união entre os profissionais de quadrinhos foi tamanha, que produziu histórias antológicas e inesquecíveis para os admiradores da nona arte. Esta união é que é o grande foco da matéria de hoje do blog.
Grupo CLAMP de quadrinistas japonesas

Seja essa cooperação feita por muitas mãos, como acontecia nos clássicos syndicates norte-americanos, ou por apenas poucos, porém, significativos e talentosos criadores, o público testemunhou na história dos quadrinhos algumas parcerias que jamais serão esquecidas. Seja a invenção do primeiro super-herói dos quadrinhos, o Superman, feito por Jerry Siegel e Joe Shuster em 1938, ou então a produção de incontáveis personagens de grande apelo popular e de grande reconhecimento, feitos pelo grupo CLAMP, composto por algumas das mais habilidosas quadrinistas japonesas (que, inclusive, será homenageado com uma exposição na Rio Comicon deste ano), a união de grandes profissionais foi capaz de tornar o comum algo extraordinário, e principalmente, inesquecível.

As colaborações que marcaram época podem até não ser do conhecimento do grande público, porém, seu resultado é. Neste caso, os grandes exemplos vêm do bom relacionamento entre Victor Civita, fundador da editora Abril, e o editor Claúdio de Souza, cuja dedicação ao mercado editorial brasileiro presenteou o Brasil com fases memoráveis de revistas com os personagens da Disney e, posteriormente, dos super-heróis americanos, vendidos no formato que se tornou clássico dos quadrinhos no país, o formatinho (13 x 21 cm). Quando Waldyr Igaiara se juntou à editora, anos mais tarde dessa aliança já estar consolidada, permitiu um crescimento ainda maior dos quadrinhos no país, a partir da formação de um núcleo de produção das histórias da Disney feitas dentro do próprio Brasil, que era de um nível tão aprimorado, que chegava a ser exportado para o exterior, inclusive, para o país de origem deles, os Estados Unidos. Algum tempo depois, entretanto, executivos da editora que passaram a assumir alguns dos cargos mais altos dentro da hierarquia empresarial, por não terem interesse na evolução dos quadrinhos nacionais a longo prazo e exigirem retornos imediatos, optaram por não estimular mais essa produção, e os quadrinhos produzidos por esse núcleo se extinguiram. Até os dias atuais, porém, essa fase que foi resultado dessa união entre grandes profissionais do meio editorial é algo memorável para os leitores da época, e um lamento muito grande ainda é visto pela não continuidade desse projeto.

Dos casos mais conhecidos, destacam-se a parceria antológica do roteirista Stan Lee e o desenhista Jack Kirby, que rendeu como fruto quase todo um universo inteiro de personagens; a união dos quadrinistas franceses René Goscinny e Albert Uderzo, pais do Asterix e autores de suas intrépidas aventuras na Aldeia dos Gauleses; a cooperação entre Neal Adams e Dennis O'Neill, que produziu um momento fundamental da história dos personagens Lanterna Verde e Arqueiro Verde, na década de 1970; e o atual e brilhante momento vivido pelos gêmeos brasileiros Fábio Moon e Gabriel Bá, que recentemente produziram uma das histórias em quadrinhos de maior qualidade feitas esse ano, e que foi lançada oficialmente aqui, no Brasil, na última edição da Bienal do Rio de Janeiro (este momento foi coberto com particular atenção aqui no blog antes, e a Bienal como um todo foi visitada e analisada aqui), "Daytripper".

Para as parcerias mais ocasionais, mas que renderam excelentes obras, ficam a união dos grandes europeus Hugo Pratt, criador do personagem Corto Maltese (cujo contato entre as diferentes culturas visto em suas histórias já foi estudado aqui no blog antes), e Milo Manara, o nome máximo do quadrinho erótico mundial, para a produção da história "Magico Vento"; e a união impossível de não ser mencionada aqui, diga-se de passagem, de mais de 150 quadrinistas brasileiros feita nos últimos anos para o grande projeto em homenagem aos 50 anos de carreira do padrinho dos quadrinhos brasileiros, Maurício de Sousa, sob a excelente batuta do editor Sidney Gusman (cujo trabalho já foi destacado aqui no blog antes também).

O blog Quadrinhos Pra Quem Gosta, inclusive, não foge dessa máxima, que motivou a matéria como um todo, e ele jamais poderia se sustentar sozinho, sem o (grande) apoio que vêm recebendo através das redes sociais e das amizades que foram surgindo nos grandes eventos de quadrinhos dos últimos tempos, e essa força a mais merece ser lembrada, destacada e retribuida, portanto, gostaria de indicar alguns dos portais que tanto nos auxiliam em termos de informação, como de motivação. Alguns, como os blogs "O X da Questão" e o "Letras e Relicário", no passado, já foram divulgados mediante o surgimento de oportunidade para isso, porém, muitos valorosos e inestimáveis parceiros ainda precisam de uma indicação devida, como o "SuperNovo", o "Leituras de BD/Reading Comics", o "Blique", o "Ivan Carlo Blog", o "Andhora's Blog", o "Quadro a Quadro", o "Irlandês Maluko", o "Sub Rosa", o "Júpiter 2", o "Quadrinhos Rasos", o "Lady's Comics",  o "Murokai  Quadrinhos", o "Guia dos Quadrinhos" , e o clássico, porém, imprecindível "Universo HQ".

Apesar de terem sido várias indicações de uma vez só, acredito que todos são propostas que valem muito a pena serem conhecidas, e uma visita a elas individualmente pode acrescentar muito a vocês, grandes leitores e admiradores da arte sequencial. Reforçando o pensamento inicial da matéria, dependemos dos outros ao nosso redor de forma fundamental, e, por meio desta matéria, gostaria de agradecer sinceramente a todos os que desempenham papel de tamanha importância no crescimento e evolução do Quadrinhos Pra Quem Gosta. Muito obrigado, e muitos quadrinhos para todos!

4 comentários:

Maria Clara Modesto disse...

Lindo o texto! Realmente, um grande trabalho não se faz apenas com uma pessoa. Sempre há uma equipe ajudando, ainda que longe dos holofotes.

Obrigada pelos apoio ao meu blog. Estamos sempre aí para o que der e vier. É um prazer ajudar na divulgação de jovens e talentosos escritores

* Andhora Silveira * disse...

É verdade! Parcerias são sempre bem-vindas e podem surgir grandes trabalhos delas... A exemplo dos clássicos citados por você aqui.

Gostaria de agradecer o apoio ao meu blog!

Muito obrigada :D e sempre estarei divulgando o seu também!

Anônimo disse...

Parcerias e amizades são formadas para vida toda, basta saber cultivar nas pessoas as coisas boas. Valew, Gabriel.

Nuno Amado disse...

Obrigado por referires o Blog (Leituras de BD)
:)

Abraço