quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Cinema Brasileiro e Quadrinhos

Por Gabriel Guimarães


Há alguns dias, foi divulgada uma notícia que promete mexer muito com as histórias em quadrinhos produzidas no Brasil. Produzido e publicado em 2008 pelo paulista Rafael Grampá, a HQ "Mesmo Delivery" será adaptada para as grandes telonas sob a batuta do diretor Mauro Lima, responsável pelo filme "Meu Nome Não É Johnny".

Uma vez procurada para ser adaptada desde seu lançamento independente nos Estados Unidos, a história narra uma viagem protagnoziada por dois caminhoneiros cuja carga misteriosa atrai toda sorte de olhares curiosos e suspeitas. Contando com cenas de extrema violência e um rico detalhismo no traço de Grampá, a HQ lançou o quadrinista no mapa, abrindo muitas portas no mercado para seus projetos, como "Furry Water", feita em parceria com Daniel Pelizzari, e participações em quadrinhos diversificados como em "Strange Tales", publicado pela Marvel. 

A produção em longa metragem terá início na segunda metade de 2012, e os leitores já demonstram considerável ansiedade e expectativa com o que o futuro reserva para a alucinante história de ação no meio do nada.


Ilustração do Capitão 7

A adaptação de uma história em quadrinhos nacional de forma interna, sem depender dos grandes estúdios americanos, pode parecer uma novidade para o mercado brasileiro de quadrinhos, porém, observando atentamente o passado do cinema nacional, já houve outros contatos entre esses dois meios de comunicação que merecem ser destacados (sobre a relação entre quadrinhos e cinema como um todo, já houve matéria antes aqui no blog).



Cena do filme do "Menino Maluquinho",
com o pequeno Samuel Costa no papel do
travesso protagonista

Personagens como o Capitão Sete são um dos exemplos de como essa relação percorre uma longa via na história da cultura brasileira no século passado, apesar de este ter migrado no sentido inverso, da TV Record, na época, o canal 7 - daí o nome do personagem - para as páginas de gibis, ainda na década de 1950. Posteriormente, personagens como Judoka, publicado pela editora Ebal no fim dos anos 1960 e começo dos anos 1970 e que foi para as grandes telas por um breve período em 1973, e trabalhos como "O Anjo" (adaptado no filme "O Escorpião Escarlate", de 1990), do mineiro Flávio Colin, e "O Detetive Ed Mort" (1997), do escritor Luis Fernando Veríssimo, deram continuidade a essa transição. O filme do "Menino Maluquinho", de 1994, foi, talvez, um dos que obeteve maior sucesso nas bilheterias, atraindo tanto o público jovem quanto o público mais velho, e rendendo ótimos frutos para seu criador, Ziraldo. O caso também dos "Cine Gibis", protagonizados pela turminha de personagens criados por Maurício de Sousa e encabeçados pela Mônica, também não poderia deixar de ser mencionada aqui, uma vez que seu sucesso foi tamanho a ponto de produzir quatro filmes nessa temática.



Reunindo elencos com nomes como Pedro Aguinaga, Andréa Beltrão, Paulo Betti e Patrícia Pillar, essas adaptações marcaram presença em meio a muitas produções nacionais com um orçamento modesto, e não podem ser esquecidas. Para o futuro, fica a esperança de que essa porta que começa a se abrir novamente se escancare, permitindo um maior reconhecimento da produção em arte sequencial dentro do país, e, é claro, que haja, enfim, uma maior valorização da profissão do artista brasileiro. Quem sabe, em breve, ainda não vemos esse sonho em cartaz numa realidade próxima de acontecer?

2 comentários:

luiz_modesto disse...

Acredito que a adaptação de quadrinhos nacionais como Mesmo Delivery pode servir como uma ótima porta de entrada para que o público se interesse pela obra dessa boa safra de jovens quadrinistas brasileiros da qual Rafael Grampa é um ótimo exemplo. Afinal, é inacreditável que eles tenham que, inicialmente, publicar suas obras em terras estrangeiras, como o recente caso de Daytripper dos gêmeos Moon e Bá,uma hq, que, aliás, estou ansioso para ler.

GG disse...

Com certeza a linguagem do cinema tem muito potencial para ter uma boa relação com os quadrinhos, e apesar da cultura brasileira não ser tão marcada pelo incentivo para um aprofundamento maior desses gêneros inicialmente, ela é mto marcada pela superação, e, quem sabe, através dessa adaptação, os esforços para superar essas barreiras sócio-culturais não crescem a ponto de estimular outros a seguirem o mesmo caminho, não é? Torçamos. =)