Por Gabriel Guimarães
"Os quadrinhos podem ser tudo aquilo que a mente lhes permitir ser."
O autor dessa frase, que representa de forma bastante eficaz todo o potencial comunicativo que as histórias em quadrinhos possuem, é um dos profissionais mais reconhecidos no meio desde 18 de novembro de 1985, quando publicou sua primeira tirinha no jornal da sua dupla de personagem mais famosa: calvin e Haroldo. Ao longo de sua vida, sempre lutou para que essa forma artística recebesse toda a atenção que merecia, e, por essa sua contínua luta, hoje prestamos uma sincera e justa homenagem ao quadrinista americano Bill Watterson.
Neste dia, em que Bill completa 53 anos, não há outro assunto que se mostre mais relevante para os quadrinhos mundiais como este. Nascido em Washington, ele teve uma infância regada à base de muitas produções de quadrinhos, que lhe enchiam de sentimentos e sonhos. Tendo sido muito influenciado pelas tirinhas produzidas por Charles Schultz, criador do Charlie Brown, Bill adotou algumas características que eram marcas de Schultz para seus próprios desenhos, como a simplificação das linhas nos desenhos, que, conforme o próprio afirmava, "encaixava perfeitamente com minha falta de paciência e minha pouca habilidade para o desenho."
Preocupando-se assim mais com o conteúdo do que com a forma, Watterson conseguiu atingir milhões de leitores através das suas tiras publicadas em mais de 2000 jornais ao redor do mundo e em dezenas de línguas diferentes, se tornando assim uma referência para o meio. Uma vez que sua distribuição era feita pelo Universal Press Syndicate, um dos mais respeitados consórcios de tiras dos Estados Unidos, é difícil acreditar que o criador de tão facilmente identificáveis personagens passara por muitas dificuldades antes de lançar sua obra mais conhecida. Cerca de 4 anos antes da publicação da primeira tira de Calvin e Haroldo, Watterson havia acabado de voltar a morar com casa de seus pais, após uma série de insucessos num emprego de cartunista editorial para o Cincinnati Post, onde passou por um dos desafios mais comuns da área artística: a produção contínua e seriada com limites de prazo para ser concluída.
Neste momento, ele quase desistiu de sua carreira como ilustrador, desmoralizado pela conturbada experiência, e, então, decidiu se voltar para sua paixão inicial, que eram as histórias em quadrinhos. Partindo do princípio exposto na sua frase citada no começo da matéria, Watterson criou uma tira despretensiosa sobre um garoto de vestes espaciais e seu desastrado assistente, baseados em uma produção que fizera certa vez, quando estava no Ensino Médio, para uma aula de alemão. E ali, voltou a arriscar novas criações voltadas para a arte sequencial, que viriam a ser o alicerce no qual as tiras do Calvin iriam se estruturar. O próprio Watterson admite com entusiasmo que aqueles primeiros anos voltando a produzir quadrinhos foram de uma importância sem igual, ainda que tudo que desenvolveu não tenha tido a qualidade ou o desempenho ideal. Ele aprendeu muito com os erros, e, após, partiu para seu maior feito, que o viria a pôr em destaque como um dos grandes profissionais do ramo.
Uma situação que determinou muito da postura que o quadrinista viria a ter nos anos posteriores ao surgimento de sua fama e que é um dos traços mais reconhecidos de sua personalidade, que é o fato dele abrir mão de todo licenciamento de imagem com relação a seus personagens, merece ter um destaque aqui. Ainda antes de criar seu pequeno grande protagonista de tirinhas, um syndicate demonstrou interesse pelo estilo utilizado por Watterson, e o convidou para viajar até Nova York para assinar seu primeiro contrato profissional como membro de uma grande organização voltada para a produção de quadrinhos, ainda que não tivessem realmente se apaixonado pelo conteúdo em si do que estava sendo desenvolvido por ele na época. Entretanto, Watterson se deparou com um pedido do syndicate que o deixou enfurecido. Foi passado a ele a ordem de escrever e desenhar histórias de um personagem que não era seu, além de criar outra tira cômica com único fim de fazer propagandas de um determinado produto. Neste momento, Watterson abandonou a empresa e definiu sua postura com relação ao tratamento comercial de suas criações para todo o resto de sua vida.
E foi então, que um pequeno garoto muito esperto para sua idade e um certo tigre laranja de pelúcia entram na história da vida desse quadrinista. Após estar novamente num ponto inicial profissionalmente, Bill enviou um protótipo de tirinha com seus dois novos personagens para dois diferentes syndicates, e recebeu uma resposta positiva do Universal Press, que requisitou novas tiras da dupla. Em dúvida quanto ao que deveria pôr nas tiras, Bill ligou para seu amigo editor Jake Morrissey, que lhe deu a fórmula para todo o seu sucesso seguinte: "Apenas faça aquilo de que gosta."
Auto retrato de Watterson conversando com seu personagem Calvin |
Dali em diante, como dizem as pessoas do ramo da comunicação, é história. Ainda que não tenha sido um estouro da noite para o dia, Watterson recebeu, enfim, o destaque que merecia, recebendo prêmios como o Eisner e o Harvey Awards e pelo conjunto de sua obra, dentre outros diversos. Porém, ele jamais se mostrou muito confortável com essas homenagens, preferindo uma reclusão artística que caracterizou muito sua relação com seus leitores. Aposentado desde 1995, quando publicou sua última tirinha de Calvin e Haroldo em 31 de dezembro, ele mantém um hábito de pintar quadros, apesar de não expô-los para os seus fãs, e não dá sinais de novos projetos futuros. Ao longo da década de 1990, todavia, dava palestras em faculdades para destacar o quanto as pessoas se esforçavam de verdade para fazer aquilo de que realmente gostavam. Acredito que essa sua lição vá permanecer com todos nós, seus leitores, por muitos e muitos anos. E, tal qual o pequeno Charlie Brown se tornou uma influência tão grande na formação de Watterson como artista (e na de muitos leitores do personagem, como pode ser um pouco visto neste artigo de um blog parceiro nosso), Calvin é, hoje, uma parte de todos nós, que o lemos e acompanhamos suas aventuras por tanto tempo (um pequeno estudo sobre alguns conceitos da psicologia nas tiras de Calvin já foi feito aqui no blog antes). Apesar de não ter um gosto tão especial por homenagens, não havia como esse dia passar em branco, e, por isso, venho aqui por meio desta matéria agradecer por tudo que foi feito por esse grande profissional de quadrinhos, tanto dentro das linhas que delineavam seu trabalho, quanto fora, pelas lições com relação às paixões que nos movem.
Para aqueles que tiverem interesse em ir mais a fundo na história do quadrinista, recomendo esta matéria publicada no blog "Depósito do Calvin", que detalha muitos dos momentos expostos aqui e traz excelentes recursos visuais para essa trajetória vitoriosa de Watterson.
4 comentários:
Sabe como conheci calvin e haroldo? Pelas minhas gramáticas de português do colégio. Sempre tinha uma tirinha para analisar. Acho q é uma boa forma de ensinar, mesclando diversão e conhecimento.
O post ficou mt bom. E obrigada pela indicação. :)
Excelente meu amigo!
Sempre gostei dessa frase:
"Os quadrinhos podem ser tudo aquilo que a mente lhes permitir ser."
Calvin é mágico... como o mundo! ;-)
Acredito que seja extremamente difícil encontrar qualquer um que goste de quadrinhos que não tenha tido contato, ainda que escasso, com a obra de Watterson. Suas histórias nos marcaram, e essa matéria visa expressar isso, com uma justa homenagem ao grande criador de Calvin e Haroldo.
ola tudo bem me chamo sueldo alves tenho pouca idade mais o suficiente para saber que um dia meus desenhos vão sair do papel. queria mostrar muito eles ............parabns pelo seu trabalho meu email e sueldo87@hotmail.com
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