quinta-feira, 3 de setembro de 2015

XVII Bienal - Um Alvorecer Literário

Por Gabriel Guimarães


A XVII edição da Bienal Internacional do Livro do Rio de Janeiro começou com uma grande homenagem ao quadrinista Maurício de Sousa, que recebeu o Prêmio José Olympio pelas suas colaborações ao mercado editorial brasileiro. Para honrar os 80 anos completados pelo autor paulistano, a Feira organizou uma exposição muito interessante com direito a uma estátua de sua principal personagem, a Mônica, dando as boas vindas ao setor do Pavilhão Verde onde materiais originais e réplicas de edições clássicas do autor estão expostas. Acompanhando a trajetória pelas décadas desde a criação de seus primeiros personagens, o visitante pode aprender um pouco mais da história da carreira desse grande profissional brasileiro, além de conferir uma imagem holográfica do próprio Maurício, projetada sobre um painel proporcional ao tamanho real do desenhista, ideal para se tirar fotos.

A exposição se localiza próxima ao estande da editora Panini, responsável pela maior parte dos títulos do autor sendo publicados no momento (considerando que a quantidade de parcerias do estúdio de Maurício com as mais diversas editoras, isso é um feito por si só impressionante). Diferente das edições anteriores, em que se encontrava no Pavilhão Azul, desta vez, a editora conta com um espaço razoável com segmentos diferentes dedicados a formatos diferentes de conteúdo. O grande destaque do estande fica por conta dos mangás e do material produzido pelo já mencionado MSP. Alguns dos lançamentos são a nova graphic novel "Turma da Mata - Muralha", produzida pelo trio Roger Cruz, Artur Fujita e Davi Calil; e a reedição atualizada da obra "Maurício de Sousa - Biografia em Quadrinhos". Vale ressaltar a bela capa deste último, com uma série de alusões à carreira do quadrinista, desde influência do clima saudosista das ilustrações do norte-americano Norman Rockwell até uma representação do autor em sua época de repórter policial. Algo, porém, que chamou a atenção foi a ausência de lançamentos programados para a Bienal pela editora, como os encadernados de títulos mensais da Marvel e DC (como "Fabulosos Vingadores" e "Lanterna Verde - A Ira dos Lanternas Vermelhos"), que, curiosamente, podiam ser encontradas disponíveis no estande da Comix, a poucos estandes de distância. Os descontos do estande da Panini mantém-se os mesmos, na casa dos 25%, contudo, o acervo disposto esteve um tanto aquém das expectativas neste primeiro dia.

Outra editora cujo estande aparenta destoar do tradicional nas últimas edições da Bienal foi a Devir, que investiu mais em material de RPG e o crescente fomento no mercado de jogos de tabuleiro alternativos. O conteúdo importado de arte sequencial não parece ter sido trazido desta vez, e as edições presentes no estande limitam-se, em sua maioria, a materiais publicados ao longo da última década. A tradicional editora, inclusive, aparenta dividir o espaço de seu estande com a novata Jambô, com bastante conteúdo no gênero da fantasia, como os quadrinhos do roteirista Marcelo Cássaro, marcado por sua brilhante saga na série "Holy Avenger" e que agora conta lá com as obras "Projeto Ayla" e "DBride - A Noiva do Dragão".

"Quack, do autor Kaji Pato, é outro destaque da Draco
Editoras com estandes mais modestos, ainda, apresentaram muito conteúdo fascinante, como foram os casos da Draco, com antologias de ficção científica e fantasia dividindo espaço com HQs como "Quem Matou João Ninguém?", de Zé Wellington e Wagner Nogueira, e "Apagão - Cidade sem Lei Luz", roteirizada por Raphael Fernandes e ilustrada pelo desenhista 'Camaleão'; da Autographica, que criou um clima muito agradável de descontração que tornou seus livros publicados sobre o meio esportivo e sobre relações entre história e  política bastante convidativos; e a Aquário Editorial, que contou com material de arte sequencial e ficção em geral produzido por profissionais aqui no Rio de Janeiro, como o roteirista capixaba Estevão Ribeiro e sua esposa, a escritora Ana Cristina Rodrigues, e o desenhista Carlos Ruas.

Outra editora com conteúdo interessante aos fãs da arte sequencial é a Ediouro, que relançou em seu selo Pixel os encadernados dos clássicos "Fantasma" e "Mandrake" em capa dura, além de novidades como o primeiro volume da adaptação dos games para os quadrinhos de "The Witcher", e uma antologia com 12 pequenas histórias do personagem "Tarzan" por vários profissionais da nona arte. O preço dessas edições está de excelente tamanho para atrair novos leitores e apresentar conteúdo de belo acabamento no mercado. Há, ainda, edições de personagens como "Popeye", "Recruta Zero", "Hagar"e "Mutts".

Ilustração da capa da adaptação do game "The Witcher" para as HQs

Um ponto negativo, ou talvez informativo, que é necessário ressaltar é que as obras nas vias de acesso ao Rio Centro, que pouco foram entrave hoje, podem complicar consideravelmente a vida dos visitantes nos dias de maior movimento. As alterações nas pistas tornaram o trajeto até o local, no mínimo, confuso e a falta de orientação dos guardas foi um problema. Dentro dos Pavilhões, ainda antes da entrada no evento, também ocorreram pequenos focos de desorientação do público pela ausência de sinalização das entradas. Os funcionários de dentro do evento, contudo, foram extremamente solícitos, e os profissionais dos estandes também receberam a todo o público com sincera dedicação.

O evento já foi muito interessante neste primeiro dia, e a tendência é que grandes momentos ainda estejam por vir, com talentosos profissionais do ramo literário e das artes gráficas tendo espaço junto ao grande público e um ambiente agradável de solicitude entre os gêneros literários que dividem espaço nas estantes dos estandes e nas sacolas de aquisições dos visitantes.

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