quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Uma Quinzena de Quadrinhos na Travessa e Uma Noite de Design na Veiga de Almeida

Por Gabriel Guimarães


Teve início nesta quarta-feira, dia 26 de novembro de 2014, a Primeira Quinzena de Quadrinhos na Livraria da Travessa, que, em parceria com o CCBB, promoverá debates e encontros com alguns autores de quadrinhos cariocas, como André Dahmer, que esteve esta quinta pela manhã apresentando seu procedimento de trabalho aos visitantes presentes. O evento pretende atrair o público leitor de quadrinhos na cidade maravilhosa e aproximar um pouco mais os autores de quadrinhos de seu público. Contando com a participação de autores como Daniel Lafayette, Rafael Coutinho e Pacha Urbano, o evento ainda traz questões interessantes para serem discutidas, como o fator transmídia nos quadrinhos, a relação da realidade com as histórias apresentadas nas páginas de arte sequencial, além de já estar abrindo um espaço para discussão sobre o mercado independente no Rio de Janeiro.

O evento acontecerá até o dia 5 de dezembro de 2014, iniciando-se na Livraria da Travessa dentro do próprio CCBB e encerrando em workshops que serão realizados na Travessa do Shopping Leblon. A entrada é franca e a distribuição de senhas para participar das atividades começa a ser realizada uma hora antes do início destas. Quem quiser saber mais detalhes da programação, o link para a página do evento encontra-se aqui. Para maiores dúvidas, recomenda-se procurar os organizadores, com destaque para a ilustradora Tatyane Menendes, na página do evento no Facebook, que pode ser acessada aqui.


Nesta quinta-feira, dia 27 de novembro, além das atividades na Livraria da Travessa, também ocorreu a palestra "Design Fora da Caixa", no campus da Universidade Veiga de Almeida da Tijuca. Com o objetivo de apresentar um pouco a história da nona arte no Brasil e aproximar os quadrinhos do pensamento dos designers que estão em formação na faculdade, o professor Octávio Aragão e o roteirista e pesquisador Carlos Patati realizaram uma apresentação muito interessante.

Comentando desde os precursores da imprensa brasileira como Ângelo Agostini, Henrique Fleiuss e Luigi Borgomaniero, a apresentação destacou bastante a relação da produção de quadrinhos com a história da imprensa no Brasil, adaptando-se às evoluções tecnológicas que eram disponibilizadas ao mercado, com ênfase na construção da cultura da leitura em bancas de revista nas cidades brasileiras e como a transição de imagens pictóricas singulares para a construção de uma narrativa sequenciada geraram mudanças estruturais na compreensão do quadrinista enquanto profissão. Foi muito discutido o teor infantil com que as histórias acabaram ficando associadas e o potencial de expressão que a narrativa dessa mídia oferecia, comentando ainda sobre as raízes contextuais em que a censura surgiu nos quadrinhos, tanto internacionalmente como no próprio cenário brasileiro.

Um tópico, porém, muito interessante destacado na palestra foi a necessidade de existir publicações tanto luxuosas quanto independentes, tanto de acabamento rico quanto de qualidade popular. O mercado que se estabeleceu no Brasil assim o fez graças a um contínuo esforço de editores que procuravam toda e qualquer forma de veicular conteúdos em quadrinhos nos mais diversos tamanhos e teores. Octávio vê com certo alarmismo a transição que o mercado brasileiro vem apresentando no que tange à produção de quadrinhos feitos apenas para serem comercializados em livrarias como edições de muitas páginas e lombada quadrada. Acreditando que o mercado pode sofrer um revés da superexploração desse modelo, o professor espera que projetos de financiamento colaborativo sejam apenas uma ferramenta dentro do espectro geral das publicações em quadrinhos no país, antes que a única chave para tal. Patati ressaltou a extinção que vem tomando o mercado mundial das revistas periódicas que outrora foram referências onde surgiram e se estabeleceram grandes autores, como é o caso da "Pilote", revista francesa onde as aventuras de personagens como Asterix e Lucky Luke foram originalmente publicados. A ausência de material dessa natureza é, de fato, algo a ser considerado em relação aos rumos da nona arte no mercado internacional.

Foi discutido, ainda, a inteligibilidade das histórias atuais no mercado, colocando na balança o papel que as adaptações para o cinema tem desempenhado na produção de histórias mesmo antes de sua confecção e veiculação na mídia. Conceitos como a cronologia aplicada aos universos nos quadrinhos por autores como Stan Lee foram abordados, a fim de se ponderar a direção que os filmes de grande orçamento podem se encaminhar, levando-se em consideração suas fontes originais. Elementos como a importância da distribuição e as ferramentas eletrônicas de divulgação também foram abordados com alguma cautela mas como fundamentais em uma economia globalizada como a que vivemos hoje.

O dia 27 de novembro de 2014 certamente foi um dia bastante pleno em termos de abordagem da arte sequencial nas terras cariocas, mas ainda há muito pelo que se esperar nas semanas vindouras. O 4º Colóquio Internacional de Filosofia e Histórias em Quadrinhos será realizado no campus da UFRJ no Centro do Rio de Janeiro no dia 5 de dezembro (a página do evento no Facebok pode ser conferida aqui), e a ComiCon XPerience está cada dia mais próxima. É muito bom viver um período de maior relevância para o mercado de quadrinhos, contudo, é necessário tomar precaução para que as festividades com os quadrinhos não impliquem em menos dedicação à produção de conteúdo de qualidade nestes. Continuaremos a fazer sempre uma cobertura justa com todos os eventos em torno da arte sequencial, mas esperem por novidades nossas em breve!

Um comentário:

Anônimo disse...

Pôxa. Gostaria de ir a evento como esse.
Abraço,
Kleiton
http://kleitongoncalves.blogspot.com.br