segunda-feira, 13 de agosto de 2012

A Arte na Guerra

Por Gabriel Guimarães



Nascido originalmente na pequena cidade de Yzerin, na então área que pertencia ao leste da Polônia, e migrado com apenas dois meses junto de seus pais para os Estados Unidos, o desenhista Joseph Kubert construiu ao longo do século XX uma carreira sólida no mercado de quadrinhos que se expandia, ganhando o merecido reconhecimento e tendo seu trabalho valorizado pelo seu esforço com a pesquisa prévia do que quer que fosse desenhar, tornando suas histórias mais verossímeis e envolventes para os leitores. Grande incentivador dos aspirantes a tomar parte na nona arte, Kubert se tornou um marco para os ilustradores e, em 1976, abriu na cidade de Dover, em New Jersey, a Escola Joe Kubert de Cartun e Artes Gráficas, renomeada recentemente para apenas Escola Kubert.

Edição do Gavião Negro
Na manhã deste último domingo, no dia dos pais para nós, brasileiros, aos 85 anos, apenas três semanas antes de completar seu próximo aniversário, Joe acabou falecendo de forma natural, e os quadrinhos, como meio de comunicação, perdeu mais um de seus grandes mestres. Marcado pelo sucesso de suas histórias como "Sgt. Rock" e o trabalho junto ao herói Gavião Negro, ambos publicados pela editora DC, Joe marcou sua passagem pelas páginas das revistas com muita criatividade e mensagens de inspiração humana.

Apesar de ter sido marcado pelo seu trabalho com temáticas relativas ao período dos conflitos internacionais onde os Estados Unidos tomavam parte, Joe sempre destacou a necessidade de haver mais do que apenas morte no caminho dos soldados, reservando-lhes momentos de profunda reflexão acerca da natureza humana e da necessidade da coexistência pacífica, rendendo-lhe uma safra enorme de prêmios extremamente valiosos para o mercado de quadrinhos, como o Harvey Award e o Eisner Award, dos quais, em 1997 e 1998, respectivamente, ele se tornou membro do Hall da Fama.

Entretanto, muito antes de se consagrar como desenhista da editora DC, Joe começou sua carreira de maneira modesta, mas surpreendente, quando, ainda aos onze anos, começou a contribuir com desenhos para o MLJ Studios, responsável pela publicação de personagens como "Archie". Seu primeiro trabalho oficial, porém, é datado oficialmente apenas de cinco anos depois, já em 1942, quando ele fez a arte-final de uma pequena história de seis páginas chamada "Black-Out", na oitava edição da revista "Catman Comics", publicada pela editora Holyoke Publishing Company. Após esse começo modesto, ele continuou trabalhando no título mais algumas edições antes de ir adiante com outros projetos, sendo, no começo da década de 1940, contratado pela editora DC, no período ainda antes de assumir esse nome, quando era conhecido ainda como All-American Comics. Seu primeiro trabalho pela editora foi uma história de 50 páginas, chamada "Sete Soldados da Vitória", publicada na também oitava edição da revista "Leading Comics", no outono de 1943.

Nos anos seguintes, Joe começaria a se firmar no mercado de quadrinhos, a partir de seu trabalho com o Gavião Negro e, em outubro do ano de 1953, viria a se tornar editor administrativo da St. John Publications, onde ele, seu antigo colega de escola, Norman Maurer, e o irmão de Norman, Leonard, publicaram a primeira revista em quadrinhos em 3D da história do meio, na primeira edição da revista "Three Dimension Comics". Neste título, Joe criou seu personagem de maior sucesso, um herói pré-histórico chamado Tor, que estreou na segunda edição da revista e não muito depois acabou por se tornar o grande astro da publicação.

Um dos quadrinhos das histórias de Tor, o herói pré-histórico
de Joe Kubert
Em 1955, ele voltou para a DC, onde passou a participar da linha de personagens de guerra da editora, consagrando sua carreira com histórias como a já mencionada "Sgt. Rock" e as aventuras da tropa de soldados em "The Haunted Tank". Pouco depois, Joe decidiu mudar seu papel no meio e construiu sua escola de arte, onde ajudou na formação de muitos grandes profissionais do meio que hoje estão em atividade, como Amanda Conner, Alex Maleev, Rags Morales, o brasileiro Sérgio Carrielo e, eventualmente, seus dois grandes legados para as histórias de super heróis da atualidade, seus dois filhos, Andy e Adam Kubert, que herdaram muito do dom de desenho e de narrativa gráfica do pai.
Edição de "Sgt. Rock"
Hoje, os quadrinhos perdem mais um de seus soldados mais ferrenhos, um dos defensores da boa arte e portador da bandeira da esperança. Porém, que seu exemplo não seja em vão, e que sua história e seu legado possam viver em cada um dos profissionais e amigos tocados por ele no período em que esteve entre nós. Após uma árdua luta para criar um meio seguro e forte estruturalmente em que seus filhos hoje trabalham, o soldado Joe, enfim, retorna para casa, não com um estrondo de granada, mas com o síbilo suave das lágrimas que descem dos rostos de seus muitos admiradores.


Quem tiver interesse em visitar a página da Escola Kubert de Arte, que nestes dias, tem estado fora do ar com uma mensagem em homenagem ao seu fundador, basta clicar aqui.

Um comentário:

Mister Quadrinhos disse...

Ótima matéria Gabriel parabéns.