Por Gabriel Guimarães
Já há muito tempo, esse assunto está em pauta para ser trabalhado aqui no blog, porém, a sua vasta extensão em termos de relevância, vertentes e núcleo de pesquisa acabaram por tornar complicada sua abordagem. Hoje, entretanto, para celebrar o dia internacional da mulher, que merece toda forma de carinho, reconhecimento e respeito, não apenas neste dia, mas em todos os dias do ano, o blog Quadrinhos Pra Quem Gosta decidiu dar início a uma análise do papel da mulher nos quadrinhos, algo que deve ainda ser muito trabalhado no futuro, ao longo de muitas matérias, mediante a boa oportunidade para isso.
Quando os quadrinhos tiveram início, em 1895, nas páginas do jornal New York World, jamais eles imaginariam todo o furor que o meio alcançaria no século seguinte e em diante. Com temática mais próxima das classes sociais mais baixas e o público leitor masculino, os quadrinhos começaram a estar cada vez mais presentes no cotidiano das grandes metrópoles, fosse nas páginas de jornal ou mesmo em revistas dedicadas unicamente ao gênero. Porém, com o passar do tempo, a nona arte cresceu, e começou a se desdobrar, adquirindo formas de um meio de comunicação por si só. Não mais os quadrinhos eram meramente infantis, mas começavam a exibir características que expandia seu conteúdo a públicos antes pouco levados em consideração. É nesse momento, então, que a mulher começa a fazer parte da história desse meio, e hoje, a contribuição de profissionais mulheres é compreendida como algo simplesmente inestimável para a história dos quadrinhos.
A brasileira Mônica jamais poderia ser esquecida no que trata de personagens femininas dos quadrinhos, ainda mais, tendo se tornado embaixadora da cultura do Brasil, em junho de 2009 |
Personagens variadas criadas pelo grupo de mulheres quadrinistas CLAMP, do Japão |
Fosse por sua participação ativa enquanto protagonista ficcional dos quadrinhos, como as heroínas Mulher Maravilha e Canário Negro, as investigativas Julia Kendall e Lois Lane, as sensuais Valetina e Barbarella, ou mesmo as jovens Mônica, Mafalda e Luluzinha, ou então pelo traço e história desenvolvidos nas demais etapas editoriais, como é o caso da desenhista americana Marjorie Henderson Buell, criadora desta última personagem citada, a editora Louise Jones Simonson, responsável por muitos dos grandes títulos da editora Marvel, ou a pioneira dos quadrinhos autobiográficos underground Dori Seda, o sexo feminino esteve muito ativamente ligado ao universo dos quadrinhos. Ao longo do século XX, a participação de mulheres na produção de histórias só fez crescer, ainda que enfrentando vez ou outra alguma desconfiança por parte da ferramenta mais tradicionalmente paternalista de produção editorial do mercado mainstream, algo que repercute ainda nos dias de hoje, como foi noticiado em agosto de 2011 pelo site Bleeding Cool, onde foram avaliados os créditos de participação dos cerca de 160 artistas envolvidos na reformulação mais recente da editora DC, e que foi constatado que apenas 1,9% eram do sexo feminino, o que compreende apenas três entre a mais de centena de profissionais relacionados a esse grande projeto. Esse alerta foi recebido pela DC como uma oportunidade para se posicionar de forma mais direta em termos de participação do gênero feminino na composição das suas histórias, e a editora anunciou que procuraria contratar mais mulheres para seu quadro de funcionários. Pouco tempo antes, a DC parecia já tentar reverter esse cenário, quando a administração do setor de entretenimento da editora, a DC Entertainment, passou a ser chefiado pela extremamente capaz Diane Nelson.
Jill Thompson, autografando em uma Comicon americana |
Vale ressaltar também a quantidade considerável de blogs e sites sobre quadrinhos gerenciados por mulheres, onde o maior destaque é o site "Lady's Comics", a partir da proposta de que "HQ não é só para seu namorado". O site pode ser conferido através da imagem ou por aqui, e a qualidade dele como fonte de conhecimento e estimulador de discussão inteligente são inegáveis. Iniciado através da parceria entre as apaixonadas por arte sequencial Mariamma Fonseca, Samanta Coan, e a já mencionada Luciana Cafaggi, o site se tornou uma referência para a participação feminina no mercado de quadrinhos, e a presença ativa do trio nos eventos nacionais de nona arte tem se tornado comum, conforme foi visto na palestra dada pelas ladys na Feira Internacional de Quadrinhos de 2011, em Belo Horizonte.
Ilustração das personagens femininas da editora DC |
Por fim, a mulher é um elemento fundamental aos quadrinhos, proporcionando uma perspectiva única e valorosa que jamais poderia ser negada. O tema permite uma abrangência imensa, que pretendemos nos extender mais no futuro, mas desde já, deixamos aqui com imensa satisfação o desejo de um feliz Dia Internacional da Mulher a todas as muitas leitoras e profissionais dos quadrinhos ao redor de todo o Brasil e mundo. Sem elas, os quadrinhos jamais seriam o que são hoje, portanto, fica aqui também um muito obrigado a todas as que tornaram a história dos quadrinhos uma parte tão importante de nós e de nossa história.
FELIZ DIA INTERNACIONAL DA MULHER!
2 comentários:
Muito bom, cara! Parabéns para as mulheres e parabéns pela matéria!!!
Você já fez algum post sobre o "Persépolis"? OU sobre os estúdios Clamp? Se não tiver feito, ficam as sugestões. Gostaria de saber mais... Abraços!
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