quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

O Brasil dos Quadrinhos em 2011

Por Gabriel Guimarães



É tradição do mercado editorial brasileiro de quadrinhos oscilar entre períodos de grande sucesso e momentos obscuros de dúvidas e questionamentos sobre a viabilidade de uma estrutura de comércio da arte sequencial para o público leitor daqui. 2011 ficou marcado na história dos quadrinhos brasileiros, por ter sido o ano em que esse paradigma começou a mudar. Com muitos eventos centrados na nona arte, como a mineira FIQ, a carioca Rio Comicon, a paulista KingCon, e promoções de edições de destaque entre os leitores tradicionais de quadrinhos, como a XV Bienal do Livro no Rio de Janeiro e a Virada Nerd, realizada pela editora/loja especializada Devir, em São Paulo, o ano esteve recheado de oportunidades para a comunidade de admiradores da arte sequencial crescer.



O brasileiro Gabriel Bá na San Diego Comicon

Esse crescimento é confirmado uma vez observado o número de pessoas que visitaram a Serralheria Souza Pinto, onde aconteceu grande parte da Feira Internacional de Quadrinhos, evento de maior sucesso do ano no território brasileiro e mundial, diga-se de passagem. Enquanto a tradicional feira anual San Diego Comicon, realizada em julho nos Estados Unidos, manteve seu apelo ao público oferecendo a chance deste estar em contato com os maiores nomes do ramo cinematográfico e muitos dos quadrinistas das grandes editoras norte-americanas, como a Marvel, a DC e a Dark Horse, atraindo para seus estandes cerca de 130 mil  visitantes de todo o redor do mundo, o evento organizado pela Prefeitura de Belo Horizonte teve que comportar um contingente de 148 mil. Apesar de haver discrepâncias na comparação entre o porte dos dois eventos, desde a gratuidade da entrada para o evento brasileiro e a limitação do campo abordado neste unicamente aos quadrinhos, enquanto o evento americano contava com diversos setores do entretenimento, desde os games até objetos de decoração manufaturados a partir de especificações artísticas dos consumidores, os números da FIQ representam uma mudança espetacular para o panorama dos quadrinhos nacionais. Conforme o Blog dos Quadrinhos, organizado pelo estudioso da arte sequencial e professor da USP, Paulo Ramos, destacou, durante o evento ocorreu recorde do número de quadrinhos lançados em um curto período de tempo, dentre os quais, a maioria era independente, apontando assim um crescimento extremamente considerável entre os aspirantes a profissionais deste meio. Entre 40 e 50 lançamentos autorais preencheram as bancadas do evento, e esvaziaram, consequentemente, os bolsos dos visitantes, que saíram de lá com a mochila cheia de material novo para leitura.

Acrescentando a isso o sucesso dos estandes das editoras que trabalhavam com o setor de quadrinhos durante a realização da XV Bienal do Livro no Rio de Janeiro, como a Panini, a Devir e, principalmente, a loja especializada Comix, o mercado de quadrinhos teve um crescimento muito grande, e isso merece ser destacado pela mesma razão que foi apontada no começo da matéria. Os profissionais do meio começaram a perceber este ano uma mudança na estrutura com que os quadrinhos são consumidos no território nacional, principalmente em relação à produção nacional, que vem se mostrando em crescimento e com uma qualidade cada vez maior. O mercado demonstra sinais de que está se estabilizando, e isso é razão mais do que justificada para o ano ser muito comemorada pelos admiradores das histórias em quadrinhos. Ao invés de vivermos um período de consumismo desenfreado para ser seguido por um ostracismo e esquecimento, estamos vivendo um período de construção de bases para irmos além.

Conforme foi visto em outros pontos do mundo, como a Índia e a China, ainda que em estágio inicial, o mercado brasileiro está começando a investir em uma produção própria, capaz de gerar maior identificação por parte do público e, com isso, render histórias especiais e memoráveis, como é o caso do material que está para ser lançado ano que vem pelos estúdios MSP, com o traço e roteiro de autores nacionais em crescimento, com os personagens já consagrados do patriarca nacional da arte sequencial, Maurício de Sousa (fato que já foi comentado aqui no blog antes). Dessa forma, está sendo aberta uma porta para uma continuidade da produção de quadrinhos nacionais, algo que havia uma carência enorme para o Brasil, e que tem tudo para dar certo.

Além disso, a publicação de quadrinhos de outros pontos do mundo para o mercado de leitores brasileiros foi algo que foi muito melhorado este ano, contando com centenas de lançamentos. Seja de material europeu, americano, japonês ou argentino, que são os que mais se destacam entre aqueles consumidos aqui, houve uma disponibilidade dos mais diversos gêneros e estilos diferentes. Para qualquer gosto ou interesse, havia junto uma lista de possíveis histórias para agradar. Além das republicações de títulos já consagrados, houve também muitos especiais lançados em virtude do apelo dos outros meios de comunicação, como as adaptações feitas dos quadrinhos para as telas de cinemas.


O ano foi muito corrido, com muitas histórias sendo lançadas e muitos eventos que aqueceram o público ávido e carente de anos relegados às mídias de menor alcance, porém, foi um ano muito bom, e que representou muito para os quadrinhos nacionais. Resta-nos então, manter a esperança de que, tal qual este ano surpreendeu até mesmo os profissionais do meio com sua repercussão para a nona arte, o futuro reserve boas notícias para o crescimento desta enquanto meio de comunicação e objeto de arte. Esperemos pelo melhor.

2 comentários:

Luciana Cristian disse...

Como dito na matéria, o FIQ realmente esvaziou meu bolso, mas valeu muito a pena. Os fãs de HQs realmente não podem reclamar de 2011, pois foi um ano cheio de grandes novidades na área.

João Ferreira disse...

Até divulguei essa aqui no meu Facebook também. rsrs Estive na Bienal (onde sempre vou pra comprar livros, mas mais do que livros, HQ's raras). E estive pela segunda vez na Rio Comic Con, a qual teve um ganho sensível em relação a do ano passado. As expectativas para este ano são maiores ainda.