terça-feira, 9 de agosto de 2011

Quem Realmente Está Por Baixo da Máscara?

Por Gabriel Guimarães


Há algum tempo atrás, após a estreia do primeiro filme do Homem-Aranha dirigido por Sam Raimi em 2002, Stan Lee afirmou que acreditava que a tamanha popularidade de seu personagem pseudo-heróico vinha em parte do fato de este usar um traje que lhe cobria cada parte do corpo, e, dessa forma, permitia uma maior identificação com o cabeça de teia. Todos podiam se imaginar muito facilmente por baixo daquela máscara. Brancos, negros, asiáticos, árabes, qualquer um poderia usar aquela roupa e protagonizar aventuras espetaculares através dos arranha-céus de uma grande metrópole.

Recentemente, a Marvel anunciou que a vestimenta de aracnídeo passaria de mãos na sua linha de personagens Ultimate, o que gerou uma comoção avassaladora no público admirador dos quadrinhos da editora. Ponderações começaram a ser feitas, com blogs e sites de discussão dispendiando horas e mais horas, numa tentativa de acertar a identidade de tão honrado novo (?) herói. Muitos davam por certo que seria uma história como dezenas de outras, onde o protagonista morre num mês e volta a dar as caras pouco tempo depois. Quanto a isso, no entanto, ainda não posso negar. Apenas o tempo dirá. Entretanto, a solução dada pela editora merece ser avaliada aqui.

ALERTA: SPOILER!


Miles Morales

Semana passada, foi revelado que o novo Homem-Aranha, que protegerá a cidade de Nova York, será o jovem Miles Morales, um latino-americano de origem afro-descendente. Muitos criticaram, outros ficaram com os olhos ainda mais atentos para os próximos passos que os roteiristas da série Ultimate vão dar. Realmente, esse momento é de mais atenção e disposição de dar chance a algo novo do que de atirar pedras ou definir crimes culturais, como chegou a ser feito por alguns meios de comunicação.



Homem-Aranha original no traço
de Steve Ditko

Ponderemos que a proposta original do herói aracnídeo criado por Stan Lee e Steve Ditko veio da ideia de pôr alguém verdadeiramente real por debaixo da máscara. Foi assim que o grande responsável pela invenção do termo "Excelsior" reinventou os quadrinhos de herói na década de 1960 (escreviem duas ocasiões já sobre isso, aqui e aqui, este último, em inglês), e foi assim também que o Homem-Aranha, dentre todos, foi o que mais se destacou. Em uma era onde os mocinhos eram basicamente a essência dos eternos vigilantes da justiça, não havia obstáculos pessoais ou enfermidade que os afastasse de sua luta constante, o Homem-Aranha encontrou grande destaque pelo fato de ser um jovem com problemas de jovem - sofria de bullying, perdera seu amado tio e mentor e agora era o grande responsável por cuidar de sua tia, que vivia com problemas de saúde, tinah que arranjar emprego, estudar, e, caso tivesse sorte, tentar arranjar uma namorada. Peter Parker transformou o mundo dos quadrinhos em um universo familiar a todos. Quem quer que pegasse para ler uma edição do personagem nessa época, encontraria  a si mesmo naquelas páginas, à exceção, claro, que o herói conseguia escalar pelas paredes e enfrentar vilões grandes e malvados.

Todavia, por mais que pensássemos que ter poderes faria tudo mais fácil, nosso cotidiano, nossas lutas habituais, Peter nos mostrou que não seria nenhum mar de rosas, pois "com grandes poderes, vêm grandes responsabilidades." Para essa nova empreitada da Marvel, que acontece em uma hora que o personagem também já não desfrutava do carisma de outrora (como destaquei antes aqui no blog), parece ocorrer uma tentativa de voltar a esse conceito original.


Comediante Donald
Glover

Tudo pode ter supostamente começado a fermentar dentro da editora a partir da afirmação dada pelo comediante afro-americano Donald Glover de que gostaria de atuar como o herói da Marvel numa produção cinematográfica no futuro, porém, acredito que nessa estratégia, há muito mais nos bastidores do que inicialmente pode parecer, e apenas o tempo dirá até que ponto isso tudo chegará. As editoras não possuem hoje tanto prestígio na sua produção de quadrinhos como antigamente, passando a apostar mais em produções para as grandes telas (como já abordei antes aqui no blog), e, então, estão continuamente buscando novas formas de atrair novos leitores para as páginas que foram as grandes responsáveis pela construção das companhias como são atualmente, porém, nem sempre isso é feito de forma devida, e tem efeitos curiosos no público leitor desse material (já fiz uma matéria sobre esse tema aqui no blog também). Quanto ao recém-chegado Miles Morales, tudo que podemos fazer é lhe desejar um ótimo começo e que ele não seja apenas uma moda a passar, mas sim um personagem com uma história a ser lembrada por muitos e muitos anos.

 Aguardemos para ver como essa intrincada teia se desembaraça.

Referências:







4 comentários:

R. Aires disse...

Bom...

Acho que a Marvel só perde com o editor-chefe Joe Quesada (não sei se ainda está no cargo), pois as idéias de Joe, no mínimo, são um desastre.

O universo Ultimate é interessante? É, claro que é! Mas as constantes alterações nele é que provocam a fúria de vários leitores.

O problema não é o "novo" Homem-Aranha ser negro, isso não é problema nenhum; o problema é você "matar" um personagem de uma raça, e criar a "versão" do mesmo personagem, só que em uma raça diferente (quem achar isso aqui preconceituoso, pelo amor de Deus, vá se tratar!), camuflando a idéia de "agradar gregos e troianos" ou, de simplesmente, "inovar".

Acho que se o personagem tem que ser negro, branco, amarelo... seja lá o que for, que seja em sua origem! Eu sei que o "novo", não é mais o Peter Parker, mas a idéia foi "recriar" o Homem-Aranha.

Seria o mesmo que matar o "Luke Cage" e "criar" um branco para assumir o seu papel de super-herói... uma versão caucasiana do personagem.

As editoras geralmente brincam com a inteligência e percepção de seus leitores, o que é ridículo.

No mais, achei péssima a idéia abordada pela Marvel. É isso.

Nuno Amado disse...

Eu poderia escrever sobre esse assunto no meu blog, mas fiz apenas uma nota ao assunto dias atrás. Não vale a pena alongar-me porque subscrevo totalmente o que o R.Aires disse no comentário trás!

Abraço

Anônimo disse...

Concordo totalmente com os comentários anteriores e, só para acrescentar, em vez de matar o personagem poderiam matar o Bendis, um autor mediano, que nada mais tem a acrescentar ao personagem peter parker e que simplesmente está se livrando dele por este motivo. Se verá contado neste homem aranha que agorá virá, independente da raça (embora ache esta mudança similar e, por isso sem originalidade alguma, a do Jaime Reys, o Besouro Azul), os mesmos dramas, talvez camuflados por nuances diferentes, mas o mesmo vai estar lá. Pra mim o cara já deu o que tinha que dar e devia cair fora até conseguir coisa nova para escrever, em vez de ficar empurrando todo o lixo que vem na cabeça dele por nossas gargântas...

GG disse...

Esse tema é um tanto delicado de se comentar, eu sei. A compreensão de que nada aqui objetiva uma discriminação é fundamental. Concordo que por mais que a meta seja agradar e permitir uma maior identificação para um púlbico mais amplo, essa atitude foi bastante polêmica e um tanto questionável. Um aspecto que pode ser visto nos quadrinhos é que personagens novos demoram a emplacar, então, as editoras utilizam dos seus já renomados protagonistas para aplicar suas estratégias editoriais. Não estou defendendo nenhum dos pontos, apenas constatando um acontecimento que muitas vezes leva a esse tipo de evento como a morte do Aranha Ultimate. Não sei como será a vida de Miles Morales, além do fato que ele continua carregando em si outro elemento recorrente do universo do herói aracnídeo,: a aliteração em seu nome. Aguardemos para ver como se desenrolará sua jornada e o que o universo Ultimate aguarda para seus leitores.