quarta-feira, 22 de julho de 2009

O Estilo Brasileiro de Quadrinizar

Por Gabriel Guimarães

Continuando a série de homenagens aos 50 anos de carreira de Mauricio de Sousa, hoje farei uma análise mais detalhada de como através da turma da Mônica ele revolucionou o modo do artista brasileiro fazer quadrinhos.
Todos sabem que sou um fã assíduo dos quadrinhos de super-herói da Marvel, DC, Dark Horse, etc, mas nos últimos anos tenho percebido uma enorme perda nesse gênero em relação ao modo como estes falam com seu leitor. Seja distorcendo tudo que uma geração de consumidores leu, como "Um Novo Dia", do Homem-Aranha, ou matando diversas vezes o mesmo personagem em sagas diferentes, como Órion em "A Queda dos Novos Deuses" e "Crise Final", me parece que alguns dos principais editores perderam a clareza da visão que os quadrinhos têm com seu público.
Eles passaram a se preocupar mais com o lucro da venda do que com a qualidade da mercadoria, praticamente como tudo mais no mundo nessa última década. Mas é por isso que o mundo tem ido de mal a pior. As pessoas pararam de ligar para o próximo e passaram a pensar apenas em si mesmas, e isso nunca nos levará a lugar nenhum, apenas à destruição de tudo que existe. Mas voltando aos quadrinhos em si, os roteiristas têm ficado tão pressionados com prazos (assim como os desenhistas que acabam inferiorizando seus traços para cumprirem a tabela da editora), que acabam criando roteiros sem nexo ou interesse, raríssimas hoje em dia as excessões como Geoff Johns em "Lanterna Verde", Brian Michael Bendis em "Marvel Millennium: Homem-Aranha", ou Andy Diggle em "Arqueiro Verde: Ano Um". Muitos podem dizer que não é bem assim, mas é verdade que o prazo afeta a qualidade, e na maioria dos casos em um nível bastante negativo.

Devem estar se perguntando o que isso tudo tem a ver com Mauricio de Sousa, não é?

Pois bem, agora que dei o contexto dos quadrinhos atuais, falemos de Turma da Mônica. Publicada há décadas, os gibis desses personagens sempre tiveram em sua essência um laço de amizade com seus leitores, nunca fazendo polêmicas exageradas nem tendo que redefinir tudo em uma ou duias histórias para atrair consumidores desesperados.
Acredito que a grande diferença esteja no tipo de consumidor ao qual cada estilo de quadrinhos esteja ligado. Enquanto os quadrinhos de herói hoje são ligados à figura do consumidor paranóico, que se desespera para conseguir uma edição especial metalizada ou coisa do gênero, os quadrinhos da turma da Mônica têm um consumidor não totalmente fiel, mas confiável.
O relacionamento do público com os gibis dela é de uma singela correlação, onde o leitor verdadeiramente se identifica com o personagem e se sente na pele deste, seja curtindo uma imaginação no Parque da Mônica ou descobrindo tesouros da juventude nas revistinhas do Cebolinha. Mauricio de Sousa revolucionou o estilo brasileiro de quadrinizar ao trocar um lucro grande porém rápido por um constante e duradouro que é no geral mais benéfico. E isto se dá em grande parte pela sua fidelidade, por sua eterna busca por trazer a vida para os quadrinhos.
Quando você percebe que há revistinhas da Mônica sendo vendidas no Canadá, Japão, Coréia, Itália, entre muitos outros, é que você vê a efetividade dessa estratégia.

É preciso que outros autores adotem essa postura também, porque é o que é preciso nesse momento do mundo. O público leitor de quadrinhos não gasta mais com revistas como antigamente, e se este comprar uma revista de personagens apenas superficiais sem nenhuma identificação psicológica (o que também vale para os quadrinhos de heróis), quem garante que ele virá no futuro a comprar outra revista em quadrinhos, mesmo que de gênero diferente?
É tarefa do editor sim visar pelo patrimônio econômico da empresa, mas este tem de ter em vista uma estratégia de marketing condizente ebem planejada para com o público, como o faz Mauricio.
Sei que há muitos críticos do novo gibi "Turma da Mônica Jovem" dentre mesmo os leitores assíduos da turminha, mas é preciso se verificar o objetivo que os editores responsáveis tiveram com isso. Eu conheço até pessoas da minha faculdade que leem esses gibis assim que saem, ou seja, mesmo que este movimento possa parecer apenas uma jogada publicitária numa vã tentativa de concorrer com os mangás que vendem no Brasil, na verdade, foi uma estratégia para atrair novos leitores e tornar os antigos que se diziam grandes demais para ler turma da Mônica interessados em voltar a fazê-lo. E deu certo, não sei se da maneira exata como queriam, mas hoje em dia a turma da Mônica voltou a ficar em evidência nos jornais e revistas sobre quadrinhos, vide a edição do tão aguardado beijo da Mônica com o Cebolinha.

Pois bem, encerro a postagem reafirmando que este estilo de abordar os quadrinhos pode parecer apenas um ponto de vista comercial, mas não é. Ele se inicia no teclado do roteirista e na prancheta do desenhista e vai terminar não no gibi finalizado que é comprado pelo leitor, mas sim nas lembranças e recordações positivas que os leitores terão por toda a sua vida. Dizem que livros mudam vidas, e eu afirmo com toda certeza que quadrinhos também. é necessário que estes ganhem a atenção devida no meio comunicacional e no meio editorial.
Mais uma vez, obrigado, Mauricio, pela lição. Que o futuro possa guardar uma nova safra de quadrinistas com sua visão de público.

2 comentários:

The FreExpressioNanquin disse...

As pessoas podem até reclamar de Turma da Mônica Jovem, mas continuam lendo... É mesmo verdade: querendo ou não TMJ pôs Maurício em evidência novamente. Sabia que ele é o maior licenciador do mundo...?

lokaz disse...

legal a ideia da pagina :)
envio meu blog pra vcs conhecerem
www.lokaz-tirinhas.blogspot.com
beijos!