quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Política nos Quadrinhos

Por Gabriel Guimarães

Desde a invenção da imprensa de Gutemberg, todo tipo de material impresso já foi utilizado para fins políticos, desde jornais a revistas. Inclusive os quadrinhos. Correto ou não, imparcial ou não, ela sempre esteve lá, acalorando debates e fazendo tremer as bases do mundo dos super-heróis, até mais do que uma ou outra eventual vinda de Galactus ou de um Devorador de Sóis qualquer.

Sejam nos quadrinhos espaciais do Surfista Prateado, ou na Segunda Guerra, encarada de frente pelos heróis como Capitão América, Capitão Marvel e Superman, as ideologias políticas sempre estiveram presentes no meio quadrinhístico. Essa presença política nos territórios das HQs é tamanha, que tem sido discutida há muito tempo pelos teóricos e historiadores da área, como Moacy Cirne, em Quadrinhos, Sedução e Paixão, e Roberto Guedes, em A Era de Bronze dos Super-Heróis.
Durante muito tempo, a política foi mostrada nos quadrinhos de forma a não indentificar o governo em vigência, mas sim a situação em que a população se encontrava, como é visto nas edições da década de 1970 do Lanterna Verde, em que ele encara a dura realidade enfrentada pelo povo afro-americano e pelos menos favorescidos, durante as grandes crises racial e social.

Na história dos quadrinhos de heróis, há, inclusive, duas ocasiões que merecem nossa atenção para uma análise precisa desse tema. Elas são: a candidatura do Capitão América para a presidência dos Estados Unidos (1980), e a eleição do Homem de Ferro para secretário da defesa dos Estados Unidos (2005).

Na trama de 1980, o Capitão América, depois de derrotar uma equipe vilã chamada Império Secreto, descobre que o cabeça da equipe era nada mais nada menos que o presidente dos Estados Unidos. Sabendo que o sonho americano pendia na balança, o capitão resolve se
candidatar à presidência para dar ao povo americano o que ele realmente merece. Esta história ficou sendo uma clara alusão ao caso Watergate, que remexeu com o lado político de cada americano da época, inclusive com Roger Stern, roteirista da linha do Capitão América para a Marvel. No final, o soldado desiste da candidatura, alegando que ser presidente é um cargo que exigiria 24 horas de sua atenção todos os dias da semana, e que se alcançasse esse status, não poderia mais ajudar os fracos e oprimidos pelo mundo afora, como o fazia como Capitão América. Porém, antes de o arco terminar, ainda houve tempo para mais uma referência política, quando J. Jonah Jameson, dono do Clárim Diário e renomado anti-mascarados, tem que decidir se o jornal vai ou não apoiar a candidatura de Steve Rogers. ''O Capitão é um bom homem, mas lembra quando estrelas de cinema começaram a fazer o mesmo?'', fala Jameson durante um debate com Robertson, seu editor-chefe. Essa pérola foi uma referência à eleição de Ronald Reagan para a Casa Branca.
Na história do Homem de Ferro, Stark busca a política após ser convidado por assessores do presidente para ajudar na manutenção do armamento produzido pela sua empresa para ajudar o exército norte-americano na Guerra do Iraque. Este aceita se candidatar e começa a alegar que por ser presidente de uma empresa tão grande quanto as Indústrias Stark, tem condição de administrar melhor essa área tão em vista pelo governo Bush. No final, consegue convencer os senadores americanos a elegê-lo e passa a exercer o cargo sem abandonar sua armadura vermelho e dourada.

Esses dois casos são muito interessantes por fugirem ao padrão do esperado pelos fãs, e permitem-nos perceber a grande influência da política nos quadrinhos. Esta última ainda nos permite notar que durante o governo Bush (2001-2008), ocorreu o auge das histórias com base política, quando surgiram HQs como Authority, Black Summer, dentre outras, que representavam a crítica e a desaprovação do povo com o governo pró-guerra de George W. Bush.


Há pouco tempo, outra abordagem política 'surpreendeu' a todos os leitores de quadrinhos. Após a eleição do candidato Barack Obama para a presidência dos Estados Unidos, muitas HQs se voltaram para o lado político e declararam seu apoio ao novo presidente. A que mais chamou a atenção foi a aparição de Obama na revista de linha do Homem-Aranha, a qual esgotou no primeiro dia de venda, chegando à impressionante marca de 1,5 milhão de revistas vendidas até o momento. A comoção geral para a compra dessa edição só é similar à da venda da última edição do arco A Morte do Super-Homem, em 1992.

Esse apoio ao presidente Obama caiu nas graças do povo norte-americano de uma maneira jamais imaginada, mas muito bem vinda. E a política demonstra que permanecerá sendo um ponto crucial nas histórias da Marvel, DC, Wildstorm, entre outras... Agora, nos resta esperar que os quadrinhos caiam também nas graças dos políticos, para enfim haver investimentos nessa área da comunicação pouco reconhecida aqui no Brasil e em outros pontos do mundo, para que então seja possível quebrar essa barreira do preconceito e permitir aos artistas sonhar, pois a base das histórias em quadrinhos é o sonho, como o teórico Moacy Cirne definiu: ''A matéria prima dos quadrinhos, como a de qualquer outro produto no interior das artes plásticas, é o grafismo - o grafismo que nasce do sonho, que nasce do desejo, que nasce da paixão, que nasce da nossa mais profunda humanidade. Por isso, os quadrinhos, em sendo bons, podem seduzir, podem ser apaixonantes. E podem, amorosamente ou não, levar à reflexão.''

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

''O Cavaleiro das Teias''? Acho que não...

Por Gabriel Guimarães

Tentando seguir na linha de sucesso provocado pelo Batman de Frank Miller, a Marvel lançou, 22 anos depois, uma versão apocalíptica para o futuro de um de seus mais prezados heróis. Em Homem-Aranha: Potestade, de Kaare Andrews e Jose Villarrubia, o herói aracnídeo já está numa idade muito avançada e toda a cidade de Nova York se encontra sob total controle do prefeito Waters, que governa a cidade com mão de ferro e todos andam de cabeça baixa, fingindo que nada de errado acontece. Prestes a ativar o projeto de segurança para a cidade chamado 'Teia' (bem sujestivo para o universo do amigão da vizinhança), começa a surgir uma resistência contra o governo formada por crianças órfãs e ignoradas pelos pais, lideradas por nada mais, nada menos, que J. Jonah Jameson. Sem contar mais com seu precioso Clarim Diário para divulgar sua opinião, ele passa a reunir os jovens dentro de uma velha igreja num beco da cidade.
Jameson passou muito tempo longe do grande centro urbano após vender sua empresa para um grupo de investidores barões do petróleo, que mais a frente, se revelam identidades falsas, usadas pelo prefeito Waters para criar um rede televisiva de jornal que o apoiaria e mostraria tudo que ele realizou em seu governo.

Não, não é o Comissário Gordon, é Peter Parker mesmo!

Peter continua sendo um fracassado, fato comprovado quando é despedido de seu emprego numa floricultura logo no início da história. Ele aparenta estar numa idade muito avançada na medida que cabelos brancos lhe cobrem a face e necessita de óculos novamente, fato que não ocorria desde o início de sua carreira de herói. Ele abandonou o traje de Homem-Aranha de vez, depois de mais uma vez faltar para com aqueles que ama, levando à morte de sua amada Mary Jane Watson-Parker.

Partindo desse futuro estranho (para dizer o mínimo), a trama se inicia quando Jameson entrega um pacote a Peter contendo sua antiga câmera e a máscara que este usava em seus tempos joviais. A partir daí, o antigo editor começa sua campanha para abrir os olhos dos cidadãos contra o vilão por trás do prefeito, Venom, e ao retorno do ícone que era o Homem-Aranha.

A história tem momentos de narrativa brilhante e certos momentos de clímax realmente emocionantes, que agradam muito. Quanto à arte, é uma clara cópia do estilo usado por Frank Miller em 1985. Porém, há momentos muito estranhos nessa visão deturpada do cabeça-de-teia. Alguns deles posso listar,: Quando a população está indo para o prédio em que Peter vive, surge um ex-herói ou ex-vilão (não dá pra ter certeza de qual dessas classes seria), chamado DJ Hypno, cujo poder é tão ridículo (ele usa seu rádio que toca fita-cassetes para fazer os seus inimigos dançarem funk, dá pra acreditar??) que não chega a durar nem duas páginas inteiras vivo; Em meio a uma das melhores cenas de luta da edição, quando o Homem-Aranha está para ser decapitado por Kraven, surge um Doutor Octopus, não se sabe de onde, que arranca o aracnídeo do meio da briga e o leva até o cemitério onde a família Parker está enterrada para depois simplesmente sumir sem deixar rastro; - Ao encontrar o cadáver de sua amada MJ no cemitério, os autores da história devem ter pensado 'o que mais poderia acontecer se não o beijo mais nojento já mostrado numa história em quadrinhos?', mostrando Peter como um necrófilo muito estranho;

O final, apesar das emocionantes batalhas e estimulantes reviravoltas, é meio sem graça, deixando uma sensação de que ficou faltando alguma coisa.

Essa história é, para mim, um exemplo óbvio de que nem todas as abordagens bem sucedidas nos quadrinhos com um personagem podem ser bem sucedidas com outros. O Homem-Aranha é de um universo totalmente diferente do Batman, e não digo no sentido Marvel/DC, mas sim no contexto e motivações dos personagens.

Ao Batman o que é do Batman, e ao Homem-Aranha o que é do Homem-Aranha, não adianta tentar trocar as bolas porque não dá certo.

NOTA GERAL: 2,5 estrelas.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Concreto: Uma História entre Histórias

Por Gabriel Guimarães

Essa semana tive a oportunidade de ler uma HQ indicada no livro Desvendando os Quadrinhos, do quadrinista americano Scott McCloud, que sempre me deixou curioso. Concreto: Uma Rocha entre Rochas, de Paul Chadwick, me chamou muita atenção na livraria por ter um traço limpo, porém bem detalhado e de grande teor emocional (as faces desenhadas por Chadwick têm uma característica emotiva tão real que são um dos grandes atrativos da obra). Comprei a edição e a levei para casa a fim de ler um discurso atemporal que lidasse de maneira bem interessante sobre a psique humana, mas não tive todas as minhas espectativas correspondidas, infelizmente.

A história é curiosa, contando a vida de um antigo escritor, chamado Ronald Lithgow depois de ter seu corpo modificado por experiências alienígenas. Seu corpo novo, de aparência rochosa, é resistente a quase tudo, e permite que ele prenda a respiração por uma hora, além de ter uma temperatura interna absurdamente alta. Sua origem é meio distorcida, chegando a ser algo inverossímil.O governo passa a estudá-lo para determinar o potencial que esse corpo possui, mantendo-o em um laboratório secreto, onde é submetido a muitos testes. Após um incidente interno, eles resolvem criar uma forma de tornar público o conhecimento sobre Ronald, o que gera uma das características que considerei mais estimulantes, ainda mais devido ao estudo que tenho feito de marketing nos quadrinhos. Concreto, como Ronald passa a ser chamado, chega a frequentar shows de auditório e sitcoms, faz pose para fotos políticas e realiza feitos por um lugar no livro dos recordes.

As ilustrações funcionam muito bem no sentido de narrativa da história, mas não conseguem elevar certos rombos no roteiro. O livro constitui de 3 histórias, sendo a última, com maior quantidade de páginas, a origem do personagem. A segunda, em que ele fica , junto da cientista que o estuda, Maureen Vonnegut, e seu recém-contratado assistente e autor de romances, Larry Munro, perdido no meio do mar, foi a que considerei a mais interessante, mas, mesmo assim, 'sem sal' (há muita qualidade nas horas que relata o que vê no fundo do mar e as reações humanas à condição de náufrago, mas falta certa ação).

Acredito que, para quem quer estudar as histórias em quadrinhos como um meio de comunicação, essa obra é importante, pois é uma das poucas do gênero da ficção científica que pude encontrar atualmente no mercado, e tem um teor psicológico decerto instigante.

NOTA GERAL: 2 estrelas.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Guerra na Caixa dos Lápis de Cor

por Gabriel Guimarães

Hoje, pela manhã, pude terminar de ler a aguardadíssima saga da mais nova revista da Panini, Dimensão DC: Lanterna Verde, 'A Guerra dos Anéis'. Para escrever uma resenha digna, partindo do fato de eu ser um fã de carteirinha do personagem originalmente criado por Bill Finger e Martin Nodell, precisarei seguir alguns pontos que considerei vitais para a total compreensão da história e sua assimilação.

Desenhada pelo brilhante brasileiro Ivan Reis, cada página das edições da série americana Green Lantern foi um vislumbre e um deleite para os olhos. Seu domínio de luz e sombra nos desenhos os tornam tão vivos que pude me sentir numa sala de cinema assistindo ao que posso considerar o Guerra nas Estrelas dos quadrinhos de heróis. Suas cenas de ação e batalhas épicas saem das páginas para ficarem eternamente marcadas nas nossas memórias. Um dos pontos que mais me chamaram a atenção foi o destaque à humanidade do Lanterna Hal Jordan, que em toda cena de close ou plano italiano é possível ver pequenos cortes nas bordas de sua máscara e na área da clavícula sempre há marcas de sujeira e arranhões. As edições de Green Lantern Corps feitas no traço de Patrick Gleason e Angel Unzueta não deixam por menos. A cena de Sinestro sobre Korugar passando em meio às bandeiras com o símbolo dos Lanternas Verdes enquanto chove e troveja ao fundo é simplesmente fantástica. A capacidade para acompanhar a narrativa dinâmica e precisa de Dave Gibbons é muito impressionante, comprovado pela página dupla dinâmica da edição 2 na versão brasileira.

Na parte escrita, essa obra alcança um nível, em minha opinião, não igualado nas histórias do Lanterna Verde. Geoff Johns, Dave Gibbons, Ron Marz, Alan Burnett, e Peter J. Tomasi, foram brilhantes, tornando a história interessante pelas batalhas perfeitas, dando um tom de guerra muito realista, e pela densidade psicológica dos personagens, com foco principal em Kyle Rayner, em Tales of the Sinestro Corps: Parallax, e Sodam Yat, em Green Lantern Corps 18. Outro aspecto que me chamou a atenção para o enredo foi o sábio uso de referências mais antigas de histórias dos Lanternas. No comando da série esmeralda desde Lanterna Verde: Renascimento, Geoff Johns realmente se aprofundou no universo do personagem, justificando todas as suas ações com estórias anteriormente realizadas e bem sucedidas pelos roteiristas da época. O que originou a idéia para essa obra em vários atos foi uma história publicada em 1986, na edição Tales of the Green Lantern Corps Annual 2, com o título de 'Tigres', escrita pelo aclamado britânico Alan Moore, em que o Lanterna Verde do setor 2814 anterior a o terráqueo Hal Jordan, Abin Sur, ouve uma profecia contada por seres de um estranho mundo chamado Ysmault, em que relatam como procederia a queda da Tropa dos Lanternas Verdes.




A publicação pela Panini de maneira primordial, seguindo perfeitamente a cronologia de edições americanas, merece uma menção aqui no blog também.

Agora, falemos de história propriamente dita. Num ritmo alucinante em diversos pontos do universo, a jornada das tropas verde e amarela realmente prendem a atenção dos leitores, com direitos a grandes momentos de clímax. A versão da Terra do universo DC vista pelos olhos do Superboy Primordial também é, por falta de termo melhor e caindo do estereótipo, primordial.
A edição 2 considero o ponto máximo da saga, visto que atende a todas as demandas que um fã do gladiador esmeralda pode ter. Tenho que admitir que o final careceu de certos momentos de clímax e emoção que presenciei no início do arco, mas mesmo assim, é algo maravilhoso.

NOTA GERAL: 5 estrelas.

domingo, 4 de janeiro de 2009

Admirável Ano Novo

por Gabriel Guimarães

Parece um tanto quanto cedo para admirar o ano de 2009, e, a princípio, é mesmo, mas para aqueles que, através das histórias em quadrinhos, aprenderam a escalar paredes e voar pelos setores galácticos, o novo calendário traz apenas novas histórias de batalhas épicas e contos de pura magia e superação.


Para os experientes colecionadores de gibis, o futuro reserva reformulações das linhas de HQs do Homem de Ferro e a minissérie de Brian Michael Bendis, Invasão Secreta, chegando ao seu ápice, pela Marvel, e as tão esperadas histórias de Grant Morrison, A Queda dos Novos Deuses e Crise Final, pela DC Comics.

Para os leitores mais eventuais, estarão sendo publicadas a saga Ultimatum, reunindo todos os heróis do universo Ultimate da Marvel, e a polêmica porém aclamada saga Batman: RIP, pela DC. Os autores não deixam por desejar.

Ao mesmo tempo, para aqueles que porventura queiram se integrar com esse meio de comunicação e/ou começarem a ler material de grande qualidade, a editora Panini tem muitos encadernados especiais em fase de produção para serem publicados aqui. Eles reúnem grandes sagas e arcos de história com os mais diferentes tipos de narrativa, feitos por grandes roteiristas das histórias em quadrinhos, como os mestres Stan Lee, Jerry Siegel, Bill Finger e Dennis O'Neal, e ilustrados pelos mais variados artistas, desde Joe Shuster, Jack Kirby e Steve Ditko a Neal Adams, Dan Jurgens e Brian Bolland.

WATCHMEN


Aqui, vale uma nota especial para a publicação do álbum Watchmen em sua edição mais luxuosa, com uma quantidade de material extra enorme em vista da estréia do filme nas salas de cinema ao redor do mundo a princípio no mês de março. Essa história é considerada a melhor dos quadrinhos de gênero heróico pela sua complexa abordagem psicológica sobre um grupo de heróis em plena época de Guerra Fria, em 1985.

Para quem nunca a leu, vai aqui a minha recomendação, e para aqueles que já a conhecem, esta edição, se alcançar parte da qualidade do seu modelo americano, que contém exemplos de roteiros do Alan Moore, esquetes de esboço e os desenvolvimento dos personagens pelo desenhista Dave Gibbons, vai ser um marco na qualidade de publicação desse gênero.

Um ano muito bom se anuncia, e tudo que nos resta agora é esperar a chegada às bancas desse material para podermos deliciar nossas imaginações e fantasias, tanto infantis quanto adultas, com todo esse conteúdo. Valerá a pena esperar.