sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

''O Cavaleiro das Teias''? Acho que não...

Por Gabriel Guimarães

Tentando seguir na linha de sucesso provocado pelo Batman de Frank Miller, a Marvel lançou, 22 anos depois, uma versão apocalíptica para o futuro de um de seus mais prezados heróis. Em Homem-Aranha: Potestade, de Kaare Andrews e Jose Villarrubia, o herói aracnídeo já está numa idade muito avançada e toda a cidade de Nova York se encontra sob total controle do prefeito Waters, que governa a cidade com mão de ferro e todos andam de cabeça baixa, fingindo que nada de errado acontece. Prestes a ativar o projeto de segurança para a cidade chamado 'Teia' (bem sujestivo para o universo do amigão da vizinhança), começa a surgir uma resistência contra o governo formada por crianças órfãs e ignoradas pelos pais, lideradas por nada mais, nada menos, que J. Jonah Jameson. Sem contar mais com seu precioso Clarim Diário para divulgar sua opinião, ele passa a reunir os jovens dentro de uma velha igreja num beco da cidade.
Jameson passou muito tempo longe do grande centro urbano após vender sua empresa para um grupo de investidores barões do petróleo, que mais a frente, se revelam identidades falsas, usadas pelo prefeito Waters para criar um rede televisiva de jornal que o apoiaria e mostraria tudo que ele realizou em seu governo.

Não, não é o Comissário Gordon, é Peter Parker mesmo!

Peter continua sendo um fracassado, fato comprovado quando é despedido de seu emprego numa floricultura logo no início da história. Ele aparenta estar numa idade muito avançada na medida que cabelos brancos lhe cobrem a face e necessita de óculos novamente, fato que não ocorria desde o início de sua carreira de herói. Ele abandonou o traje de Homem-Aranha de vez, depois de mais uma vez faltar para com aqueles que ama, levando à morte de sua amada Mary Jane Watson-Parker.

Partindo desse futuro estranho (para dizer o mínimo), a trama se inicia quando Jameson entrega um pacote a Peter contendo sua antiga câmera e a máscara que este usava em seus tempos joviais. A partir daí, o antigo editor começa sua campanha para abrir os olhos dos cidadãos contra o vilão por trás do prefeito, Venom, e ao retorno do ícone que era o Homem-Aranha.

A história tem momentos de narrativa brilhante e certos momentos de clímax realmente emocionantes, que agradam muito. Quanto à arte, é uma clara cópia do estilo usado por Frank Miller em 1985. Porém, há momentos muito estranhos nessa visão deturpada do cabeça-de-teia. Alguns deles posso listar,: Quando a população está indo para o prédio em que Peter vive, surge um ex-herói ou ex-vilão (não dá pra ter certeza de qual dessas classes seria), chamado DJ Hypno, cujo poder é tão ridículo (ele usa seu rádio que toca fita-cassetes para fazer os seus inimigos dançarem funk, dá pra acreditar??) que não chega a durar nem duas páginas inteiras vivo; Em meio a uma das melhores cenas de luta da edição, quando o Homem-Aranha está para ser decapitado por Kraven, surge um Doutor Octopus, não se sabe de onde, que arranca o aracnídeo do meio da briga e o leva até o cemitério onde a família Parker está enterrada para depois simplesmente sumir sem deixar rastro; - Ao encontrar o cadáver de sua amada MJ no cemitério, os autores da história devem ter pensado 'o que mais poderia acontecer se não o beijo mais nojento já mostrado numa história em quadrinhos?', mostrando Peter como um necrófilo muito estranho;

O final, apesar das emocionantes batalhas e estimulantes reviravoltas, é meio sem graça, deixando uma sensação de que ficou faltando alguma coisa.

Essa história é, para mim, um exemplo óbvio de que nem todas as abordagens bem sucedidas nos quadrinhos com um personagem podem ser bem sucedidas com outros. O Homem-Aranha é de um universo totalmente diferente do Batman, e não digo no sentido Marvel/DC, mas sim no contexto e motivações dos personagens.

Ao Batman o que é do Batman, e ao Homem-Aranha o que é do Homem-Aranha, não adianta tentar trocar as bolas porque não dá certo.

NOTA GERAL: 2,5 estrelas.

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