Por Gabriel Guimarães
O ano de 2004 foi bastante turbulento para a humanidade. Ainda sob o jugo do temor provocado pelos atentados terroristas às Torres Gêmeas, nos Estados Unidos, alguns anos antes, muitos países viveram situações tensas com radicais ideológicos que optaram por utilizar os mesmos meios para combater aqueles opostos aos seus propósitos. A Austrália sofria com ameaças do tipo, a Ucrânia vivia grande caos em meio ao seu período eleitoral, a Rússia viu dois massacres ocorrerem em seus aeroportos e escolas, a Espanha sofreu atentados graves em pontos de seu sistema público de transporte, o Kosovo, ainda então parte da Sérvia, era cenário de grandes conflitos populares, insurgentes no Iraque atacaram uma de suas prisões. O mundo inteiro, portanto, passava por um período de reconfiguração de seu cenário político e militar. Nada, porém, surpreendente que essa temática, já tão emblemática na indústria de entretenimento desde os tempos da Primeira Guerra Mundial, tenha sido representada em obras da época como o documentário ''Farenheit 11/9'', o jogo ''Counter-Strike: Source'' e a obra que é o foco de nossa matéria hoje, a light novel ''All You Need is Kill''. Escrita por Hiroshi Sakurazaka e com ilustrações de Yoshitoshi Abe, a história foi publicada pela editora Shueisha dentro da revista ''Super Dash Bunko''. Uma década depois, foi adaptada para os quadrinhos por Ryosuke Takeuchi com desenhos de Takeshi Oda, e para os cinemas pelo diretor norte-americano Doug Liman.
Apresentando a história do recruta Keiji Kiriya em sua primeira luta na frente de batalha do seu pelotão contra os Mimetizadores, raça alienígena que atacou o nosso mundo com o objetivo direto de dominá-lo como a uma presa, o livro aborda a mudança causada no personagem a partir do momento em que este adquire um dos poderes dos seres inimigos, o qual faz com que ele volte no tempo até um dia antes de sua morte toda vez que ele cai em confronto. Com um estilo similar ao do filme de comédia de 1993, ''Feitiço do Tempo'', o protagonista se vê preso em uma rotina repetitiva cujo fim sempre termina por levá-lo de volta ao começo. Revivendo centenas de vezes o combate, o ingênuo Kiriya vai se tornando mais frio e calculista, uma vez que retinha todas as experiências das mortes anteriores e continuava fadado a experimentá-las continuamente. Transformando-se de um soldado novato em especialista, o personagem apresenta o desumanismo provocado pelo cenário caótico da guerra e os frequentes encontros com a morte, elemento apontado com grande pesar pelo escritor e veterano soldado alemão Erich Maria Remarque em sua obra de 1929, ''All Quiet on the West Front'', acerca da experiência alemã na Primeira Guerra Mundial.
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Acima, a representação dos Mimetizadores no filme, abaixo a versão do mangá |
No decorrer da trama, Kiriya conhece pessoalmente outra oficial que teria passado por experiência similar à sua com o loop do campo de batalha, a norte-americana Rita Vrataski. Apelidada em batalha de 'Valquíria' e empunhando um longa e pesada lâmina, ela lhe explica a origem do fenômeno pelo qual está passando e o ajuda a treinar para que, juntos, possam eliminar os Mimetizadores responsáveis pela salvaguarda do grupo inimigo ao gerar a viagem no tempo para que possam se reorganizar e se defender melhor dos ataques humanos. Diante da realidade grotesca das guerras e as inúmeras baixas que se repetem a cada novo loop, eles se veem confrontados por uma determinação que talvez seja a única forma de romper a repetição e terminar a batalha, mas isso não será realizado sem grandes sacrifícios.
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A atuação de Emily Blunt esteve excelente no filme |
O filme rendeu, ainda, outra adaptação para as história em quadrinhos, desta vez em volume único, pela dupla Nick Mamatas e Lee Ferguson, produzida nos Estados Unidos a partir da trama original. Publicada pelo grupo editorial Viz Media, responsável em 2009 pela tradução do original de Hiroshi e de outras centenas de obras japonesas para o inglês, a edição mantém-se inédita no Brasil. Tanto o mangá quanto o filme e a graphic novel saíram por volta da mesma época, no primeiro semestre de 2014 e impulsionaram uma discussão mais ampla sobre a possibilidade de mais mangás e light novels serem adaptadas para os cinemas norte-americanos, trazendo assim maior atenção para seus autores e para a mídia, muitas vezes marginalizada por uma imagem pública demasiado infantil.
A quem tiver interesse em conferir uma entrevista de Hiroshi Sakurazaka para o portal Japan Times acerca da produção em cima de sua obra estreando nas grandes salas de cinema, o link segue aqui. O site Anime News Network também fez uma matéria interessante sobre o sucesso alcançado pelo filme ''No Limite do Amanhã'', que pode ser conferida aqui. Para concluir, o site The Motley Fool preparou uma matéria interessante sobre a graphic novel do ''All You Need is Kill'', da Viz Media, que pode ser conferida aqui.
NOTA GERAL (FILME): 4 ESTRELAS.
NOTA GERAL (MANGÁ): 4,5 ESTRELAS.