Por Gabriel Guimarães
Ainda que nossas atividades do blog tenham sido restringidas ao longo deste final de ano por questões técnicas e de cronograma, a publicação de histórias em quadrinhos continuou em ritmo acelerado, tal qual acontecera no resto do ano todo. A fim de apresentar obras que se destacaram e que talvez vocês, leitores, talvez não tenham tomado conhecimento, selecionamos uma lista de edições publicadas neste ano de 2012 que mereceram nossa recomendação. Para evitar uma ordem de valorização entre as obras que compõem nossa lista, não a organizamos numa estrutura de qualidade, mas de uma forma que ela possa ser compreendida por todos de acordo com seu potencial de interesse. Para aproveitar nossa retrospectiva das publicações em quadrinhos de 2012, optamos por acrescentar os comentários sobre o que este ano representou para o meio em si e para nossa realidade brasileira, em particular, a carioca.
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Editoras como a GAL e a Companhia das Letras também continuaram com um alto número de publicações de qualidade. A primeira publicou a conclusão da série "Fracasso de Público", de Alex Robinson, que conta a história de aspirantes e profissionais dos quadrinhos e suas jornadas diárias de trabalho e amadurecimento, além de começar a republicar a obra "Love Rockets", de Jaime Hernandez, que fez muito sucesso na década de 1980, e a primeira parte da história "Nação Fora da Lei", de Jamie Delano, Goran Sudzuka e Goran Parlov. O selo de quadrinhos da segunda, a Quadrinhos na Cia., também manteve a diversidade em sua produção, indo desde a esperada segunda graphic novel do americano Craig Thompson, centrada no mundo cultural dos muçulmanos, "Habibi", até a nacional "Máquina de Goldberg", de Fido Nesti e Vanessa Barbara, passando pela elogiadíssima compilação da obra "Diomedes", do brasileiro Lourenço Mutarelli, a biografia em quadrinhos do psicólogo austríaco Sigmund Freud, entitulada apenas "FREUD", da dupla francesa Anne Simon e Corinne Maier e a belíssimamente trabalhada história "Monstros", do chargista Gustavo Duarte.
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A Panini, entretanto, não se limitou apenas aos lançamentos internacionais, sendo a responsável pela publicação de títulos como o "Ouro da Casa MSP", coletânea no estilo da trilogia MSP organizada pelo editor paulista Sidney Gusman com artistas brasileiros utilizando os personagens do padrinho dos quadrinhos brasileiros, Maurício de Sousa (que já foi comentada aqui no blog), o que também inspirou a série "Graphic MSP", iniciada este ano com "Astronauta: Magnetar", feita pelo desenhista Danilo Beyruth. Dentro da série da "Turma da Mônica Jovem", a Panini ainda publicou duas sagas que chamaram a atenção de leitores e admiradores dos quadrinhos em todo o país. No primeiro semestre, aconteceu o tão aguardado crossover entre os personagens da turma da Mônica e os protagonistas das aventuras do universo do quadrinista japonês Osamu Tezuka. Ambientada na selva amazônica, a história promoveu a importância da ecologia e permitiu, de vez, unir o trabalho de dois valiosos quadrinistas que foram grandes mestres para o meio e grandes amigos entre si (esse marco foi comentado aqui no blog). Em outubro, foi a vez de outro evento aguardado ganhar as páginas, com uma visão do futuro sobre o casamento da Mônica e do Cebolinha (cujo evento de lançamento no Rio de Janeiro foi coberto aqui no blog).
A editora Devir foi outra a participar do ano dos quadrinhos, lançando "The Spirit - Mais Aventuras", segundo volume em homenagem a um dos pioneiros da arte sequencial, o americano Will Eisner, o segundo volume da série brasileira produzida em parceria com o ProAC, "Jambocks! 2", de Celso Menezes e Felipe Massafera, sobre a participação brasileira na Segunda Guerra Mundial, a conclusão das histórias dos personagens literários reunidos por Alan Moore e Kevin O'Neill, em "Liga Extraordinária 2009", além do livro "Revolução do Gibi", que apresenta em forma impressa uma grande quantidade de postagens do Blog dos Quadrinhos, organizado pelo professor de Letras na USP, Paulo Ramos.
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Adaptação da Bíblia para história em quadrinhos |
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"20th Century Boys", de Naoki Urasawa, começou a ser publicado em 2012 |
Outros títulos que merecem destaque são "Mas Ainda Podemos Continuar Amigos", do alemão Mawil, publicado pela editora Zarabatana, sobre os percalços do autor na procura por um relacionamento amoroso; "Valente para Todas", segunda coletânea de tiras do talentoso desenhista mineiro Vitor Cafaggi (que já foi tema de matéria aqui), publicada de forma independente; A edição de luxo com histórias clássicas do bárbaro mais famoso dos quadrinhos, "Conan, O Libertador - Edição Histórica", pela editora Mythos; O polêmico livro de análise do universo dos super-heróis sob a ótica mitológica, escrito pelo roteirista Grant Morrison, "Superdeuses", pela editora Seoman; A visceral ficção com referências ao escritor chinês Sin Tzu e sua principal obra, "A Arte da Guerra", feita pela dupla de primeira viagem Kelly Roman e Michael DeWeese (para o qual, realizamos um review para o site Universo HQ, que pode ser conferido aqui), publicada pela editora BestSeller, parte do grupo Record; A adaptação do livro que deu origem ao cristianismo, feita de forma atenta e cuidadosamente bela pelo brasileiro Sergio Carielo, "Bíblia em Ação - A História da Salvação do Mundo", de mais de 300 páginas, publicadas pela editora Geographica; A nova série de mangá "20th Century Boys", de Naoki Urazawa, publicado pela já destacada editora Panini, sobre uma conspiração de dominação do mundo que tem origem na infância dos protagonistas da história, que já chegou até a virar filme no Japão; "Face Oculta", do italiano Gianfranco Manfredi e do desenhista já citado Goran Parlov, publicado também pela Panini, cujo enredo se desenrola nas colônias italianas do Século XIX; O livro de homenagem à exposição realizada em 1951 com a indústria de quadrinhos como tema, "A Reinvenção dos Quadrinhos - Quando o Gibi Passou de Réu a Herói", escrito e vivido por Alvaro de Moya, publicado pela editora Criativo; E a primeira graphic novel produzida pelo site Jovem Nerd de forma autoral, "Independência ou Mortos", com uma visão diferente do momento de independência do Brasil soba ótica da cultura de terror dos filmes de mortos-vivos, feita por Fábio Yabu e Harald Stricker.
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"Independência ou Mortos", de Fábio Yabu e Harald Stricker |
Fora do Brasil, também foram lançados materiais que merecem destaque, tais como a edição de luxo em homenagem a um dos pioneiros do quadrinho underground, "The Art of Harvey Kurtzman", escrito por Denis Kitchen e Paul Buhle e publicado pela editora Harry N. Abrams, Inc.; A biografia do matemático Richard Feynman, feita em quadrinhos pela dupla Jim Ottaviani e Leland Myrick sob o título simples de "Feynman"; E o mais recente trabalho do americano Joe Sacco, "Journalism", que é composto de uma série de pequenas histórias de coberturas jornalísticas realizadas pelo autor ao redor do mundo todo. Estes dois últimos foram publicados pelas editoras First Second e Metropolitan Books, respectivamente.
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Em suma, o ano de 2012 teve uma quantidade realmente incrível de publicações valiosas apresentadas em forma de arte sequencial ou sobre esta, e nós, leitores, ganhamos muito com isso. Ganhamos histórias de vida, modelos de comportamento, qualidade de conteúdo para divulgarmos e novos meios pelo qual interagirmos recorrendo às nossas mais intrínsecas emoções. 2012, todavia, não foi perfeito. Perdemos grandes nomes que marcaram nossas vidas com seus trabalhos, como Joe Kubert (fato que foi comentada aqui no blog), Keiji Nakazawa e até o já citado Moebius. A organização do maior evento internacional de quadrinhos do Rio de Janeiro encontrou problemas para formar parcerias e deixou de ser realizado após dois anos de sua abertura. As histórias em quadrinhos brasileiras perderam uma grande marca que vinha se consolidando, o selo editorial Barba Negra, conforme já foi destacado no começo desta matéria.
Não nos concentremos, porém, nos pesares, mas inspiremos o máximo possível dos bons momentos deste ano que finda amanhã. Que os relacionamentos criados através dos quadrinhos possam se fortalecer, criando laços de amizade e cordialidade para durarem eternamente. Que possamos nos reunir no próximo ano para continuar nossas discussões sobre este meio que tanto nos apaixona e nos seduz, e no ano seguinte a esse, e no ano seguinte a esse, e assim por diante. Que vejamos esta arte crescer e assumir seu posto de direito dentro da cultura popular e erudita. Que possamos todos, afinal, ter um 2013 pleno de emoções e de quadrinhos, regados a muitas amizades fortalecidas e outras novas. Nos vemos lá!