Por Gabriel Guimarães
Em "Quadrinhos, Sedução e Paixão", o estudioso dos quadrinhos Moacy Cirne destaca o potencial apaixonante inerente à narrativa criada pela estrutura de requadros que todas as histórias em quadrinhos dispõem, estando apenas limitadas à potencial habilidade daqueles envolvidos na sua composição. Destacando a sedução como uma arte de envolver o leitor, ele expande e analisa algumas outras mídias, criando pontes entre esses diferentes universos ficcionais. Dando destaque ao cinema, ele compara a atuação dos profissionais das grandes telas e a escolha de ponto de vista dos diretores às decisões editoriais que ficam a cargo de roteiristas e desenhistas talentosos. Cirne, porém, não aborda, ainda que fosse de teor plenamente compatível, a arte do teatro e sua semântica corporal com as obras gráfico-textuais que inundaram nosso consciente ao longo de mais de um século até agora.
Tendo sido talvez o grande meio de entretenimento das sociedades no período anterior à captura da imagem, o teatro é literalmente palco para grandes obras e grandes profissionais. O potencial de sua dramaticidade crua e sua metamorfose contínua acabam por tornar um pequeno segmento construído, em geral, de madeira, uma tela em branco para as mais mirabolantes aventuras e histórias. O romance e a poesia inerentes a esse processo permancem até os dias de hoje, servindo como instrumento de exposição social. Igualmente, os quadrinhos, que outrora representaram apenas uma arte semiótica básica, hoje possuem uma profundidade de destaque, o que leva a um interessante ponto de observação sobre essas duas formas de representação.
Adaptação de "Hamlet" feita por Sam Hart |
Eisner foi um dos ainda poucos quadrinistas que conseguiram seguir o caminho oposto, e teve sua obra "Avenida Dropsie" adaptada para o palco das artes cênicas. Apresentada nos Estados Unidos e Brasil, a peça teve um retorno bastante positivo, ainda que sua temporada de apresentação tenha sido curta. Outros grandes nomes do meio também já passaram por essa transição, mas não da mesma forma. O roteirista britânico Chris Claremont, responsável por um dos períodos de maior sucesso nos quadrinhos dos "X-men", se formou em um curso de teatro originalmente, e trabalhou com esse setor em algumas escassas ocasiões, sem, porém, haver qualquer conexão com sua faceta quadrinística. Ainda assim, é com orgulho que podemos mencionar um trabalho brasileiro que seguiu o trajeto percorrido pela obra de Eisner. O desenhista paulistano Mário Cau, que participou de projetos como "MSP50", além de muitas outras publicações pelo selo do grupo de autores independentes "Quarto Mundo", teve, em 2011, sua história "Pieces" adaptada para o palco sob direção de Max Sawaya. Quem tiver o interesse de conferir como foi a performance do trabalho sobre a obra de Mário pode conferir em seu blog, que pode ser acessado aqui, e cuja primeira parte pode ser vista abaixo.
Outras obras, ainda, apresentam uma forma um tanto similar à metalinguagem sobre essas duas obras, como o quadrinho brasileiro independente "Ato 5", de autoria da dupla André Diniz e José Aguiar, que conta a história da composição de uma peça de teatro e seus percalços durante a ditadura militar no Rio de Janeiro.
Conforme destaca Cirne, "a arte que não sabe seduzir não leva à paixão, não leva à reflexão" e, portanto, não há como desconsiderar a capacidade e conexões entre essas duas formas de arte tão fundamentais e essenciais para o nosso cenário social atual. O teatro Oi Casa Grande, no Rio de Janeiro, tem incentivado essa relação com a exposição "Os Novos dos Quadrinhos Brasileiros", que estará em exibição até o dia 13 de dezembro e já foi conferido aqui no blog. Apesar de não apresentar uma interligação entre os dois meios propriamente dita, a apresentação serve para atrair um olhar mais atento para a arte dos quadrinhos por aqueles que estão mais acostumados às peças teatrais, e vale a pena ser conferida.
Outras obras, ainda, apresentam uma forma um tanto similar à metalinguagem sobre essas duas obras, como o quadrinho brasileiro independente "Ato 5", de autoria da dupla André Diniz e José Aguiar, que conta a história da composição de uma peça de teatro e seus percalços durante a ditadura militar no Rio de Janeiro.
Conforme destaca Cirne, "a arte que não sabe seduzir não leva à paixão, não leva à reflexão" e, portanto, não há como desconsiderar a capacidade e conexões entre essas duas formas de arte tão fundamentais e essenciais para o nosso cenário social atual. O teatro Oi Casa Grande, no Rio de Janeiro, tem incentivado essa relação com a exposição "Os Novos dos Quadrinhos Brasileiros", que estará em exibição até o dia 13 de dezembro e já foi conferido aqui no blog. Apesar de não apresentar uma interligação entre os dois meios propriamente dita, a apresentação serve para atrair um olhar mais atento para a arte dos quadrinhos por aqueles que estão mais acostumados às peças teatrais, e vale a pena ser conferida.
Um comentário:
Bacana Gabriel. Penso que a proximidade que Avenida Dropsie encontrou no teatro muito tem a ver com as próprias saídas e entradas de cena dos povos e etnias que Eisner pontua ao longo da HQ. O bacana que vejo, nesse exercício de encontro entre teatro e quadrinhos, destacaria uma percepção mais ampla de imagem. Cirne acaba sendo um pouco vítima da imagem como aparato visual, não levando tanto em conta a parte sensível. O teatro se dá também em imagens, embora não tecnicamente fixadas. Da mesma forma os quadrinhos, pelo próprio suporte do quadro ou mesmo da página desempenha algo muito semelhante a um palco. Dá pra viajar mais. A provocação é boa...
Apesar de não ter escrito sobre essa relação, comentei um pouco sobre cultura e barbárie na Avenida Dropsie. Fica meu convite para que dê uma olhada: http://www.quadrinhosnasarjeta.com/2012/01/o-espaco-em-eisner.html
Abraço!
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