terça-feira, 29 de maio de 2012

Para Fazer Vingar

Por Gabriel Guimarães

 
  
Em cartaz nos cinemas brasileiros há pouco mais de um mês, "Os Vingadores", maior produção dos estúdios Marvel para as grandes telas até então, contando com um elenco repleto de grandes estrelas do cinema mundial e a direção de um dos próprios profissionais do meio dos quadrinhos, Joss Whedon, que também é o responsável pelo roteiro da obra, já alcança marcas cada vez mais surpreendentes. Além de ultrapassar no campo nacional a maior bilheteria da história dos cinemas brasileiros, que pertencia ao filme "Tropa de Elite 2", de 2011, o filme que reúne os maiores heróis do universo Marvel já alcançou a soma em torno de 1.305.463.000 doláres ao redor do mundo, tornando-se, no momento o quarto melhor resultado de bilheteria da história do cinema, a poucos milhões de alcançar a terceira posição.

Uma das muitas cenas de luta do filme
A fim de não estragar qualquer surpresa agradável ou não para o leitor, não entrarei em detalhes acerca de momentos do filme em específico, priorizando uma análise mais enfática no papel que o filme representará para a arte da adaptação entre quadrinhos e cinema, que é, diga-se de passagem, de grande importância.

Cena do primeiro filme do "Homem de Ferro",
de 2008, onde começou a ser trabalhada
a marca dos Vingadores

Construído a partir de uma lógica inovadora e composição midiatizada, iniciada no primeiro filme do "Homem de Ferro", de 2008, quando foi posto em questão a possibilidade da organização de um grupo de heróis distintos, chamado apenas de "Projeto Vingadores", numa cena após os créditos finais do filme, todo o contexto no qual o filme de 2012  foi construído começou a se expandir em vários filmes de heróis separados, produzidos pelos estúdios da própria Marvel. Nestes, eram fornecidos pequenos indícios e uma grande riqueza de detalhes para os fãs mais assíduos, acerca do futuro que era reservado para estes heróis, alimentando uma integração baseada na nova cultura da fragmentação midiática. Com o advento da internet, a lógica do mercado para a divulgação de determinado produto sofreu grandes mudanças, conforme destaca o sociólogo americano Phillip M. Napoli. A partir dessas mudanças, o trabalho de composição dos elementos que são consumidos socialmente como bens culturais precisaram passar por uma reformulação quase completa, de forma que seu resultado fosse bem recebido pelo público e este se tornasse parte do repertório cultural comum. A Marvel, não diferente de muitas empresas como a Coca-Cola ou a Nike, percebeu essa necessidade de quebrar barreiras até então existentes no que tangia à abordagem de seus personagens e decidiu por tomar uma atitude através da composição do filme "Os Vingadores".

Tendo utilizado dos filmes "Homem de Ferro" (2008), "O Incrível Hulk" (2009), "Homem de Ferro 2" (2010), "Thor" (2011) e "Capitão América - O Primeiro Vingador" (2011) como ferramentas para construir aos poucos a compreensão do universo destes personagens como um todo, conforme ocorre nos quadrinhos, a Marvel conseguiu atingir uma parcela muito grande de público novo, que ficou instigado não apenas a querer acompanhar o que viria a seguir nas salas de cinema, mas também a conhecer um pouco mais da história desses personagens que originariam a próxima grande obra da editora, que estreou em grande estilo ao redor do mundo inteiro, atraindo o público quase somado de todos os filmes que o antecederam.


Elenco do filme, reunido na última
edição da San Diego Comicon

A Marvel, sabiamente, procurou manter o mais fiel possível a transição dos filmes individuais para o filme que reuniria essas grandes figuras, com a manutenção de quase todo o elenco de atores e atrizes, com a exceção única do ator Edward Norton, que interpretou o papel de Bruce Banner no filme do Golias Esmeralda de 2009, que teve de ser substituído pelo ator Mark Ruffalo, por conta de divergências contratuais, o que não afetou o desenvolvimento do filme. A capacidade do elenco não é questionada em grande parte do filme, contando ainda com grandes surpresas, como a bela performance do ator em ascensão Jeremy Renner como o personagem Gavião Arqueiro. Samuel L. Jackson também consegue manter o nível que apresentou nos demais filmes anteriores e Robert Downey Jr consegue o resultado positivo e agradável de sempre.

Jeremy Renner foi uma das grandes surpresas do filme,
tendo grande destaque e chamando atenção para seu personagem

Cartaz do primeiro filme do "Homem-Aranha",
que abriu toda uma nova era da relação entre
quadrinhos e cinema, em 2002
O tom do filme é outro fator que vale a pena destacar, pois reintroduz nos filmes baseados em quadrinhos a leveza, e demonstra que nem sempre é preciso tornar obscuro o universo e a abordagem de personagens do universo heróico para conseguir uma grande satisfação do público. Agradando tanto os leitores clássicos das revistas quanto os recém-chegados admiradores dos filmes solos, o filme "Os Vingadores" tem um grande papel em uma questão específica, que nem sempre é destacada: ele, tal qual o primeiro filme do "Homem-Aranha" o fez em 2002, abriu a porta para toda uma nova gama de possíveis produções cinematográficas. Com sua proposta inovadora acerca da composição prévia da trama para uma conclusão épica e histórica numa película nova é algo de natureza extremamente visionária ainda, no que tange às adaptações de quadrinhos para os cinemas, apesar de essa lógica já ser uma das grandes tradições do mercado editorial das grandes criadoras de quadrinhos há décadas. O que este novo filme da Marvel trouxe para as telas da sétima arte é algo que já é recorrente no universo da arte sequencial, e que tem tudo para render resultados extremamente satisfatórios. Conforme destaquei, a Marvel já havia, em 2002, quebrado uma barreira na produção de adaptações entre as diferentes mídias com seu herói aracnídeo, ao tornar realmente popular e próximo do espectador o universo no qual as histórias dos super-heróis eram passadas. Diferente da lógica até então expressionista como a do diretor Tim Burton, com sua bizarra Gotham City sem ruas no chão, nos primeiros filmes do "Batman", de 1989 e início dos anos 1990, "Homem-Aranha" trouxe para dentro das casas dos espectadores a ação e emoção do universo dos heróis. Muitos podem alegar que "X-men", produzido pela Fox com os personagens da Marvel dois anos antes, em 2000, já havia feito isso, mas o resultado nem de longe foi o impacto que o aracnídeo proporcionou. Neste ano, que, em breve, teremos uma nova abordagem do grande amigão da vizinhança para assistir no cinema, curiosamente, é outro filme que também desempenha um grande papel transformador para a mídia na qual é novamente representado, exatamente uma década depois da primeira grande mudança nessa relação entre quadrinhos e cinema (a análise das relações entre a nona e a sétima artes na década passada foi realizada no blog antes, e pode ser conferida aqui).

Joss Whedon, roteirista e
diretor de "Os Vingadores"
Em nada a história fica devendo em termos de efeitos especiais, e a divisão entre o tempo de foco em cada um dos personagens, que possuem características suficientes para render filmes excelentes como fizeram até então por conta própria, quanto mais unidos, é simplesmente um dos grandes méritos de Whedon, que até então trabalhava com os roteiros da série de quadrinhos dos "Surpreendentes X-men", em parceria com o desenhista John Cassaday, fase esta publicada aqui no Brasil além das séries tradicionais em 3 volumes especiais pela editora Panini. Whedon, também renomado pela sua personagem "Buffy, a Caça Vampiros" e pelo seu curto seriado "Firefly", contou ainda com a assistência do diretor John Favreau, responsável pelos filmes do cabeça de lata, e conseguiu se consagrar mais uma vez com o público, que tem enfim a oportunidade de assistir uma grande obra produzida por aqueles que liam de verdade os quadrinhos para o público dos leitores de verdade dos quadrinhos, sem, contudo, eliminar as novas gerações de espectadores. 

O filme "Os Vingadores", portanto, desempenha um papel de enorme teor potencial e oferece aos especadores uma grande quantidade de momentos inesquecíveis e particularmente bem trabalhados nas bases dos quadrinhos de onde foram originados. Ainda que não seja uma produção perfeita, seu acabamento oferece aos admiradores dos quadrinhos uma nova dimensão no que concerne a se sentir parte do universo dos tradicionais heróis Marvel. A última edição publicada da revista "Mundo dos Super Heróis" se concentra justamente nessa produção,  e merece uma detalhada conferida. Outra produção que também já vinha sendo realizada pela Marvel, como forma de instigar os espectadores a irem assistir seu grande filme, e que vale a pena observar, é a produção da série de desenho animado "Vingadores - Os Maiores Heróis da Terra", de alto grau de qualidade e que ainda será tema de matéria futura muito em breve aqui no blog.

NOTA GERAL (PELO POTENCIAL DE MÍDIA): 5 ESTRELAS.
NOTA GERAL (PELO FILME EM SI): 3,5 ESTRELAS.

4 comentários:

Anônimo disse...

Realmente, Avengers é um grande filme (como não podia deixar ser, devido a quantia gasta na produção e ao elenco estelar) e abre portas para uma nova era das adaptações de hqs...

PS: concordo com as notas dadas...

Anônimo disse...

"Os Vingadores" foi simples, direto apesar de tudo. A logica da Marvel e de outros da DC está, como dito, nessa abordagem de agrado ao publico geral e ao fã moderado. Contudo, o filme não deixa de ser uma festa de sequencias de ação onde o Hulk leva muitos louros, juntamente com o anedótico Homem de Ferro.

Os filmes de Burton e Nolan procuram mais densidade, acompanhando essa nova reformulação da DC, com competência. Os da Marvel chegam a esse patamar quando se olha muito nos longas de Parker (até agora).

Unknown disse...

Apesar dos superpoderes e dos vários astros em cena, há heróis de mais e vilão de menos em "Os Vingadores".

Gabriel, parabéns pelo Blog!


Júnior Nascimento

João Ferreira disse...

Eu adorei o filme! Não sei se vc vê o rank do cinema que posto. rsrs Mas Vingadores esté em terceiro no meu rank. Perde para Homem-Aranha (em 2º lugar. Curto MUITO esse filme) e o Batman (que pra mim foi bem melhor como filme). Mas enfim... gosto é gosto. E Vingadores é um filmaço de fato!