sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

O Dia Em Que o Palhaço Chorou

Por Gabriel Guimarães

 "Os homens se fascinam por pessoas nos extremos da razão." Foi dessa forma que o quadrinista norte-americano Sherrill David Robinson comentou sobre o efeito que procurou dar a uma de suas maiores contribuições para a história dos quadrinhos, mais especificamente ao universo dos super-heróis,: a criação do Coringa, o maior inimigo de um dos principais personagens da editora DC, o Batman.


Biografia de Jerry Robinson,
publicada recentemente nos
Estados Unidos

Apesar de ser uma discussão um tanto polêmica e com extensa bibliografia ao longo dos anos, a autoria principal dada pela criação desse icônico personagem é desse grande autor, mais conhecido pela alcunha de Jerry Robinson. Apesar do criador original do detetive mascarado, Bob Kane, alegar que a criação do personagem deveria ser atribuida apenas a ele e ao roteirista do título do Batman à época, Bill Finger, é de conhecimento da maior parte do público que foi de Robinson que partiram alguns dos principais conceitos que deram origem ao personagem. Robinson viu nessa luta pelos seus direitos de criação uma forma de se tornar parte permanente da história desse meio de comunicação, e se tornou um símbolo da luta pelo reconhecimento devido dos autores em relação às grandes editoras. Robinson, conforme afirma o livro "Homens do Amanhã", do também roteirista e quadrinista Gerard Jones, foi um dos grandes defensores da dupla que criou o Superman, Jerry Siegel e Joe Shuster, quando estes foram desamparados pelos trâmites legais da editora DC, muitas décadas atrás. Essa causa defendida com tamanho empenho chegou a atribuir a Robinson o título de embaixador dos quadrinhos, que foi até título de uma biografia sua feita pelo jornalista N. C. Christopher Couch, há poucos meses atrás.

Conrad Veidt, uma das grandes
influências na criação do Coringa

Em pensar que tudo começou quando Robinson conheceu Kane em 1939, em uma pequena pousada nas montanhas Catskill, quando vendia sorvetes durante o verão enquanto trajava uma camisa com vários de seus desenhos expostos. Apesar das circuntâncias, o ilustre desenhista que motiva a matéria de hoje era estudante de jornalismo na faculdade de Columbia e um hábil artista, que logo teve oportunidade de arte-finalizar os quadrinhos da editora dos personagens Superman e Batman, ainda conhecida como National Comics. Com o tempo, ele foi ganhando maior destaque e a chance de desenhar o título do grande combatente do crime da cidade de Gotham surgiu nos primeiros anos da década de 1940. Foi neste período, então, que surgiram grandes elementos do universo do personagem do herói obscuro que são peças fundamentais para os quadrinhos dele até o dia de hoje, e cuja criação se deve muito a Robinson. São os casos do já mencionado Coringa, cuja aparência foi feita com referência no visual do ator Conrad Veidt no famoso filme "Tha Man Who Laughed", de 1928, e do parceiro-mirim do grande defensor de Gotham, o menino-prodígio Robin, cujo nome  é uma clara homenagem ao clássico personagem da cultura inglesa, Robin Hood, ao mesmo tempo em que tem sua aparência influenciada por um desenho feito para ilustrar as obras de Newell Convers Wyeth, autor da história "As Aventuras de Robinson Crusoé".

Robinson ainda chegou a trabalhar com grandes mestres dos quadrinhos, como os patriarcas da editora Marvel, Stan Lee e Jack Kirby, alguns anos após sair da DC, mas, apesar de ser muito reconhecido pelas suas contribuições enquanto criador, foi realmente no seu papel como defensor dos direitos autorais que esse grande homem se consolidou como peça fundamental nas páginas da história dos quadrinhos, e hoje, dia 9 de dezembro, ficamos sabendo, infelizmente, do seu falecimento aos 89 anos, ocorrido há cerca de dois dias, na cidade de Nova York.

Nascido em Trentom, Nova Jersey, Robinson chegou a ocupar a presidência da Sociedade Nacional de Cartunistas dos Estados Unidos entre os anos de 1967 e 1969, e em 1973, assumiu o mesmo cargo na Associação dos Editores Americanos de Cartuns, onde permaneceu por dois anos. Em 2004, passou a estar presente oficialmente no Hall da Fama dos quadrinhos, e nos últimos anos, vinha sendo cada vez mais requisitado nos grandes eventos de quadrinhos, em vista da proporção do recente sucesso de seu personagem de maior sucesso e principal figura no último filme do Batman produzido pela Warner, o Coringa. Indagado pelo portal de notícias Ig, na San Diego Comicon deste ano, Robinson destacou que não fazia ideia de que seu personagem duraria tanto tempo quanto alcançou até o momento. Recentemente, Robinson foi lembrado na edição de luxo sobre os 75 anos da editora DC, "75 Years of DC Comics - The Art of Modern Mythmaking", do editor Paul Levitz, e seu material foi destaque na exposição feita na Rio Comicon deste ano (que teve cobertura completa aqui no blog).

Neste dia, porém, o dono da risada mais apavorante dos quadrinhos e da índole mais questionável dentre os personagens ficcionais da arte sequencial acaba por se ver igual a todos os demais humanos, a chorar pela perda daquele que lhe deu a vida, talvez o dom mais precioso que se poderia oferecer. Gotham certamente vê uma chuva torrencial varrer todo o brilho que fomentou o crescimento de sua realidade, e ao olhar para o céu, não haverá um sinal luminoso forte a atravessar as nuvens em busca de seu herói nas sombras dos arranha-céus. Hoje, haverá lá apenas a saudade.

6 comentários:

Digo disse...

Ótimo texto! Eu ainda não conhecia a história, obrigado por compartilhar!

Nano disse...

Como fã incondicional do Coringa, me solidarizo com os pêsames a essa grande figura do mundo das hqs

wesley disse...

muito bom o texto

luiz_modesto disse...

Um dos maiores vilões dos quadrinhos, seria o Coringa um mero palhaço ou um psicopata anárquico? Tanto faz. Hoje sabemos qual é a verdadeira "Piada Mortal".

RIP, Jerry Robinson

Luciana Cristian disse...

Uma perda lastimável para os quadrinhos...
A parte de mim que gosta das HQs da DC deve-se à existência de personagens como o Coringa, um dos maiores "vilões" do mundo dos quadrinhos. Certamente, Robinson fará muita falta...

GG disse...

Mto obrigado pelos elogios, Digo e Wesley! Fico feliz que tenham gostado da matéria. Quanto ao tema, Nano, Luiz e Luciana, realmente foi uma grande perda para os quadrinhos pelo papel que este grande quadrinista desempenhou, talvez até mais importante nos bastidores do que de forma mais pública, e olha que suas constribuições públicas são incríveis, para se ter uma noção. Certamente, Robinson é mais um a entrar no mural dos grandes nomes do meio e deve ser sempre lembrado pela sua carreira e postura de destaque.