Por Gabriel Guimarães
Caros leitores, essa semana me peguei revendo os episódios da série do Batman feita pelo quadrinista/produtor Bruce Timm, e percebi algo. É impressionante o quanto a qualidade dos roteiros para histórias dos personagens têm caído com os anos. Pude assistir episódios muito bem escritos, que me lavavam para dentro da trama e me faziam mergulhar no universo do milionário Bruce Wayne, parte muito importante também na concepção do herói e que aparentemente tem sido cada vez menos abordado.
Episódios como "Os Esquecidos" e "Nunca É Tarde Demais" reacenderam em mim a chama dos bons scripts, e me fez perceber, observando os quadrinhos que li do Batman nos últimos tempos e de outros personagens também, o quanto que os roteiristas dos quadrinhos têm estado carentes de uma percepção maior de seus personagens e de seus universos, e não digo aqui universos Marvel e DC, nem nada.
A Marvel, caracterizada pelos seus personagens joviais, que atraem mais pelo elo emotivo que produzem com o público leitor, tem perdido cada vez mais essa sua característica, criando tramas em grande parte políticas. Não de todo mal, mas as histórias tem carecido de mais emoção, que nem eram vistas nos roteiros de Stan Lee para o Homem-Aranha ou para o Surfista Prateado, ou do Mark Buckingham também para o Homem-Aranha, e de cenários mais esperançosos, agora parece que tudo é drama, tristeza e morte.
A DC, de personagens mais velhos e tramas mais universais, ainda tem conseguido manter chama acesa para algumas histórias específicas, como as do Lanterna Verde e a Sociedade da Justiça, entretanto, tem passado por uma crise real, a das crises sequenciais de tentativas fúteis de criar crossovers entre os títulos no que só posso julgar como sendo estratégia vã de vender revistas sem conteúdo de história.
Acredito que chegamos a um impasse que merece determinada atenção: O que as editoras hoje procuram na publicação de seus materiais? Algo capaz de mudar a vida dos leitores, um material com o qual o leitor possa se sentir em casa, independente da distância física possível desta em questão; ou simplesmente algo capaz de vender umas meras revistas no momento, ignorando a formação de um público leitor contínuo, pensando assim apenas em vendas a curto prazo, que geram muitas críticas e descontentamentos, obrigando até a retratações e desculpas públicas depois?
As últimas palavras da obra máxima de Alan Moore nos alertavam já para isso em 1985, se vocês se lembram bem. "Eu deixo inteiramente em suas mãos" - Moore representa o futuro dos quadrinhos, do gênero super-heróico agora nas mão do leitor, que deve passar a exigir material de qualidade das editoras uma vez que entrou em contato com um de tal primazia de roteiro. Temos que fazer nossa parte, exigir, batalhar por qualidade e não apenas quantidade, como tem sido feito nesses últimos anos.
Se Deus quiser, em breve, poderemos estar discutindo aqui os quadrinhos brasileiros de fato, e então, desde já, lutemos para que este não caia nestes erros do mercado americano, do qual, lembrem, eu sou fã, mas reconheço suas falhas e erros.
Proponho aqui um movimento "Por um quadrinho brasileiro melhor!"
Que este possa ser apenas o primeiro passo rumo a um futuro quadrinístico decente, e mundial e intelectualmente capaz de ser reconhecido.