sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Nova Fragata pelos Quadrinhos Literários

Por Gabriel Guimarães



Uma das páginas do primeiro volume
de "História do Brasil em Quadrinhos"

Colaborador da revista "Mundo dos Super-Heróis" desde o mês de setembro de 2007, o jornalista Jota Silvestre tem se tornado presente em vários eventos de quadrinhos na cidade de São Paulo e em debates nas redes sociais sobre a nona arte e seus mais renomados personagens e autores. Com uma veia histórica acentuada, Jota logo começou a colaborar com trabalhos de propriedade educativa na arte sequencial, auxiliando a traduzir o argumento do escritor Edson Rossatto para a primeira história em quadrinhos produzida e publicada pela editora Europa, "História do Brasil em Quadrinhos", de pouco mais de 50 páginas e cujo público-alvo consistia em crianças com nível de escolaridade do Ensino Fundamental, majoritariamente.
 
 
Aydano Roriz, autor do romance
"O Fundador", que originou a HQ
publicada pela editora Europa
Com o sucesso alcançado por essa primeira publicação, o editor responsável, Manoel de Souza, levou adiante o planejamento de outros dois materiais de semelhantes características, um sendo uma continuação direta do material de Rossatto, e outra, uma adaptação mais madura sobre o romance histórico "O Fundador", escrito pelo historiador Aydano Roriz acerca da trajetória de vida do navegador português Tomé de Souza em seu tempo nas terras tupiniquins e seu papel na fundação da Bahia. Interessado pelo projeto e admirado pela fluidez do texto de Roriz, Jota assumiu as rédeas do trabalho, adaptando o conteúdo literário original em um roteiro coeso de quadrinhos de quase 75 páginas.
 
Ao longo de mais de três anos, ele e o desenhista JB Fernandes tiveram uma considerável carga de trabalho a fim de encontrar referências precisas sobre o período histórico em que a história se passa e o contexto no qual os personagens estavam inseridos, porém, o resultado valeu a pena. Com uma arte detalhada e uma preferência pelos diálogos enquanto ferramenta narrativa, a história captura o leitor, guiando-o confortavelmente pelos eventos históricos apresentados, servindo, dessa forma, como uma bela ferramenta de ensino para os interessados no tema.

O acabamento editorial aplicado pela editora Europa agregou, ainda, muito valor ao material, dispondo-o no mercado com acabamento de qualidade em papel couché a um preço acessível. A colorização da história, realizada pela dupla Marcio Menyz e Mauricio Leone, ambos professores representados pelo Instituto dos Quadrinhos, é igualmente elemento de destaque na obra, dando maior profundidade para os desenhos de Fernandes e implementando na história os tons e cores que a rica fauna e flora brasileiras apresentavam aos navegantes europeus.
 
Os prazos de produção da obra, porém, levaram a certas decisões editoriais que tiveram altos e baixos. Sem ter como dispor do tempo necessário para a arte-final das páginas a nanquim, o projeto foi inteiramente colorido sobre as ilustrações feitas a lápis por Fernandes e escaneadas para o computador. Isso acrescentou um tom marcante em determinadas cenas da história, tendo os traços indígenas dos personagens das tribos nativas do Brasil ganho uma naturalidade louvável, como a cena em que a filha de Diogo Álvares, Uyara, é apresentada ao seu futuro marido, entretanto, determinadas expressões faciais e marcas de sombra delineadas pelo traço acabaram perdendo certa qualidade que poderiam ter conservado em caso de um acabamento mais cuidadoso, ao exemplo da cena da união de Tomé de Souza com Jurecê e Yuruti, na casa de seu outrora criado, Garcia.
 
 
A história em quadrinhos, afinal, é de grande valia como ferramenta didática e até como instrumento de entretenimento. Obviamente, o período histórico em que tudo transcorre é rico demais em termos de detalhe para conseguir ser apresentado em suas minúcias para o leitor, porém, a adaptação de "O Fundador" para a nona arte é um material extremamente rico, tanto em texto quanto em arte, e merece uma chance para surpreender e cativar o público. A editora Europa certamente acertou ao desbravar esse nicho de mercado para as próximas gerações através das hábeis mãos de todos estes profissionais envolvidos no processo.

NOTA FINAL: 4,5 ESTRELAS.

2 comentários:

João Ferreira disse...

Mais uma excelente indicação, Gabriel! Vou procurar tb! Abraços!

Jota Silvestre disse...

Agradeço as palavras e a recomendação, Gabriel. E continuo à disposição.

Forte abraço.