Por Gabriel Guimarães
Desde o dia 10 de julho, tem sido realizada a exposição "A Sombra do Morcego" no Centro Cultural Oduvaldo Vianna Filho, mais conhecido como "Castelinho", em frente à praia do bairro do Flamengo, no Rio de Janeiro. Aludindo às várias versões cinematográficas de um dos principais personagens da editora americana DC, o Batman, e culminando no terceiro e último filme da trilogia atual do personagem, sob direção do promissor e já admirado diretor Christopher Nolan, com o ator Christian Bale no papel do milionário playboy que procura justificar a morte de seus pais combatendo o crime da gótica cidade de Gotham City através da figura de vigilante mascarado, que estreia nos cinemas brasileiros nesta sexta-feira, dia 27 de julho, o evento tem um acervo impressionante que vale muito a pena ser conferido.
Paulo Chacon à direita e Diogo Oliveira à esquerda de réplica do traje atual do Batman nos cinemas |
Organizado pelo trio que compõe o grupo "Batmania Rio", Luiz Augusto Ribeiro, Diogo Oliveira e Paulo Chacon, a exposição é apresentada de forma bem estruturada para as disposições do local, a partir de apoio da Prefeitura da cidade do Rio de Janeiro. Em três andares, é possível caminhar através de diferentes épocas em que o maior detetive dos quadrinhos foi levado para as grandes telas e até participar de atividades interativas com a arte sequencial, através de aulas de desenho ministradas durante a parte da manhã ao longo da semana pelo desenhista Victor Julião, como forma de parceria do grupo com o pessoal do curso Impacto Quadrinhos. Enquanto esta oportunidade ocorre na principal sala do primeiro andar, nos demais níveis do prédio, o visitante é convidado a explorar o universo do herói e conhecer mais dos bastidores de suas aventuras cinematográficas.
Contando com réplicas customizadas pelos próprios organizadores de determinados ambientes dos filmes, além de memorabílias, recortes de jornal e outras mídias que comentam sobre as produções em específico, a visita oferece uma grande experiência para pessoas de todas as idades, ainda que o público seja em sua maioria jovens e adultos. Apresentando peças raras e muito do material de promoção das peças em sétima arte do personagem obscuro da DC, é fácil perder a noção do tempo dentro das salas cheias de material.
Dividido pelos diretores responsáveis por cada momento abordado, indo desde o também obscuro Tim Burton ao já mencionado diretor atual, Christopher Nolan, passando pelo eclético Joel Schumacher, a organização dos materiais é digno de nota, e a diversidade de toda a apresentação é extremamente interessante. A todos os entusiastas de Batman e de toda boa forma de quadrinhos, fica a recomendação para conferir a exposição, que funciona das 10 horas da manhã até as 18 horas durante a semana, realizando, ainda, nos finais de semana, exibições dos filmes retratados na exposição, com destaque para "Batman - O Retorno", que completa 20 anos este ano, além de apresentar cenas extras e comentar sobre o contexto em que o filme foi produzido e absorvido pela crítica e público.
Enquanto a procura do público pelo evento é consideravelmente positiva nos dias úteis, o movimento tem dobrado e até triplicado nos sábados e domingos, além de atrair muitas famílias, que também se veem satisfeitas e entretidas por todo o material apresentado. A entrada, vale lembrar, é franca. Quanto ao transporte, o metrô é um dos meios de mais fácil de acesso ao local, que conta ainda com vários ônibus circulando nas duas ruas que margeiam o prédio onde ocorre a exposição.
NOTA ESPECIAL
Como não poderia deixar de ser mencionado, o blog "Quadrinhos Pra Quem Gosta" deseja declarar sua percepção acerca dos recentes acontecimentos nas sessões do mais novo filme do homem-morcego nos Estados Unidos, em especial o caso ocorrido na cidade de Aurora, suburbio de Denver, no estado do Colorado, na madrugada entre os dias 19 e 20 de julho, que deixou 12 mortos, além de dezenas de feridos. Gostaríamos de deixar nossas condolências a todos os afetados por essa tragédia, e declaramos que acompanharemos com atenção o julgamento do responsável por tal ato de tremenda brutalidade, o estudante de medicina americano Jack Eagan Holmes, que aparenta sofrer de alto grau de desequilíbrio mental a ponto de afirmar, após sua captura, que ele era, na realidade, o grande vilão do protagonista do filme, o Coringa.
Dois anos atrás, enquanto interpretava o papel justamente deste personagem, o ator Heath Leadger acabou se suicidando acidentalmente por excesso no uso de medicação para dormir, o que levanta um questionamento válido, aos nossos olhos, sobre o nível de identificação com o personagem a que o público tem se prontificado. Logicamente que como se trata de um personagem ficcional, o grande rival do Batman carrega em si uma carga dramática tão intensa a ponto de lhe serem confusas as diferenças entre o bizarro e o hilário, mas é preciso que o público perceba isso e compreenda a necessidade de estabelecer limites no que tange à influência destas figuras em suas vidas pessoais.
Os quadrinhos são fonte de grande potencial expressivo e comunicativo, porém, tal qual qualquer outro meio de comunicação, acaba se vendo como uma porta para a influência negativa também nos seus leitores. Nada confirma, entretanto, que Holmes estivesse dizendo algo em que acreditava, mas o nível de perturbação a que sua mente parece estar aferida é algo que merece atenção das autoridades e, a fim de prevenir novos incidentes deste porte, é necessário avaliar questões mais profundas, como o tratamento dos mentalmente deficientes e a pronta avaliação destes como tal, além de uma política de controle maior sobre a venda de armas, seja nos Estados Unidos ou em qualquer outro país do mundo. Afinal, nenhuma ficção vale o sacrifício a que muitas das famílias das pessoas mortas neste incidente acabaram tendo que fazer. Para estas, fica nossa mais sincera lágrima de consolo e nosso desejo de que Deus os ajude a superarem este momento de suas vidas. Quanto ao público de quadrinhos em geral, além dos próprios envolvidos na criação das histórias publicadas, fica o alerta para a dimensão de identificação e influência que suas obras são capazes de promover. O portal online do jornal "O Globo" destacou dois incidentes envolvendo sessões do filme, que podem ser conferidos aqui e aqui. A produtora do filme já anunciou que doará parte do lucro com o filme para as famílias das vítimas, e o ator que interpreta Bruce Wayne, grande personagem do filme, Christian Bale, visitou essa semana todos os afetados no hospital da cidade afetada. Estes dois casos podem ser conferidos, respectivamente, aqui e aqui. A editora, em função do caso, também pediu aos revendedores das comic shops americanas que adiem a venda das edições deste mês relacionadas ao Batman, como pode ser conferido aqui. Honestamente, é lamentável ver algo de tão grande potencial gerar resultado tão aterrador. Procuremos os meios necessários para que isso não se repita e os quadrinhos possam gerar os bons frutos que merecem e podem facilmente fazer.