Por Gabriel Guimarães
Stan Lee e seu personagem |
Ontem, dia 19 de fevereiro, o personagem que por muito tempo foi o grande nome da editora Marvel, Homem-Aranha, completou 50 anos exatos de sua primeira publicação. Lançado originalmente na última edição do título "Amazing Fantasy", em seu décimo quinto mês de publicação, como forma de meramente ocupar as páginas da edição, que carecia de material inédito e não possuía qualquer pretensão de estender seu conteúdo, uma vez que o título havia sido cancelado previamente. Para que a edição não fosse um fracasso total de vendas, a editora optou por chamar seu grande nome da época (que viria a se tornar, inclusive, o maior nome da história da editora), Stan Lee, para escrever alguma história com temática heróica que pudesse ter algum apelo ao público mais jovem, e foi assim que surgiu, da parceria de Lee com o desenhista Steve Ditko, o personagem Marvel que mais atraiu multidões e se tornou símbolo de uma nova fase para a indústria dos quadrinhos de super heróis, o "Amigão da Vizinhança, o Espetacular Homem-Aranha".
Adotando uma postura diferente de todas as demais feitas até então pelas editoras norte-americanas de quadrinhos de heróis, Stan Lee propôs um personagem que, apesar de usar um traje que lhe cobre a aparência real dos pés à cabeça e que sai por aí todas as noites para enfrentar os criminosos de Nova York, na verdade, é apenas um jovem, inseguro e em fase de crescimento, como tantos dos próprios leitores das revistas em quadrinhos. Essa identificação pessoal, reforçada por esse fato de a roupa do personagem não permitir sequer uma mínima indicação de quem o veste, que permitia ao público se visualizar no papel do protagonista, independente de etnia, credo ou qualquer outra questão física, levou o herói aracnídeo a um patamar de popularidade jamais imaginado.
As histórias do Homem-Aranha, centradas até mais nos próprios conflitos pessoais do jovem Peter Parker do que nas lutas diárias com meliantes e vilões extravagantes, mudaram o panorama dos quadrinhos da época, de forma que jamais poderia ter sido prevista. Uma vez que o resultado das vendas das revistas levava meses naquela época para chegar às mãos dos editores, era muito difícil imaginar que a última edição daquela revista sobre histórias fantasiosas, produzida de forma tão despretensiosa, acabaria por trazer em si uma fórmula de tremendo sucesso que ninguém havia encontrado ainda: a importância do lado humano do personagem heróico.
Ao longo de décadas, o personagem evoluiu, cresceu, aprendeu com muitos erros, e sofreu muitas perdas, ficando cada vez mais forte na memória de seus admiradores, e atingindo um grau de intimidade com o leitor que pouco foi visto no mercado de quadrinhos. O grande papel do Homem-Aranha foi mostrar que heróis de verdade têm limitações, e não basta ter super poderes para resolver todos os problemas do mundo, ou mesmo seus próprios problemas. A identidade por trás da máscara valia mais do que as teias por cima destas. Isso influenciou diversos títulos, e alavancou uma nova onda de procura pelas revistas em quadrinhos formando uma nova geração de leitores assíduos verdadeiramente apaixonados pelo material que estavam lendo. As histórias em quadrinhos agora eram objetos sentimentais para seus leitores, e o que ocorria no universo denso de personagens fictícios da Marvel e da DC passou a influenciar na opinião e na formação daqueles que liam esse material todo.
A popularidade do personagem é tanta que ele possui um balão de ar quente personalizado na parada do dia de Ação de Graças nos Estados Unidos |
Apesar de todo o sucesso alcançado pelo personagem, que no começo dos anos 2000 ganhou não só uma nova versão nos quadrinhos, com a concepção do universo Ultimate, mas também uma forma física tangível, na interpretação do ator Tobey Macguire, na trilogia de filmes dirigidos por Sam Raimi, e produzidos pelo apaixonado fã do Cabeça de Teia, o americano Avi Arad. O personagem ganhava novo fôlego após um período conturbado cheio de questionamentos por parte dos fãs e de histórias de qualidade curiosa que afastou muitos dos antigos admiradores das histórias do personagem. Entretanto, isso não durou muito, e após mais uma fase em baixa nos quadrinhos e uma recepção pouco amigável para o último filme da trilogia de Raimi, o personagem acabou começando a perder espaço. Através de uma polêmica decisão editorial, o editor-chefe Joe Quesada optou por fazer uma história que trouxesse ao personagem aracnídeo de volta seu brilho, porém, para isso, precisou-se apagar os últimos quase 30 anos de histórias vividas por Peter Parker, que viveu mudanças drásticas em sua cronologia pessoal e sentimental, a ponto de gerar uma confusão enorme na mente dos leitores recorrentes. Muitos nesse momento abandonaram o personagem, livraram-se das últimas edições do herói, quando foi escrito pelo roteirista J. Michael Straczinsky, e passaram a prestar mais atenção em outros personagens dos quadrinhos, ou então, mesmo, abandonaram a leitura dos quadrinhos como um todo. O Homem-Aranha vivia um momento de extrema cautela e de dúvidas sobre sua viabilidade futura (conforme foi destacado aqui no blog antes).
Para acrescentar mais lenha na fogueira em que o personagem começava a ser posto, a Marvel decidiu realizar mais uma ação de alto risco com o personagem, mas desta vez, quem sofreu o baque foi a versão Ultimate do personagem, que apesar de oscilar em termos de qualidade, mantinha ainda um certo tom de originalidade e possibilidade de crescimento da identificação do público.
ALERTA: SPOILER!
Foi decidido que, para haver maior reconhecimento dos leitores com o personagem, Peter Parker deveria dar a vez para um novo alter-ego por baixo da máscara. A história em que o ainda jovem Parker morre ainda não chegou ao Brasil, mas a repercussão dessa decisão, sim. Conforme já foi comentado em matéria aqui no blog antes, o latino-americano afro-descendente Miles Morales passa a ser o novo Homem-Aranha do universo Ultimate, e ainda é cedo demais para dizer se essa estratégia dará certo a longo prazo ou não, mas a decisão de realizar essa grande mudança é de uma repercussão impressionante na história do personagem aracnídeo.
Novo Aranha Ultimate |
Hoje, nos encontramos à beira da chegada do novo filme do personagem nos cinemas, agora reformulado sob a batuta do diretor Marc Webb e com elenco de atores completamente reconfigurado, e cujo último trailer teve sua premiere mundial conferido aqui no blog. A expectativa para com a nova obra do personagem nas grandes telas da sétima arte ainda divide a comunidade de leitores, e acreditamos que essa divisão persistirá mesmo após o filme estrear. Tal qual a primeira versão do personagem no cinema, que surpreendeu a todos e lançou de vez a nova era dos quadrinhos nas telas, essa nova versão representará um novo momento para o personagem, porém, apenas o tempo dirá que sorte de consequências isso trará ao universo pessoal desse grande protagonista. Para que o personagem alcance novamente suas glórias passadas, fica aqui o desejo de que este seja um novo começo em seu universo para que tudo aquilo que ele carregou em si um dia e pelo qual foi tanto reconhecimento possa vir novamente à tona, e mostrar a uma nova leva de jovens leitores e relembrar os mais antigos admiradores, de que, além de grandes poderes trazerem grandes responsabilidades, grandes projetos de vida de um personagem também o trazem.
Cena do novo filme do herói aracnídeo |
O portal eletrônico do jornal "Folha" também trouxe ontem uma boa matéria sobre esse marco do personagem, e pode ser conferido aqui.
2 comentários:
Legal o artigo. Eu sempre fui fã do aracnídeo. Acredito que foi meu primeiro heroi favorito na infância. hehe Adoro o personagem! Parei de ler as HQ's por um bom tempo e voltei recentemente. Estou atualmente lendo o ano de 2006, no meio dessa fase do Straczynski mencionada aí. Algumas coisas foram mal escritas, realmente. Algumas são desanimadoras mesmo. Mas isso não chegou a me estragar o prazer da leitura não. Ainda sou fãzaço do heroi!
vida longa ao CABEÇA DE TEIA o maior super-heroi de todos os tempos
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