Por Gabriel Guimarães
Imagem do primeiro jogo que uniu os quadrinhos e os games |
A relação entre os jogos eletrônicos e as histórias em quadrinhos já vem de muito tempo atrás, como foi destacado superficialmente na última matéria aqui do blog, entretanto, onde ela teve início, propriamente dito? Em 1979, após o sucesso mundial de bilheteria do seu primeiro longa metragem nos cinemas, Superman mostrou as caras em mais uma plataforma, debutando em "Superman", um game extremamente simples, produzido para o extinto Atari 2600. O jofo foi feito pelo americano John Dunn, a partir dos recursos de design do programador Warren Robinett, responsável pelo primeiro jogo de aventura gráfica, "Aventura", e um dos fundadores da empresa Learning Company. Apesar de limitado, a trama do jogo atraiu a atenção de muitos dos fãs do personagem, e acabou conquistando bastante popularidade. Em 1982, a grande rival do mercado de quadrinhos de super-heróis da DC, a Marvel, decidiu entrar no ramo dos games, e lançou o jogo "Homem-Aranha", que possuía as mesmas limitações de ação para o jogador que o jogo do Homem de Aço.
"Comix Zone", jogo para Mega Drive qu mexeu muito com a relação dos personagens com os quadrinhos |
Foi somente na década de 1990, porém, que ocorreu um crescimento muito grande na qualidade e na oferta de games relacionados com a arte sequencial, para os consoles da época, como Nintendo 64, Playstation (a primeira versão, hoje conhecida como Playstation One) e Mega Drive, este último onde o jogo "Comix Zone", de 1995, se destacou pela inovação oferecida na relação entre games e quadrinhos. Narrando as aventuras de Sketch Turner, um desenhista que procura criar uma história em quadrinhos de sucesso chamada Comix Zone, mas que acaba indo parar dentro das próprio universo que criou após um relâmpago atingir um dos quadrinhos que desenhara, dando vida ao principal vilão da história, Mortus, o game oferecia uma abordagem completamente nova a essa relação, com seu protagonista viajando de quadrinho em quadrinho, muitas vezes destruindo na base de golpes a sarjeta que separa os quadros. Apesar de não ser um jogo tão renomado, o jogo ganhou em agosto desse ano uma versão disponível para ser baixada na rede PSN da Playstation, como parte de um pacote de jogos clássicos da SEGA.
Uma das primeiras cenas do game "Pokémon Yellow" |
Conforme o tempo foi passando, novas adaptações foram feitas dos quadrinhos para os games, envolvendo desde os super-heróis norte-americanos a personagens de fama internacional dos mangás, como Naruto, Dragon Ball e, logicamente, Pokémon. Este último, inclusive, é um caso particular, pois sua origem se deu nos games para então ser lançado em outras mídias, como quadrinhos e o aclamado animê. Com várias versões lançadas ao redor do mundo inteiro, torneios especializados e uma gama impressionante de usuários, "Pokémon" se tornou um sinônimo de sucesso, além de uma versão simples, porém, extremamente preciosa de liberdade ao jogador, que tinha nas mãos o poder de fazer grande parte das decisões em um mundo virtual que interagia com ele continuamente.
Revistas em quadrinhos lançadas com os personagens da série "Mortal Kombat" |
Essa via da relação, de dentro dos consoles para as páginas de quadrinhos não é de todo incomum, entretanto. Games de sucesso como Mortal Kombat, Street Fighter e até o pequeno ouriço azul Sonic, já foram protagonistas desse trajeto. Lançado no Brasil pela editora Escala na década de 1990, os quadrinhos de Mortal Kombat procuraram se assemelhar ao formato de sucesso que havia no país à época, o formatinho 13 x 21 cm. Ao longo dos anos que se seguiram, as continuações da série ganharam também suas versões na nona arte, e em 2008, ocorreu a grande interação do game da Midway com os quadrinhos, ao ser lançado o jogo "Mortal Kombat vs. DC", onde os personagens da editora de super-heróis enfrentavam os seres mágicos e guerreiros de Outworld num torneio de proporções cósmicas.
"Mortal Kombat Vs. DC Universe" levou a relação entre os games e os quadrinhos a um outro nível de interação |
Essa união de meios rendeu, inclusive, novas experiências de narrativa, como, por exemplo, a apresentada pelo site americano Gamics, que constrói histórias em quadrinhos com imagens de games de sucesso, realizando uma expansão ao universo retratado nos consoles. Esse processo também já é facilmente encontrado em comunidades de fãs de games, e é bastante popular entre os mais aficionados.
Cena do terceiro volume de "Scott Pilgrim Contra o Mundo", publicado pela Companhia das Letras, que retrata bem a presença de elementos dos games na história em quadrinhos |
Além do campo de plataforma, os games estão cada vez mais presentes também dentro das histórias em quadrinhos. Uma vez que constituem a empresa de maior crescimento no mundo nos últimos anos, tendo já ultrapassado as cifras referentes à indústria da música, inclusive, não é de se espantar a presença dos jogos na formação da personalidade de protagonistas de HQs. O popular "Scott Pilgrim Contra o Mundo" é, talvez, o exemplo mais claro disso, com a interação entre elementos comuns dos games dentro das páginas de quadrinhos. Numa sequência de cenas de ação com recursos carcaterísticos dos games mais conhecidos, como ícones de vida extra, créditos por derrotar inimigos e armas especiais adquiridas como bônus, a história cativou um público bastante diversificado e acabou se tornando uma referência no cenário indie. Essa presença dos games nos quadrinhos, no entanto, vem de bem antes da obra do canadense Brian Lee O'Malley. A Marvel, ainda no ano de 1977, criou um personagem cuja essência estava na febre dos games que se proliferava pelos Estados Unidos: o vilão Arcade, que estreou nas páginas da revista "Super Spider-Man & Captain Britain # 248". Utilizando de mecanismos similares aos dos jogos eletrônicos de sucesso, o personagem, que nunca chegou a engrenar tanto, enfrentou grandes heróis do universo Marvel e chegou até a inspirar uma das fases no primeiro game da saga "Marvel Vs. Capcom".
Fase inspirada no personagem Arcade no jogo "Marvel vs. Capcom" |
Enfim, essa relação ainda promete se extender muito no futuro, e o game "DC Universe Online" é uma grande prova que os desenvolvedores estão tentando cada vez mais quebrar a barreira da interação para permitir ao leitor uma experiência única de imersão no universo dos personagens dos quadrinhos. Usando o sistema consagrado dos MMORPGs de sucesso, o game tem atraído cada vez mais usuários a se tornarem heróis e vilões neste novo universo de missões e aventuras compartilhados, cuja aventura principal se desenrola da necessidade do planera em enfrentar o vilão Brainiac, que pretende atacar a Terra após a morte de seus principais heróis.
Concluindo, há muito que se poderia ponderar e levantar sobre essa relação, e fica aqui o incentivo a todos que tenham interesse em persistir nessa discussão. Em 9 de abril desse ano, foi realizado em Fortaleza, o 1º QG do HQ, evento centrado justamente nesse debate, onde o histórico deste foi destacado e as possíveis vias de expansão do mesmo.
Com o passar dos anos, essa relação vem rendendo muitos frutos, e isso apenas tende a continuar, seja em 2D como os clássicos jogos para computador da turma da Mônica ou ainda na resposta da Marvel ao recente sucesso da grande rival, que ainda está em desenvolvimento. Resta-nos saborear dessa união, e torcer para que ela tenha sempre muitas vidas extras para continuar a nos emocionar e inspirar.
4 comentários:
Comix Zone é um verdadeiro clássico! Recordo-me de jogá-lo quando bem novinho ao lado de meu pai. O nível de dificuldade era insano! Um outro game baseado em quadrinhos que merece menção é CADDILACS AND DINOSAURS, presença certa em fliperamas "sujismundos" da década de 90!
Boa matéria, Gabriel!
Só uma pergunta besta: de onde você tirou essa nomenclatura pro espaço entre os quadros? É que eu sempre conheci como calha, daí fiquei curioso. abs
Fábio, sarjeta foi uma nomenclatura para essa área entre os quadrinhos feita pelo quadrinista e estudioso Scott McCloud no seu livro "Desvendando os Quadrinhos", de 1994. Toda curiosidade aqui é muito bem vinda!
Já joguei muito "Superman" e "Spiderman" de Atari, sabia? rsrs Adorava! hehehe Era a única coisa que tínhamos naquela época (sim, sou velho. rsrs) Hoje já joguei alguns desses de combate que vc citou. Fico louco de vontade de jogar o "Batman: Asilo Arkhan" e o "DC Universe" que vc citou. Abraços!
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