domingo, 28 de julho de 2013

Laços Encontrados

Por Gabriel Guimarães


No final de 2011, os estúdios MSP anunciaram uma coleção especial de quatro títulos isolados, que apresentariam os personagens pertencentes ao estúdio através dos olhos e estilos de artistas em ascensão no cenário editorial brasileiro selecionados a dedo. Tratava-se do selo editorial Graphic MSP.
 
Contando com a alta expectativa que se aglomerava durante a Feira Internacional de Quadrinhos de Belo Horizonte, onde o anúncio aconteceu (o qual foi coberto aqui no blog), o editor Sidney Gusman deu um pequeno vislumbre do que estava por vir nos anos seguintes, contando apenas com uma imagem ilustrativa definindo de que se trataria cada obra do conjunto. Utilizando de estratégia similar àquela implementada na divulgação da trilogia "MSP50" (que foi observada de perto aqui no blog), Gusman manteve o público atento conforme ia liberando teasers das páginas de quadrinhos através das redes sociais nos meses seguintes.
 
Ano passado, em 2012, foi lançada a primeira edição desse projeto, "Astronauta: Magnetar", pelo traço do desenhista paulista Danilo Beyruth. A obra, que inaugurou com brilhantismo a série, narrou um episódio protagonizado pelo personagem Astronauta, originalmente criado por Maurício de Sousa em 1963, dando-lhe, porém, um maior tom de ficção científica e de suspense do que lhe era habitual. Mantendo os elementos característicos do material original, Beyruth apresentou uma história intrigante e envolvente, aproveitando até, em determinado momento, para referenciar o seu próprio personagem, o Necronauta, na trama do hábil explorador do espaço sideral. Tendo conquistado tanto a crítica quanto os leitores, a história não apenas se tornou um dos quadrinhos mais vendidos do ano e um dos destaques editoriais daquele ano.
 
Em maio deste ano, foi lançado o segundo título das Graphic MSP, com um elemento a mais válido de gerar expectativa: o aniversário de 50 anos de uma das personagens mais importantes da obra e a principal protagonista do universo de personagens criados por Maurício de Sousa em toda a sua carreira, a Mônica. Com teor mais lúdico, "Laços", produzido pelos irmãos mineiros Vitor e Luciana Caffagi, ganhou as prateleiras e os corações daqueles que vieram a conhece-lo. E é sobre essa obra que vamos discorrer, de fato, a seguir.
 
Ambientada no pacato bairro do Limoeiro, cenário tradicional das histórias da turma da Mônica, a obra dos irmãos Caffagi procura trabalhar questões inerentes ao período em que os personagens principais se encontram, ou seja, a infância, e as diferentes percepções de mundo e de certos conceitos como amizade e lealdade existentes nesta etapa de vida.

Logo de início, há uma construção narrativa muito interessante a se ressaltar: Apesar de serem elemento comum na formação do leitor brasileiro há várias décadas, há uma apresentação sutil, todavia, clara, dos quatro personagens principais da trama - Mônica, Cebolinha, Magali e Cascão -, além de referenciar outros personagens secundários que tiveram papel interessante no passado. Logo em seguida, porém, a história adentra em sua verdadeira trama: o desaparecimento do cachorro Floquinho, pertencente ao personagem Cebolinha. Conhecido por seus planos mirabolantes para ser o menino mais respeitado da região, ele vê sua confiança abalada pela perda de seu fiel bicho de estimação, cujo primeiro contato foi belamente retratado pelo traço simplesmente poético de Luciana Caffagi (cujo trabalho junto ao grupo Lady's Comics já foi comentado aqui no blog).

Cena em que Cebolinha vê Floquinho pela primeira vez,
no traço da desenhista Luciana Caffagi 
Convencido pelos demais amigos a não desistir tão fácil da esperança de reencontrar Floquinho, Cebolinha orquestra uma estratégia para guia-los, a qual eles seguem de forma determinada. Com o passar do tempo, porém, eles se deparam com um grupo de garotos de outra rua, que ridiculariza o ato do grupo. Vale destacar que esses personagens são referências óbvias a outra turma de personagens de quadrinhos reconhecidos mundialmente, a turma da Luluzinha e do Bolinha (que já foram observados anteriormente aqui no blog). Respondendo com autoridade, a turma da Mônica consegue com os garotos a informação para o próximo passo na jornada atrás do Floquinho e decide visitar o Parque das Andorinhas, onde fora visto mais cedo. O grupo se prepara, pega os recursos de que podem vir a precisar e partem para a ação.

Deste ponto em diante, comentar detalhadamente seria privar os leitores de deliciar essa obra com a maestria com que ela foi produzida, entretanto, alguns comentários ainda são pertinentes. O traço cuidadoso de Vitor Caffagi se destaca em diversos momentos ao longo da história, ressaltando seu dom para a narrativa nostálgica com que produziu muitas de suas histórias no passado, como "Puny Parker" e "Valente" (o artista já foi comentado aqui no blog). O volume de detalhes preciosos também é algo digno de nota, com o fato de que, nas histórias em quadrinhos tradicionais dos personagens, o único deles a usar sapatos é o Cebolinha, e a forma como isso é sutilmente abordado no decorrer da trama; e o clima de filme clássico dos anos 1980, como "Goonies" e "Conta Comigo", sentido na obra como um todo também é sublime, sensibilizando ao mesmo tempo em que entretêm.

Cena emblemática dos personagens como guerreirinhos
do bairro do Limoeiro
 
Procurando, dessa forma, as raízes dos elos que uniram os quatro personagens principais, é apresentado ao leitor uma bela história de amizade e confiança que certamente gerará uma leitura agradável e de fluidez pautada pelo fluxo de emoções experimentadas pelos personagens. Diferente dos garotos perdidos companheiros de Peter Pan, os personagens de Maurício encontraram, nas mãos dos irmãos Caffagi, uma boa morada e um laço de apoio fraternal difícil de encontrar na indústria de quadrinhos, à exceção de poucos casos como os dos gêmeos paulistanos Fábio Moon e Gabriel Bá, e dos irmãos norte-americanos Adam e Andrew Kubert.

A leitura, afinal, é altamente recomendada, e o título tende a ser um dos mais vendidos do ano, uma vez que, ainda em seu segundo mês disponível nas bancas e livrarias, já se encontra na segunda tiragem.

NOTA GERAL: 5 ESTRELAS.

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Nova Cruzada Impressa

Por Gabriel Guimarães

 
Iniciado em 2003, o grupo Kaplan surgiu do desejo dos quadrinistas mineiros Alex D'Ates e Gio Vieira Rocha de terem seu trabalho reconhecido e expandido país e mundo afora. Com o passar dos anos, o projeto avançou, tomou rumos diversificados e apresentou uma proposta inovadora para o quadrinho nacional de então, sendo responsável pelo lançamento da primeira história produzida para iPhone no Brasil, em 2009.
 
Em abril de 2012, o grupo, que vinha produzindo a série de webcomics "Mercenary Crusade", alcançou um novo patamar, expandindo o universo de seus personagens para um jogo de cards colecionáveis produzidos mediante financiamento colaborativo no site Catarse (o qual fizemos a cobertura aqui no blog). Observando a repercussão positiva de sua primeira empreitada neste esquema de participação dos leitores nas etapas de estruturação dos seus materiais, o grupo Kaplan decidiu agora dar o passo seguinte, trazendo a proposta da primeira revista impressa protagonizada pelos personagens Málef e Ryaad, que ocupam o papel de destaque nas histórias em quadrinhos feitas por ele até então.
 
Exemplo de card produzido no último projeto
do grupo Kaplan
Alguns dos cenários em que se
passam as aventuras de Málef e Ryaad
Com o objetivo de conquistar novos leitores e ainda agregar conteúdo ao seu universo de histórias preexistente, a revista "Contos de Mercenary Crusade" contará com uma aventura inédita em 50 páginas coloridas e acabamento no formato clássico das edições da editora Abril, em A5. Observando o sucesso que teve com a última proposta, o grupo optou novamente pelo financiamento colaborativo a fim de integrar o público com o material que está sendo produzido. Mediante a colaboração particular do leitor, este ainda pode vir a receber outros itens disponibilizados pelos autores, que vão desde ilustrações originais e pôsteres, até a cópia digital da revista. Para aqueles que tiverem interesse em conferir a nova empreitada do grupo Kaplan, o site do projeto pode ser conferido neste link.
 
O projeto teve início no começo deste mês de julho e vai ter conclusão no final de agosto. Enquanto isso, o site do grupo, Kaplan Project Comics, continuará a apresentar o quarto capítulo da sua série, que pode ser conferido aqui. Desde novembro de 2009 no ar, o site pode retirar quaisquer dúvidas e é um portal interessante para conferir o conteúdo da Kaplan. O grupo possui, ainda, uma página no Facebook, que pode ser conferida aqui