Por Gabriel Guimarães
Que os quadrinhos têm que lidar com o problema de constantemente renovar o interesse dos leitores veteranos e atrair novos para manter as vendas num nível economicamente suficiente, todos nós, leitores assíduos, sabemos muito bem. Mas a questão que levanto aqui é a seguinte: até que ponto vale a pena sobrepor uma classe de consumidor ao outro?
Muitos são os casos que criam esse debate, como "Homem-Aranha: Um Novo Dia", "Turma da Mônica Jovem", "Batman: Descanse em Paz", todas as séries da Marvel Millenium e da DC All-Star, entre muitos outros.
Pois bem, comecemos nossa arguição. Há casos e casos. Os editores, ainda mais aqueles que estão envolvidos com personagens de maior escalão (termo que hoje aparenta ser advindo apenas da popularidade do personagem no momento e não da qualidade de suas histórias recentes), precisam ter consciência da importância de suas decisões para com ambos os públicos de quadrinhos.
Joe Quesada e Dan Didio são dois pilares dessa questão. Ambos foram criticados e execrados pela comunidade de quadrinhos americanos, uma vez que suas atitudes ignoraram quase que inteiramente os leitores antigos dos personagens, no caso, respectivamente, Homem-Aranha e todo o universo DC. Quesada passou por cima de um número gigantesco de leitores para projetar seu projeto individual para o futuro do escalador de paredes, literalmente apagando quase 30 anos de histórias, desde o casamento de Peter Parker e Mary Jane, chegando ao nível de trazer de volta dos mortos (algo recorrente e negativo) o antigo melhor amigo de Peter, Harry Osborn. Alvo de críticas pesadas na época, hoje é possível ver a razão de sua ação. Como foi destacado em algumas matérias sobre essa reviravolta absurda e abusiva, esse movimento trouxe fatores positivos para os quadrinhos Marvel, pois renovou o público do Aranha que não tinha tido contato com as obras de Tom DeFalco e Roger Stern numa das épocas mais marcantes do 'amigão da vizinhança'. O que, para nós, foi uma atitude completamente manipuladora pela cabeça do editor que não liga para seu público, foi na verdade algo de bom para chamar mais pessoas ao nosso amado meio de comunicação. A maneira como foi feita é que chamou tanta atenção negativamente. Os editores precisam conhecer e reconhecer que dependem de ambos os típicos leitores de quadrinhos para se manterem bem no mercado. Quesada passou por cima dos leitores veteranos, o que acarretou toda a polêmica.
Do ponto de vista das pessoas que trabalham com marketing, toda polêmica é boa, uma vez que 'falem bem ou falem mal, mas falem de mim', e as críticas e tudo o mais foram as responsáveis por pôr na mídia propaganda gratuita das séries dos personagens em questão. Um que tem se aproveitado dessa mesma estratégia de marketing ultimamente é o mais renomado autor brasileiro, Maurício de Sousa, vide os dois principais casos: Turma da Mônica Jovem e o primeiro personagem supostamente gay da Turma da Tina. Ambas foram temas de discussão em jornais e revistas e o quadrinista não precisou pagar nada para ter tamanha divulgação do seu material. Aí você vê o porquê de ele se manter sempre bem no mercado quadrinístico brasileiro essas décadas todas, Maurício tem visão de empreendedor além de puro artista.
Gostaria de discorrer mais sobre o assunto, e possivelmente talvez o faça mais tarde, mas se fosse escrever tudo que gostaria não postaria nada no blog e esse tem sido um dos problemas pelo qual a postagem de matérias tem passado.
Para terminar, quero deixar minha impressão pessoal da mais noa estratégia para atrair novos leitores da Marvel lá fora. Será criada um nova linha de produção de séries de revistas com os principais personagens da editoracujas histórias ocorrerão desconexas da linha de funcionamento geral do universo Marvel chamada 'Astonishing' ('Fabulosos'), com histórias mais reduzidas e focadas com alguns artistas renomados como Adam Kubert. O problema é: qual percepção terão os personagens para se aproximar do público. Vi recentemente a imagem da edição dos X-men dessa série pelo traço de Kaare Andrews e só fiz me perguntar uma coisa: Eles vão tranformar os X-men em emos?? Aqui vai a imagem para vocês tirarem suas próprias conclusões, mas deixo aqui o seguinte pensamento e questionamento,: Até que ponto vale a pena mudar o modo de vermos os personagens só para atrair novos leitores? Onde foi parar a identidade dos personagens, que é o que eles têm de mais importante, convenhamos?
Sempre me lembro das palavras finais de Alan Moore na sua obra máxima Watchmen,: 'Deixo inteiramente em suas mãos'. Está nas nossas mãos, nas mãos do público, motrar que não topamos mais ver histórias de enredo fraco e puramente mercadológica. Queremos mais profunidade, queremos mais qualidade, queremos mais respeito com a capacidade intelectual do leitor.Torço muito para que a Heroic Age e o Brightest Day resgatem os bons sentimentos dos quadrinhos. A fórmula é simples (Lealdade + Novidade), basta que a sigamos à risca.